Plantio sob instabilidade climática: como o excesso ou a falta de chuvas afetam a germinação da soja

Irregularidade das chuvas preocupa produtores e exige manejo técnico para garantir o bom desenvolvimento inicial das lavouras.

A instabilidade climática tem marcado o início da safra 2025/26 e imposto desafios significativos aos
produtores de soja em diferentes regiões do país. Chuvas intensas e mal distribuídas, alternadas com
períodos de seca e temperaturas abaixo da média, vêm alongando a janela de plantio e exigindo dos
agricultores estratégias técnicas cada vez mais precisas para garantir o bom estabelecimento das
lavouras.

De acordo com Ricardo Allebrandt, Coordenador Técnico de Mercado Latam na Nitro, empresa
brasileira referência em nutrição e biológicos para o agro, essa irregularidade tem afetado tanto o
calendário de semeadura quanto o desempenho inicial das plantas. “As precipitações frequentes
durante os meses de setembro e outubro atrasaram a colheita de trigo em diversas áreas,
retardando o início do plantio da soja. Já nas lavouras onde o plantio foi realizado, as baixas
temperaturas e o excesso de umidade vêm comprometendo o desenvolvimento inicial e exigindo
atenção especial com o manejo de recuperação das áreas afetadas”
, explica o especialista.

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Esses extremos climáticos, seja o excesso ou a falta de chuva, impactam diretamente a germinação.
Quando há precipitação acima do ideal, o solo tende a ficar encharcado, reduzindo a presença de
oxigênio e dificultando a respiração das sementes. Nessa condição, a germinação é retardada e o
vigor das plantas diminui, o que favorece o aparecimento de patógenos como Phytophthora sojae e
Pythium spp., causadores de podridões radiculares e falhas de estande. Além disso, chuvas muito
intensas em solos expostos podem provocar o selamento superficial: “o impacto das gotas quebra os
agregados do solo e forma uma crosta endurecida após a secagem, que aumenta a resistência à
emergência das plântulas e as faz gastar mais energia para romper o solo”
, detalha Allebrandt.

Na outra ponta, a falta de chuvas ou o atraso nas precipitações também causa sérios prejuízos. A
germinação da soja depende de uma umidade mínima e constante, já que a semente precisa
absorver cerca de 50% do seu peso em água para ativar seu metabolismo e iniciar o
desenvolvimento radicular. “Em solos secos, a absorção de água ocorre de forma irregular,
resultando em germinação desuniforme, morte de plântulas e baixo vigor. Isso se reflete em
lavouras desiguais e menos produtivas”
, alerta o especialista. A escassez hídrica ainda reduz a
atividade microbiana e atrasa a nodulação, comprometendo a fixação biológica do nitrogênio,
fundamental nas fases iniciais do cultivo.

Diante desse cenário, o planejamento do plantio dentro da janela ideal torna-se uma das principais
ferramentas de manejo. Segundo Allebrandt, a soja apresenta melhor desempenho quando
semeada em condições de equilíbrio entre umidade, temperatura e fotoperíodo. “A janela ideal
varia conforme a região, mas, em geral, ocorre quando o solo já tem umidade suficiente, a
temperatura média está entre 25°C e 30°C, e o risco de veranicos é baixo. Plantios muito precoces,
antes da regularização das chuvas, aumentam o risco de falhas de emergência, enquanto os tardios
expõem a cultura a altas temperaturas e déficit hídrico na fase reprodutiva”
, orienta.

Outro fator determinante para enfrentar os desafios climáticos é a qualidade fisiológica da semente.
O vigor está diretamente relacionado à velocidade e uniformidade da germinação, refletindo na
formação do sistema radicular e na capacidade da planta de absorver água e nutrientes. “Cada
ponto percentual de vigor pode representar um ganho médio de 28 quilos de soja por hectare”
,
explica Ricardo, com base em estudos da Universidade Federal de Pelotas (RS). Nesta situação, os
tratamentos fisiológicos, nutricionais e biológicos são essenciais para que ela expresse todo o seu
potencial, mesmo em condições adversas.

Entre as tecnologias mais eficazes estão os extratos de algas, aminoácidos e compostos bioativos,
que estimulam a quebra de reservas e a produção de hormônios naturais, além de possuírem efeito
antioxidante, fundamental para reduzir os danos causados por estresses térmicos e hídricos. Já os
nutrientes Molibdênio, Cobalto e Níquel são indispensáveis à fixação biológica do nitrogênio,
processo que garante o bom desenvolvimento inicial da soja. “Os biológicos também ganham
destaque. Microrganismos como o Bacillus aryabhattai têm se mostrado aliados importantes na
mitigação de estresses hídricos, por produzirem um biofilme natural na rizosfera que ajuda a reter
água e mantém as plantas hidratadas em períodos de seca”
, acrescenta.

De forma complementar, o manejo do solo exerce papel decisivo na capacidade de resposta das
lavouras frente às oscilações climáticas. Solos bem estruturados, com boa infiltração de água, correção de acidez e presença de palhada reduzem tanto o risco de encharcamento quanto o de desidratação. Além disso, o acompanhamento das previsões meteorológicas e dos dados climáticos históricos deve ser incorporado ao planejamento agrícola.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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