Produtores contestam política sanitária do governo e defendem vacinação em massa diante de prejuízos milionários e abates dos rebanhos de gado.
Produtores rurais franceses intensificaram a pressão sobre o governo neste fim de semana ao bloquear rodovias estratégicas com tratores e incendiar fardos de feno, em protesto contra a condução oficial diante do surto de dermatite nodular contagiosa (DNC) no país. A mobilização ocorreu no sábado e ganhou força principalmente em regiões do sudoeste da França, onde rebanhos inteiros vêm sendo abatidos como medida sanitária.
A reação dos fazendeiros tem como foco a política adotada pelas autoridades, que determina o abate compulsório de todo o rebanho sempre que um único animal infectado é identificado. Para sindicatos e representantes do setor agropecuário, a medida é considerada excessivamente rigorosa, autoritária e economicamente devastadora, conforme relataram entidades ao jornal francês Le Monde.
Os protestos ganharam corpo após episódios que chocaram comunidades rurais, como o abate de mais de 200 cabeças de gado em uma única propriedade, provocado por apenas um teste positivo para a doença. Em alguns casos, o cumprimento da ordem sanitária exigiu acompanhamento policial, o que elevou ainda mais a tensão entre produtores e o poder público.
Sindicatos agrícolas argumentam que animais saudáveis estão sendo sacrificados sem necessidade, causando prejuízos irreversíveis às famílias rurais e às economias locais. Como alternativa, defendem uma estratégia centrada na vacinação em massa e no monitoramento sanitário, em vez da eliminação total dos rebanhos.
A dermatite nodular contagiosa é uma doença viral altamente contagiosa que afeta exclusivamente bovinos, sem risco para seres humanos. Apesar disso, o impacto econômico é significativo: a enfermidade pode provocar morte dos animais, queda acentuada na produção de leite, perda de peso, lesões cutâneas severas e restrições comerciais.
Um dos principais desafios no controle da DNC é sua forma de disseminação. O vírus é transmitido principalmente por insetos hematófagos, como moscas e mosquitos, o que facilita sua rápida propagação uma vez que a doença se estabelece em determinada região.
Do lado oficial, as autoridades francesas sustentam que ações duras são indispensáveis para impedir a disseminação do vírus. O governo alerta que, caso o controle falhe, até 1,5 milhão de cabeças de gado podem estar em risco em todo o país, comprometendo não apenas a pecuária, mas também o status sanitário da França no comércio internacional.
Paralelamente aos abates, foi lançada uma campanha emergencial de vacinação, com a meta de imunizar cerca de um milhão de animais nas áreas afetadas, além de outro milhão de cabeças já vacinadas desde julho. Ainda assim, a resposta oficial divide o setor: enquanto algumas organizações agrícolas apoiam o abate total como forma de erradicação rápida da doença, outras rejeitam veementemente a estratégia.
Detectado inicialmente em junho, o surto francês evidencia a rapidez com que a dermatite nodular contagiosa pode se espalhar e o alto custo associado à perda do status de país livre da doença. Além das perdas diretas aos produtores, há reflexos sobre exportações, acordos comerciais e a credibilidade sanitária do país.
O caso francês também é observado com atenção por outros grandes produtores globais. Especialistas alertam que a situação serve como um sinal de alerta para países como a Austrália, onde a doença ainda não está presente, mas já foi registrada em Timor-Leste, a poucas centenas de quilômetros da fronteira norte australiana.
Enquanto o impasse persiste, os bloqueios e protestos refletem um embate cada vez mais profundo entre sanidade animal, política pública e sobrevivência econômica no campo, colocando a crise sanitária no centro do debate agrícola europeu.
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