
Claudecy Oliveira Lemes, conhecido como o “maior desmatador do Pantanal”, pecuarista vende R$ 9 milhões em gado e teve medidas cautelares flexibilizadas, além de receber permissão para limpeza de área embargada na Fazenda Santa Lúcia, em Barão de Melgaço (MT)
O juiz Emerson Luís Pereira Cajango, da Vara Especializada do Meio Ambiente de Cuiabá, autorizou a limpeza e o manejo em área embargada da Fazenda Santa Lúcia, de propriedade do pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, apontado como um dos maiores desmatadores do Pantanal. A decisão foi proferida no dia 29 de setembro de 2025, dentro de um processo que investiga ilícitos ambientais cometidos na região.
Pecuarista vende R$ 9 milhões em gado
Segundo a decisão, Claudecy Lemes vendeu cerca de R$ 9 milhões em cabeças de gado para terceiros, valor utilizado para custear despesas do processo e obras emergenciais na fazenda. A Justiça autorizou que R$ 300 mil fossem pagos à empresa Mediape – Mediação, Arbitragem e Recuperação de Empresas e Perícias Ltda., nomeada administradora judicial da área embargada, pelos serviços prestados, além de R$ 19,9 mil destinados à execução de obras estruturais e de prevenção a incêndios.
A Mediape havia solicitado permissão para limpar trechos do imóvel com o objetivo de permitir o deslocamento do rebanho, além da liberação de valores para melhorias na infraestrutura e pagamento de honorários. O Ministério Público do Estado (MPMT) se manifestou a favor da medida, desde que fosse acompanhada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema/MT), avaliando que a limpeza seria menos danosa do que manter os animais em áreas de regeneração ambiental.
Decisão judicial e mudanças nas medidas cautelares
Com base no parecer técnico e na manifestação do MPMT, o juiz homologou o plano de manejo e substituiu as medidas cautelares anteriores, entre elas a apreensão do passaporte do fazendeiro, que agora precisa apenas comunicar viagens ao exterior que ultrapassem 30 dias. A empresa Mediape permanece como administradora judicial até a retirada total do gado da propriedade.
O magistrado determinou ainda que a Sema seja comunicada para acompanhar e fiscalizar as ações de limpeza e manejo, garantindo que o processo ocorra dentro das normas ambientais vigentes.
Condenação por crimes ambientais cometidos pelo pecuarista Claudecy Lemes
O mesmo juiz já havia condenado Claudecy Lemes por desmatamento de quase 4 mil hectares do bioma Pantanal entre 2013 e 2018, na Fazenda Comando Diesel, também em Barão de Melgaço. Lemes foi sentenciado a 2 anos e 4 meses de detenção, pena convertida em serviços comunitários e pagamento de R$ 100 mil a entidades ambientais, além de indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos ao Fundo Estadual do Meio Ambiente (FEMA/MT).

De acordo com laudos da Sema e da Politec, o fazendeiro promoveu supressão de vegetação nativa sem autorização ambiental e deixou de cumprir obrigações de regeneração natural da área degradada. O Ministério Público sustentou que as ações violaram áreas de preservação permanente e ecossistemas de alto valor ecológico.
O histórico do “maior desmatador do Pantanal”
Claudecy Oliveira Lemes, dono de 11 fazendas e 60 mil cabeças de gado distribuídas entre Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger, ficou nacionalmente conhecido ao ser acusado de usar o “Agente Laranja” – produto químico proibido – para desmatar 81 mil hectares do Pantanal. Segundo investigações, ele gastou cerca de R$ 25 milhões nas operações ilegais, afetando áreas de preservação permanente e habitats de espécies nativas.
As autuações somam multas superiores a R$ 2 bilhões, valor que o governo de Mato Grosso tenta reverter em indenizações por danos ambientais, incluindo processos civis e penais. O caso é considerado um dos maiores escândalos ambientais da história recente do Pantanal, envolvendo extensas áreas de pecuária e um dos maiores patrimônios naturais do país.
Um bioma sob pressão
O Pantanal mato-grossense, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade, enfrenta crescente pressão de atividades agropecuárias e queimadas ilegais. Estima-se que cerca de 17% de sua cobertura vegetal original já tenha sido perdida, segundo dados do MapBiomas. Casos como o de Claudecy Lemes expõem o desafio de conciliar produção pecuária e preservação ambiental em uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.