
E agora, quem está errado? Desde o início de 2024, o produtor afirma ter perdido cerca de 100 animais, o que representa um rombo superior a R$ 20 mil em sua já frágil economia familiar
A insegurança jurídica que vive o campo é enorme. Na zona rural de Apodi, no interior do Rio Grande do Norte, um caso envolvendo o pequeno produtor Hildo Severiano da Silva, de 59 anos, chamou atenção e reacendeu o debate sobre o abandono de cães no meio rural. Vivendo da criação de cabras e da agricultura familiar no assentamento Laje do Meio, ele enfrenta há anos prejuízos causados por ataques de cães sem dono — uma realidade que vem se agravando em muitas regiões do Brasil. Agora, em resumo, produtor é preso por atirar em cães.
Na última quinta-feira (29), Hildo se deparou com uma cena devastadora: seus cabritos recém-nascidos estavam sendo atacados por cães. O desespero tomou conta. Segundo ele, nos últimos meses, os prejuízos somam cerca de 100 animais perdidos, resultando em um impacto de mais de R$ 20 mil — valor considerável para quem sobrevive da produção rural de subsistência.
Em um ato de impulso, e sem ver outra alternativa, ele utilizou uma espingarda antiga que guardava em casa para disparar contra os cães. Um foi morto e outro ficou ferido. A ação foi denunciada de forma anônima, e a Polícia Militar prendeu o agricultor em flagrante por posse ilegal de arma de fogo e maus-tratos a animais.
Hildo passou a noite detido no Centro de Detenção Provisória de Apodi e foi solto após audiência de custódia, mas agora responde ao processo em liberdade.

Em entrevista, visivelmente abalado, o agricultor afirmou não se considerar violento nem criminoso. “Eu só queria proteger meus animais. Nunca levantei a mão para nenhum bicho, muito menos sem motivo. Mas ver meus cabritos sendo devorados foi demais pra mim”, relatou, com a voz embargada. Vizinhos e outros moradores do assentamento confirmam sua versão e descrevem Hildo como um homem honesto e dedicado ao campo.
O problema, segundo os moradores da região, é recorrente. Muitos cães acabam sendo abandonados por caçadores que, ao perceberem que os animais não servem para caça, os deixam no mato. Famintos, os cães formam matilhas e atacam rebanhos vulneráveis. Estima-se que, somente nos arredores do assentamento, cerca de 400 animais já tenham sido mortos em ataques similares nos últimos anos.
Tentativas para espantar os cães já foram feitas por produtores da região — uso de fogos de artifício, gritos, armadilhas improvisadas —, mas quase sempre sem sucesso. “A gente já tentou de tudo, mas esses bichos voltam. Não é só comigo, é com quase todo mundo por aqui”, lamenta Hildo.
Durante a visita ao seu sítio, o agricultor fez questão de mostrar o estado do seu rebanho e os cuidados que oferece aos animais. Ao chamá-los com um grito, dezenas de cabras se aproximaram, muitas se encostando nele como em um gesto de carinho.
“Quem maltrata animal não cria eles assim. Eles sabem quem cuida”, disse com orgulho.

O caso evidencia a ausência de políticas públicas voltadas ao controle populacional de animais abandonados nas zonas rurais. Sem apoio institucional, produtores como Hildo enfrentam sozinhos as consequências de um problema social que se reflete diretamente em suas atividades e em sua dignidade.
Hildo vive só. No quintal, entre árvores frutíferas e hortaliças, cuida de galinhas, cabras e até de gatos abandonados — entre eles, uma gata com filhotes recém-nascidos que ele alimenta todos os dias. “Eu cuido dos bichos porque gosto, mas quando os meus estão sendo mortos, como é que eu fico?”, desabafa.
O episódio reforça a urgência de se discutir soluções efetivas para o abandono animal no campo. Enquanto isso não acontece, histórias como a de Hildo tendem a se repetir — onde quem tenta proteger seus meios de vida acaba sendo criminalizado, e o problema maior, ignorado.
Escrito por Compre Rural com informações do Agro Sertão Oficial
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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