
Deputado gaúcho defende descentralizar o manejo da espécie invasora e remunerar caçadores de javali credenciados para evitar uma crise sanitária que pode comprometer o agro brasileiro.
A presença descontrolada de javalis e javaporcos nas áreas rurais brasileiras voltou a acender um alerta no Congresso Nacional e entre as entidades ligadas ao agronegócio. Considerada uma das maiores pragas invasoras do país, a espécie causa destruição em lavouras, ameaça a biodiversidade e coloca em risco a sanidade dos rebanhos.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), coordenador institucional da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), tem sido uma das vozes mais firmes em defesa de mudanças na legislação. Em entrevista ao Compre Rural, ele destacou o PL 4253/2025, mostrando que é preciso retirar o controle sobre o javali das mãos do Ibama e descentralizar o manejo para estados e municípios, garantindo mais agilidade nas ações. Além disso, defendeu a bonificação de caçadores credenciados, transformando o combate à espécie em uma política pública eficiente.
A ameaça crescente dos javalis
Estudos apontam que o Brasil precisará abater mais de um milhão de javalis em 2025 para reduzir os danos já em curso. Somente em 2024, foram eliminados cerca de 500 mil animais, mas o número foi insuficiente para frear o avanço populacional. Segundo a Associação Brasileira de Caçadores Aqui Tem Javali, apenas em 2024 foram eliminados cerca de 500 mil animais, mas o número não foi suficiente para frear o avanço da população, que segue crescendo de forma descontrolada.
Esses animais são responsáveis por prejuízos de até 40% em lavouras de milho e soja em algumas regiões, além de comprometerem nascentes, degradarem o solo e ameaçarem espécies nativas. O risco sanitário é ainda mais grave: o javali pode transmitir peste suína clássica e febre aftosa, colocando em risco o status sanitário do Brasil como país livre da doença e, consequentemente, a competitividade do agro brasileiro nos mercados internacionais.
Javali traz um risco sanitário por transmitir doenças graves como peste suína clássica e febre aftosa, podendo fazer o país perder o status “Livre de Aftosa”
Para o presidente da Associação Brasileira de Caçadores Aqui Tem Javali, Rafael Salerno, a situação se tornou uma verdadeira “bomba-relógio contra o agro brasileiro”. Ele defende que é um erro comparar o controle de javalis com a caça ilegal de animais da fauna nativa, como capivaras ou onças. “Graças à incompetência e complacência das autoridades brasileiras tornou-se impossível extinguir esses animais. O esforço deve ser direcionado a reduzir ao máximo os danos, como já ocorre em outros países”, afirmou.
Descentralização do controle de javalis
Para Alceu Moreira, a centralização do manejo pelo Ibama é um entrave. Segundo ele, quem vive nos municípios conhece melhor a realidade local e deve ter autonomia para agir.
“Não é correto imaginar que as pessoas que vivem nos municípios, que são autoridades constituídas, sejam menos responsáveis que as pessoas do Ibama. Elas têm meios locais de fazer o controle. O que precisamos é de regulamentação nacional que dê a estados e municípios liberdade para agir conforme as necessidades sanitárias e populacionais”, afirmou o parlamentar.

Bonificação de caçadores
Outra proposta defendida pelo deputado é a criação de um sistema de remuneração para caçadores credenciados. A ideia, já adotada em países como Alemanha e Estados Unidos, busca dar escala ao combate.
“Se o javali é uma praga que ameaça a economia e a saúde pública, o controle deveria ser um dever do Estado, assim como ocorre no combate à dengue. Mas, se o Estado não está disposto a assumir sozinho essa tarefa, precisa remunerar quem faz. Só com incentivos será possível garantir um controle efetivo e em larga escala”, explicou.
Aproveitamento da carne
O parlamentar também destacou que, com fiscalização adequada, a carne de javali não deveria ser descartada. Segundo ele, abater e não aproveitar uma proteína de qualidade seria um desperdício diante da demanda alimentar no país.
“Se o javali abatido estiver saudável, basta uma inspeção veterinária bem feita. Essa carne pode ser aproveitada por frigoríficos regionais e destinada ao consumo humano. É um recurso que não deve ser tratado como inservível, especialmente em um país com tantas pessoas precisando de proteína”, defendeu.
Resistência e entraves ideológicos
Apesar da urgência do tema, Moreira reconhece que há uma forte resistência ideológica em torno da caça. Segundo ele, setores contrários ao uso de armas e à atividade dos caçadores dificultam o avanço da regulamentação.
“Existe a desconfiança de que, autorizando a caça do javali, o caçador também vá caçar outras espécies. Isso é um absurdo. O país não pode ser regulado pela desconfiança. O caçador de javali é disciplinado, está em associações e não quer perder seus direitos. Ignorar a gravidade da situação por preconceito ideológico é uma irresponsabilidade que pode colocar toda a economia em risco”, concluiu.
O javali já não é apenas um problema ambiental: tornou-se uma bomba-relógio para o agro brasileiro, ameaçando a segurança alimentar, a produtividade e a sanidade dos rebanhos. A proposta defendida pelo deputado Alceu Moreira aponta para uma nova política de manejo baseada na descentralização, na bonificação de caçadores e no aproveitamento econômico da carne.
A pressão de parlamentares e entidades ligadas ao campo indica que o Congresso deve acelerar a tramitação dos projetos em discussão, sob pena de o país enfrentar uma crise sanitária de grandes proporções.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.