Por que os cavalos devem ser casqueados

Na zootecnia equina, poucos elementos exercem influência tão direta sobre a funcionalidade e a longevidade do animal quanto os cascos

Muitos já diziam: “Cavalo começa com C de casco por um motivo importante!” Muito além de uma estrutura córnea terminal, o casco integra o sistema locomotor e circulatório periférico, atuando como elo fundamental na biomecânica do movimento e no suporte fisiológico da massa corporal.

Sua conformidade anatômica e integridade estrutural são essenciais para garantir homeostase locomotora, desempenho atlético, equilíbrio postural e prevenção de patologias ortopédicas. Nesse contexto, o casqueamento profilático e corretivo desponta como um dos manejos técnicos mais relevantes dentro da cadeia produtiva equina.

A negligência nesse aspecto compromete não apenas o bem-estar do animal, mas a eficiência zootécnica do sistema de produção, elevando índices de descarte, tempo de recuperação e gastos com terapias corretivas. Este artigo apresenta uma abordagem técnica sobre a importância do casqueamento, seus fundamentos biomecânicos, periodicidade recomendada, consequências da omissão e diretrizes de boas práticas no manejo podal.

Fundamentos anatômicos e biomecânicos do casco

O casco é composto por diversas estruturas especializadas: muralha, sola, linha branca, ranilha, lâmina córnea e tecidos dérmicos adjacentes. Além da função de proteção, o casco possui papel essencial na:

  • Dissipação de energia cinética durante o impacto com o solo
  • Estabilização das articulações distais (interfalangianas e metacarpo/metatarso-falângicas)
  • Atuação como bomba auxiliar de retorno venoso distal
  • Preservação do alinhamento axial dos membros

A integridade geométrica dessas estruturas é vital para manter a simetria de cargas e o alinhamento biomecânico dos aprumos.

O crescimento contínuo do casco e a necessidade de intervenção mecânica

Por ser um tecido queratinoso altamente vascularizado em sua origem, o casco cresce de forma contínua, com uma taxa média entre 8 e 10 milímetros por mês, dependendo de variáveis como genética, nutrição, idade e tipo de piso.

Esse crescimento, quando não submetido a desgaste natural proporcional ou manejo técnico, leva a:

  • Desbalanços podais
  • Alterações angulares (valgismo, varismo, distocia axial)
  • Hiperextensão dos tendões flexores
  • Pressão excessiva sobre a linha branca e ranilha

O casqueamento atua como instrumento de contenção e correção dessas alterações, promovendo o reequilíbrio biomecânico e prevenindo sobrecargas articulares e tendíneas.

Patologias associadas à ausência ou má execução do casqueamento

A ausência de casqueamento ou sua realização incorreta favorece o surgimento de uma série de enfermidades locomotoras e infecciosas. As mais frequentes incluem:

  • Laminite crônica ou subclínica
  • Fissuras longitudinais e transversais da muralha
  • Abcessos subsolares
  • Desvio de quartelas e aprumos compensatórios
  • Infecções fúngicas ou bacterianas secundárias à má conformação podal

Segundo dados do setor, mais de 70% dos casos de claudicação observados em equinos esportivos ou de tração derivam de alterações estruturais no casco ou da ausência de casqueamento profilático.

Periodicidade técnica recomendada para casqueamento

Embora o intervalo padrão varie entre 6 a 8 semanas, a periodicidade deve ser ajustada conforme os seguintes fatores:

  • Tipo de solo (abrasivo, arenoso, úmido ou pedregoso)
  • Nível de atividade física do animal
  • Predisposições anatômicas e genéticas
  • Clima da região e índices de umidade
  • Condições sanitárias e frequência de exposição à lama ou umidade constante

Um acompanhamento individualizado e criterioso deve ser estabelecido com base em inspeções regulares, preferencialmente conduzidas por um casqueador ou ferrador técnico habilitado.

Casqueamento e ferrageamento: distinções técnicas e critérios de aplicação

O casqueamento é um manejo mecânico e anatômico de correção e manutenção do casco natural. Já o ferrageamento envolve a aplicação de estruturas metálicas ou compostas (ferraduras), com a finalidade de proteção, correção biomecânica ou compensação ortopédica.

Critérios para aplicação de ferraduras incluem:

  • Atividades com alto impacto ou carga repetitiva
  • Patologias podais com perda de estrutura ou sensibilidade exacerbada
  • Conformações defeituosas de origem genética ou traumática
  • Indicação veterinária ortopédica específica

Importante destacar que nem todos os cavalos necessitam de ferraduras, mas todos exigem casqueamento regular.

Qualificação técnica: por que confiar o manejo podal a profissionais especializados

O casco é uma estrutura tridimensional que exige conhecimento aprofundado em anatomia equina, biomecânica e avaliação postural. O casqueamento mal executado pode:

  • Comprometer a estabilidade dos aprumos
  • Induzir dor, inflamação e claudicação
  • Alterar permanentemente o eixo mecânico dos membros
  • Potencializar lesões tendíneas ou articulares

O profissional capacitado utiliza parâmetros técnicos — como eixo digital, centro de carga e ângulos de aprumo — para executar cortes precisos, seguros e individualizados.

Diretrizes técnicas de boas práticas no manejo dos cascos

  • Inspeção diária visual e tátil dos cascos
  • Higienização periódica com ferramentas adequadas
  • Ambiente seco e arejado para repouso do animal
  • Registro fotográfico e documental do histórico de casqueamentos
  • Planejamento estratégico anual de intervenções profiláticas

A adoção sistematizada dessas práticas minimiza riscos ortopédicos e promove longevidade funcional do equino.

A manutenção da conformidade podal por meio do casqueamento não é uma medida estética ou acessória, mas uma intervenção zootécnica de base, determinante para a saúde, produtividade e sustentabilidade da criação equina.

Ignorar a importância desse manejo significa comprometer a integridade locomotora do animal e colocar em risco a viabilidade econômica do sistema produtivo. O casqueamento deve ser incorporado ao protocolo técnico da propriedade, com acompanhamento especializado e foco preventivo.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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