Os momentos de crise suscitam um redobrar de cuidados

Estamos mais uma vez diante de um quadro inesperado no mercado do leite, no qual fatores externos e não previsíveis alteraram o comportamento do mercado.

Este é o segundo momento “fora da curva” nos últimos três anos.

Em 2018, foi a greve dos caminhoneiros que gerou grandes prejuízos ao setor. Naquele ano, ocorreram perdas diretas na produção e consequências para o médio e longo prazos para a cadeia, visto que além de não conseguir captar e distribuir leite e lácteos, nas fazendas faltaram insumos aos animais comprometendo a alimentação do rebanho.

E agora, em 2020, o coronavírus traz danos à sociedade em nível mundial.

Para a pecuária leiteira, a demanda por lácteos foi prejudicada em função do fechamento de escolas, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço, tais como, restaurantes, lanchonetes, bares e hotéis (food service). O segmento mais afetado foi o de queijos.

Diante disso, o viés de alta perdeu força no campo e foram registradas quedas nos preços dos lácteos no mercado atacadista.

Figura 1. Preço médio do leite longa vida no atacado (média de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná) – em R$/litro.

Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Custo de produção

Para o produtor de leite o momento é de cuidado, há pressão sobre sua renda, e pressão nos custos de produção.

Depois de seis meses consecutivos de alta, os custos de produção caíram em abril. 

O indicador calculado pela Scot Consultoria que acumulava alta de 15,1% registrou recuo de 1,1% na comparação mensal. Mas ainda assim, os custos estão 12,9% maiores, na comparação com abril do ano passado. 

Quando analisamos a margem do produtor de leite, esta já vinha apertada nos últimos meses, com os custos de produção subindo em uma intensidade maior que as valorizações no preço do leite. 

Em março, a margem da atividade estava 48,3 pontos percentuais menor que igual período do ano passado. 

Em abril, os custos deram um alívio, mas a expectativa é de manutenção da queda do preço do leite ao produtor, o que mantém a margem da atividade leiteira pressionada. 

Figura 2. Preço do leite ao produtor versus custos de produção da pecuária leiteira, base 100= janeiro de 2016.

Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 

Expectativas 

Além das restrições de circulação da população por causa da quarentena e fechamento dos serviços de alimentação (food service), a queda na renda da população, devido às demissões e/ou reduções nos salários, em função da crise gerada pelo covid-19, deve continuar a fazer estrago no consumo doméstico, principalmente de produtos de maior valor agregado. 

A recente notícia de flexibilização no isolamento social em dez estados poderá aliviar para autônomos e dar fôlego para parte dos estabelecimentos comerciais. No entanto, teremos que avaliar a mudança de hábitos no consumo. 

Para o produtor, o momento é incerto, portanto, traçar caminhos ou soluções agora é difícil. Mas, é necessário acompanhar de perto o mercado reduzindo os custos e avaliando com cautela os investimentos. 

Neste momento é necessário avaliar os preços dos alimentos substitutos, fazer boas compras de insumos e realizar a secagem dos animais que estão com baixa produção visando equilibrar os custos. 

É necessário olhar com atenção dentro da porteira e identificar soluções.

Fonte: Scot Consultoria

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