Preço da carne subiria no longo prazo com limite à exportação

Pimentel explicou que a medida, em um primeiro momento, faria o preço cair, mas haveria um desestímulo ao produtor, fazendo com que “produza menos”.

O preço da carne bovina subiria no longo prazo no Brasil caso houvesse um bloqueio de exportação, como citado pelo candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirma a CEO da consultoria Agrifatto Lygia Pimentel.

Em um evento realizado em Taboão da Serra (SP) no sábado (10), Lula afirmou que que, caso eleito, pretende “discutir” a política de exportação de carnes do Brasil, a fim diminuir preços.

“O que eu quero é que vocês possam entrar no açougue e comprar carne. Por isso nós vamos ter que discutir o preço da carne nesse país. Nós vamos discutir se vai continuar só exportando ou se vai deixar um pouco pra nós comermos”, afirmou o ex-presidente.

Em entrevista à CNN neste domingo (11), Pimentel explicou que a medida, em um primeiro momento, faria o preço cair, mas haveria um desestímulo ao produtor, fazendo com que “produza menos e gerando um efeito inverso lá na frente, de alta de preços, e de forma muito mais difícil de lidar, porque a recuperação da produção demoraria ainda mais do que se deixasse os preços oscilando livremente”.

“Primeiro ponto é que, para abaixarmos preço da carne, não adianta aumentar oferta de forma imediata. Se bloquear exportações, os preços cairiam por 2, 3, 4 meses, mas o pecuarista não se sentiria estimulado a produzir porque o custo está alto e deixaria de investir, com essa queda levando à queda produtiva”, avalia.

Segundo Pimentel, o comportamento dos preços está ligado ao chamado ciclo pecuário. Nesses casos, uma alta de preços estimula a produção e leva ao esforço de aumento do rebanho.

Com uma oferta maior, os preços recuam ou ficam inferiores ao custo de produção, e então ocorre o movimento inverso, com o rebanho e a produção caindo e os valores da carne subindo.

Foi esse movimento que ocorreu entre 2019 e 2021, em uma fase de alta de ciclo com produção menor que coincidiu com uma demanda maior na China, cujo rebanho bovino foi impactado pela peste suína africana.

“A exportação de carne bovina brasileira corresponde hoje a 30% de tudo que é produzido, 70% ficam no consumo interno. Do final de 2019 para cá, tivemos uma expansão dessa proporção, que costumava ser de 20% de toda a produção que era exportada, se expandindo em decorrência da peste suína africana que acometeu os rebanhos suínos na Ásia”, diz Pimentel.

Nesse sentido, a demanda chinesa maior é uma “parte menor” na explicação para a alta dos preços, mais ligada ao ciclo pecuário.

Pimentel destaca que os preços já estão começando a cair no Brasil conforme os produtores entram na etapa do ciclo de aumento de produção e oferta. “Se deixar o mercado fluir, vai funcionar, se não o produtor vai parar de produzir, vai ter queda de oferta e veremos algo semelhante ao que vimos na Argentina”, comenta.

No caso argentino, a exportação de carne foi bloqueada entre 2007 e 2008, fazendo com o que os preços subissem e o consumo per capita de carne bovina caísse de uma média de 68 quilos por ano para 41 quilos, “sem ampliação de consumo, pelo contrário”.

Fonte: CNN Brasil.
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