Poeira lunar: como ela poder ser a ‘solução’ para agricultura espacial

A NASA destina R$ 11 milhões para estudos focados no desenvolvimento de sistemas vegetais na superfície lunar.

Explorar a ideia de “agricultura espacial” envolve criar um sistema de cultivo e produção de alimentos diretamente em estações espaciais, conforme explicado pelo ex-astronauta Mike Massimino. Esta prática representa um passo crucial para o futuro da exploração espacial, especialmente em missões de longa duração.

Bruce Bugbee, um botânico da Universidade Estadual de Utah, destaca a importância de garantir que os astronautas possam consumir alimentos produzidos localmente durante as missões espaciais. Isso implica na necessidade de desenvolver métodos para cultivar alimentos em outros planetas.

Embora desafiadora, a implementação da agricultura espacial é viável. Os cosmonautas russos foram os pioneiros ao consumir alimentos provenientes de experimentos com culturas espaciais em 2003. Em seguida, astronautas americanos tiveram a experiência de ingerir a primeira alface cultivada no espaço.

Pesquisadores da NASA conduziram estudos na Estação Espacial Internacional entre 2014 e 2016, concluindo que a alface cultivada no espaço é tão segura e nutritiva quanto aquela cultivada na Terra. Em um artigo publicado na revista Frontier in Plant Science, afirmaram que a alface espacial apresenta valor nutricional praticamente idêntico ao da alface terrestre, além das comunidades microbianas específicas.

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 Foto: Universidade do Arizona

Fazendas espaciais

A prática agrícola no espaço apresenta-se como uma alternativa mais acessível e econômica para suprir as necessidades alimentares dos astronautas em órbita. A produção alimentícia proveniente dessas fazendas pode eventualmente atender a uma parcela significativa, correspondendo a aproximadamente um quarto ou até metade das exigências diárias da tripulação.

Desafios

Contudo, a agricultura no espaço enfrenta uma série de obstáculos. De maneira geral, as dificuldades estão relacionadas à obtenção adequada de água e nutrientes para o crescimento dos alimentos, considerando o ambiente espacial desprovido de luz e atmosfera.

“A microgravidade impede a ocorrência natural de convecção, e a água e o ar não se misturam eficientemente”, afirmaram Christina Khodadad e Gioia Massa, do Centro Espacial Kennedy. “As raízes das plantas necessitam de água e oxigênio, sendo desafiador manter os níveis adequados. Realizar isso de maneira sustentável, reutilizável, e com baixo consumo de energia, massa, volume e esforço da equipe é ainda mais complexo”, concluíram.

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Foto: Divulgação

Progressos

Há três décadas, a equipe liderada por Bugbee colabora com a NASA no desenvolvimento de sistemas fechados para o cultivo de plantas na Estação Espacial Internacional (ISS) e em missões a bordo de ônibus espaciais.

Enquanto isso, na Alemanha, engenheiros espaciais estão trabalhando na construção de um satélite destinado a cultivar tomates no espaço. Este satélite deverá orbitar a Terra, germinando as sementes internamente para produzir uma colheita de tomates no ambiente extraterrestre.

Durante esta semana, a Administração Nacional Aeronáutica e Espacial Americana (NASA) divulgou recentes iniciativas que integrarão o programa de biologia espacial, denominado Space Biology. O propósito central é realizar pesquisas que explorem de que maneira plantas, micróbios e animais se ajustam ou se adaptam às condições da vida no espaço.

Um total de onze subsídios e colaborações foram oficialmente concedidos, todos voltados para a compreensão dos impactos do contato com a poeira lunar, conhecida como regolito, no desenvolvimento dos sistemas vegetais e animais.

A NASA está otimista quanto à possibilidade de utilizar o regolito lunar como um substrato viável para o crescimento de plantas destinadas à produção de alimentos, como grãos, tomates e batatas. Em virtude disso, foi destinado um investimento significativo de US$ 2.3 milhões, equivalente a R$ 11 milhões na cotação atual, para apoiar integralmente os projetos programados para o período de 2024 a 2027.

O Brasil também quer plantar na lua

Os Estados Unidos não estão sozinhos na exploração das potencialidades da agricultura no espaço.

Recentemente, a parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Espacial Brasileira (AEB) ganhou destaque ao oficializar o protocolo de intenções para a participação do Brasil no Programa Artemis da NASA. Esse acordo, que foi inicialmente estabelecido em setembro de 2022, posiciona o país como um dos 27 signatários envolvidos na colaboração para estabelecer uma base lunar e preparar o terreno para futuras missões a Marte.

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Foto: Divulgação/Kraft Heinz

Em comunicado, a Embrapa assegura que contribuirá com dados, tecnologias e produtos para enfrentar desafios não apenas no âmbito espacial, mas também terrestre, como os impactos das mudanças climáticas e a crescente necessidade de novos sistemas de produção, como as fazendas verticais.

Essa aliança é reconhecida como um marco significativo tanto para a pesquisa agrícola quanto para os avanços no espaço, abrindo horizontes inexplorados para ambas as áreas.

A pesquisadora Alessandra Fávero ressalta: “A proposta é progredir na adaptação de culturas, desde o cultivo em ambientes fechados até a melhoria da qualidade nutricional dos alimentos, proporcionando benefícios e inovações que ultrapassam as fronteiras do cultivo espacial”.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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