Parceria de gigantes globais promete reduzir em até 40% a pegada de carbono do café conilon

Yara, JDE Peet’s e ofi lançam projeto inédito para descarbonizar a produção cafeeira brasileira com uso de fertilizantes de baixa emissão, manejo eficiente e rastreabilidade, em mais de 20 propriedades no Espírito Santo e sul da Bahia

Em um movimento considerado histórico para a cadeia cafeeira brasileira, três gigantes globais — Yara, JDE Peet’s e ofi— firmaram uma parceria inédita com o objetivo de descarbonizar a produção de café conilon no Brasil. O anúncio foi feito durante a Semana Internacional do Café 2025, em Belo Horizonte, e marca o início de um projeto piloto de duas safras, com início em 2025 e conclusão prevista para 2027.

A iniciativa será implantada em mais de 20 propriedades rurais localizadas no norte do Espírito Santo e no sul da Bahia, regiões estratégicas para a produção do conilon, uma das variedades mais promissoras em produtividade e exportação.

Alvo ambicioso da Yara: café com até 40% menos emissões

O objetivo principal do projeto é promover a redução de até 40% da pegada de carbono do café verde, utilizando fertilizantes com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE), estratégias avançadas de fertirrigação, capacitação técnica e digitalização do processo produtivo.

Segundo Daiane Corsini, Especialista em Cadeia de Alimentos e Sustentabilidade da Yara, o projeto nasceu ainda em 2024, durante prospecções realizadas na SIC, e foi amadurecido ao longo do último ano. “O ponto central é oferecer soluções concretas ao produtor que aumentem a produtividade e, ao mesmo tempo, promovam uma agricultura mais sustentável, com dados rastreáveis sobre emissões e eficiência de insumos”, destacou em entrevista exclusiva ao Compre Rural.

Como funciona o projeto na prática

Cada empresa desempenha um papel fundamental:

  • Yara: fornece fertilizantes de baixa emissão da linha Yara Climate Choice™, capacitação técnica sobre nutrição de plantas e uso eficiente da fertirrigação;
  • JDE Peet’s: financia parte dos insumos e atua no comprometimento com a rastreabilidade e qualidade do conilon brasileiro;
  • ofi: realiza treinamentos sobre boas práticas agrícolas, qualidade da bebida e uso responsável de defensivos.

Além disso, o produtor participa de forma ativa, cedendo áreas para testes comparativos. As propriedades serão divididas em dois talhões: um conduzido com o programa nutricional da Yara e outro com a prática convencional do produtor. Essa estrutura permitirá a mensuração dos resultados com base em indicadores reais de produtividade e emissão de GEE, usando plataformas como a Cool Farm Tool e a ferramenta digital Mayra, que orienta a adubação com base em análise de solo e expectativa de produtividade.

Daiane Corsini, Especialista em Cadeia de Alimentos e Sustentabilidade da Yara

Resultados esperados e ganhos para o produtor

Embora os dados consolidados só devam ser obtidos a partir de 2026, a Yara estima que o uso das tecnologias adotadas pode resultar em ganhos médios de até 7,6 sacas por hectare. Essa estimativa é baseada em lavouras demonstrativas de 2018 a 2024. Segundo Corsini, o diferencial está na eficiência no uso de nutrientes, com recomendações específicas para cada tipo de solo, o que permite aplicar menos em algumas áreas e mais onde é necessário, mantendo o equilíbrio e a sustentabilidade da lavoura.

O projeto também busca responder a demandas internacionais, especialmente da União Europeia, que já exige a comprovação de práticas sustentáveis na produção dos alimentos consumidos no bloco. “A cadeia do café precisa se preparar para um consumidor que cobra mais transparência e responsabilidade ambiental”, afirma a especialista.

Rastreabilidade, transparência e viabilidade

Todo o ciclo produtivo será monitorado por técnicos dedicados e registrados em plataformas digitais, promovendo rastreabilidade completa das operações, insumos aplicados, produtividade por área e eficiência de fertilizantes — inclusive com cálculo de quantos quilos de nitrogênio são necessários para produzir uma saca de café.

Um dos grandes diferenciais é que o conilon brasileiro será, pela primeira vez, inserido em um projeto robusto de descarbonização, algo até então restrito ao arábica em iniciativas como a da Yara com a Cooxupé. A expectativa é que as primeiras sacas com rastreabilidade de carbono do conilon sejam colhidas já em 2026, posicionando o Brasil na vanguarda da produção de café de baixo carbono.

O que dizem os líderes da parceria

Paulo Yvan, diretor da Yara, reforça que o acordo é parte da estratégia da empresa rumo à neutralidade climática até 2050. “Esse movimento responde ao apetite do cafeicultor brasileiro, que busca produtividade com rentabilidade, aproveitando o ativo ambiental como diferencial de mercado.”

Bruno Ribeiro, da JDE, destaca que “a união com a Yara e a ofi mostra o comprometimento da indústria em garantir o futuro do café, com práticas que respeitam o meio ambiente e valorizam o produtor”.

Para Manoela Dueñas, gerente de Sustentabilidade da Ofi, o projeto representa “uma oportunidade de gerar transformações reais na cadeia cafeeira, aliando sustentabilidade, qualidade e impacto positivo”.

A parceria entre Yara, JDE e ofi consolida uma nova era para o café conilon brasileiro, em que tecnologia, sustentabilidade e mercado caminham juntos. Em um setor competitivo e cada vez mais regulado, o projeto não só prepara os produtores para as exigências internacionais como também oferece maior produtividade e retorno econômico, fortalecendo o Brasil como protagonista da cafeicultura global.

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