Produtores rurais cancelam COP do Agro e apontam “perseguição do governo”

Evento que seria contraponto à COP30 é encerrado após veto à utilização do Centro de Convenções Carajás, em Marabá; organização critica decisão do governo do Pará

A expectativa era de reunir lideranças políticas, representantes do agronegócio amazônico e produtores de todo o Brasil em um evento que buscava ser uma resposta à narrativa dominante sobre o setor nas discussões ambientais globais. No entanto, a COP do Agro, marcada para os dias 3 e 4 de outubro em Marabá (PA), foi oficialmente cancelada nesta sexta-feira (6), conforme anunciado pela Associação dos Produtores Rurais Independentes da Amazônia (Apria).

Segundo os organizadores, o cancelamento decorre de “perseguição política” e da “desunião entre produtores rurais”, fatores que teriam inviabilizado a continuidade da organização do evento.

A proposta da COP do Agro

Inspirada pela estrutura e visibilidade da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro em Belém (PA), a COP do Agro pretendia dar voz ao agronegócio amazônico, frequentemente retratado como vilão ambiental em pautas internacionais. O evento reuniria painéis com autoridades e especialistas para debater produção sustentável, regularização fundiária e segurança jurídica para quem produz na região Norte.

Confirmaram presença nomes de peso, como os governadores Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), além de senadores e deputados federais ligados à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), como Pedro Lupion (PP-PR), Silvia Waïapi (PL-AP), Wellington Fagundes (PL-MT) e Zequinha Marinho (Podemos-PA).

Motivos do cancelamento

O estopim para a decisão foi a rescisão do contrato de locação do Centro de Convenções Carajás, espaço onde ocorreria o evento. A gestora do local, a associação privada Pará 2000, informou à Apria em 27 de maio que o centro não estaria mais disponível, devolvendo os cerca de R$ 50 mil pagos e adicionando multa por cancelamento.

Segundo a entidade, a decisão partiu do governo do estado do Pará, que determinou que o espaço fosse reservado apenas para eventos relacionados à COP30 durante os meses de outubro e novembro. A justificativa, porém, não convenceu os organizadores.

“Sabemos que o governo do estado faria de tudo para inviabilizar nosso evento”, declarou Ana Flávia Fagundes de Melo, secretária-geral da Apria. “Nosso objetivo era dar voz a quem produz com responsabilidade ambiental e social, mas que muitas vezes é invisibilizado nas grandes pautas ambientais.”

Ela também destacou que a COP do Agro ocorreria mais de 30 dias antes da COP30 e a cerca de 500 km de Belém, o que não justificaria o veto com base em conflito de agenda ou logística.

“Perseguição política e desunião interna”

Vinícius Borba, um dos líderes da Apria, afirmou em vídeo que o cancelamento não se deu por medo ou fraqueza, mas por reconhecer o cenário desfavorável:

“A nossa decisão de suspender a COP do Agro não é por covardia, medo ou incompetência. Mas por conta de uma receita que leva qualquer evento que queira defender o agro ao fracasso: perseguição política + desunião da classe produtiva rural.”

Ele criticou a falta de união prática dos produtores, reforçando que “enquanto não colocarmos políticos que verdadeiramente defendam o agro, e enquanto não nos unirmos de forma séria e coesa, todo e qualquer evento será facilmente sabotado.”

Próximos passos e silêncio do governo

Inicialmente, a Apria buscou alternativas para realizar o evento em outro local ou data, mas as dificuldades logísticas e a insegurança institucional levaram ao cancelamento definitivo.

A Gazeta do Povo tentou contato com a entidade Pará 2000 e com a Secretaria de Comunicação do governo do Pará, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

Apesar do revés, a Apria declarou que continuará ativa em defesa dos produtores da Amazônia e usará o cancelamento como oportunidade para reavaliar sua estratégia:

“Agora é hora de usar a estratégia, recuar e prosseguir com mais força e sabedoria”, disse Borba.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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