Pecuaristas dos EUA dizem que carne bovina brasileira importada “engana os consumidores”

Pecuaristas norte-americanos pressionam governo por mudanças nas regras de inspeção e rotulagem da carne bovina brasileira importada e acusam falhas que, segundo eles, confundem o consumidor e prejudicam a pecuária local

A entrada crescente de carne bovina brasileira importada nos Estados Unidos voltou ao centro do debate no setor pecuário norte-americano. Lideranças rurais e representantes da indústria afirmam que o atual modelo de inspeção e rotulagem permite que a carne estrangeira chegue ao mercado com falhas de fiscalização e informações pouco claras sobre a origem, o que, na avaliação deles, acaba “enganando os consumidores” e afetando a competitividade dos produtores locais, afirmou em artigo publicado no portal da revista Beef, o jornalista Clint Peck, um experiente analista do setor.

As críticas, ainda segundo ele, ganharam força a partir de um movimento organizado por pecuaristas dos EUA, que defendem uma reforma imediata no sistema de inspeção federal da carne. O grupo argumenta que, embora a legislação americana determine critérios rigorosos, na prática nem toda a carne importada passa por reinspeção física completa ao entrar no país, como prevê a lei.

Campanha por mais transparência

Entre os principais porta-vozes do movimento está o pecuarista Patrick Robinette, da Carolina do Norte, produtor de gado terminado a pasto e também proprietário de uma planta frigorífica inspecionada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Segundo ele, o problema não é a importação em si, mas a forma como ela ocorre.

De acordo com Robinette, a legislação americana é clara ao exigir que 100% da carne bovina importada seja reinspecionada fisicamente na chegada ao território dos EUA, mas isso não estaria sendo cumprido integralmente. Para o produtor, a adoção de sistemas baseados em análise de risco, em vez da inspeção visual e física total, abriu brechas que fragilizam o controle sanitário e reduzem a transparência para o consumidor final .

“O consumidor vê um selo oficial e acredita que está comprando carne americana, quando, na verdade, pode se tratar de um produto importado”, é o argumento central defendido pelos pecuaristas envolvidos na campanha.

O ponto mais sensível: a rotulagem

Outro foco de insatisfação está nas regras de rotulagem. Atualmente, produtos cárneos importados que passam por algum tipo de processamento nos Estados Unidos podem ser rotulados como ‘Produto dos EUA’, desde que sofram o que a legislação chama de “transformação substancial”.

Na visão das lideranças do movimento, essa interpretação é ampla demais e desvirtua decisões judiciais históricas que definem transformação substancial como uma mudança real de nome, uso ou natureza do produto. Para eles, a maior parte da carne bovina importada não deveria receber o rótulo de produto americano, mesmo após cortes, moagem ou reembalagem.

carne bovina EUA
Foto: Clint Peck/BeefMagazine

Além disso, o selo obrigatório “Inspecionado e Aprovado pelos EUA” também é alvo de críticas. Segundo os pecuaristas, o carimbo induz o consumidor a acreditar que a carne é de origem norte-americana, quando, na realidade, apenas indica que o produto passou por algum nível de inspeção sanitária, e não que foi produzido no país.

Impactos da carne bovina brasileira no mercado e na confiança do consumidor

As lideranças afirmam que a falta de clareza sobre a origem da carne pressiona os preços pagos ao pecuarista americano, amplia disparidades no mercado e compromete a confiança do consumidor na carne bovina como um todo. O argumento é que, ao não distinguir de forma explícita a carne importada da produzida internamente, o sistema acaba nivelando produtos com custos, exigências e padrões distintos.

Apesar do tom crítico, os organizadores do movimento reforçam que não se trata de uma ação protecionista. O grupo afirma não ser contra a importação de carne, mas defende que as regras existentes sejam cumpridas integralmente, com inspeção física total na entrada do produto e rotulagem clara e inequívoca quanto à origem.

Pressão política e próximos passos

A mobilização já começa a ganhar atenção em Washington. Parlamentares de diferentes partidos demonstraram interesse em aprofundar a análise sobre decisões administrativas adotadas ao longo das últimas décadas, especialmente aquelas que flexibilizaram os critérios de reinspeção da carne importada.

A expectativa do grupo é que uma eventual revisão das normas pelo USDA e pelo Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar (FSIS) resulte em mais transparência, maior proteção ao consumidor e condições mais equilibradas de concorrência para a pecuária dos Estados Unidos.

As informações fazem parte de uma análise publicada pela Beef Magazine, que acompanha de perto os desdobramentos do debate sobre inspeção, rotulagem e importação de carne bovina no mercado norte-americano .

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