A discussão reuniu agricultores familiares, pesquisadores, gestores públicos e integrantes de redes de colaboração territorial.
Durante o painel Caminhos para uma restauração socioambiental justa para povos e comunidades tradicionais, realizado neste dia 15 de novembro, na AgriZone, Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa, durante a Cop30, em Belém (PA), a Rede Territórios Amazônicos, formada pela Embrapa, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad – França) apresentou um manifesto a ser entregue a executivos e autoridades na Blue Zone, na COP30. A proposta destaca o protagonismo dos povos amazônicos, das comunidades tradicionais e dos agricultores familiares, além de reunir suas principais demandas para fortalecer a restauração ambiental no território.
O painel dedicado à restauração socioambiental ressaltou a diversidade de experiências e a presença de representantes de várias regiões da Amazônia, de outros estados brasileiros e de países vizinhos como Colômbia e Peru. A discussão reuniu agricultores familiares, pesquisadores, gestores públicos e integrantes de redes de colaboração territorial.
Jaqueline Silva, agricultora do município de Primavera (PA) e fundadora da Associação de Pequenos Agricultores, na região, falou de sua experiência pessoal e emocionou o público ao relatar o fortalecimento da organização comunitária, com iniciativas de mulheres que transformam resíduos têxteis em arte e projetos de educação ambiental. “Sou filha e neta de agricultores, e hoje sou mãe de dois jovens agricultores. Sentar ao lado de doutores, técnicos e professores e ser reconhecida como parte desse ciclo foi uma oportunidade que jamais imaginei”, declarou emocionada. “Agricultor planta para preservar e é importante saber que o nosso conhecimento também tem valor”, ressalta.
O painel contou ainda com Ricardo Ares, jovem liderança amazônica e integrante de um coletivo que mobiliza a juventude de aldeias, ribeirinhos, agricultores e guardas florestais. Ele destacou que a restauração socioambiental só será efetiva se estiver pautada pelas pessoas e pelos territórios. “Antes da restauração, precisamos falar de pertencimento. A transformação só é justa quando parte do reconhecimento dos direitos e da identidade cultural de cada comunidade”, afirmou. Ares ressaltou que o coletivo atua na criação de novas narrativas sobre a floresta e sobre a relação entre sociedade e natureza, contrapondo uma visão meramente mercadológica do território. “Nosso território é um espaço onde a vida humana e a natureza coexistem em harmonia”, defendeu.
O gestor Saulo Thomas, da Universidade Federal de Mato Grosso, compartilhou resultados do projeto implementado no município de Juruena, região noroeste de Mato Grosso, área de difícil acesso e historicamente pressionada pelo desmatamento. Segundo ele, o projeto buscou promover planejamento rural e transição agroecológica das propriedades familiares.
Colômbia e Peru
A representante colombiana Angélica Rojas, de uma fundação dedicada ao desenvolvimento territorial, abordou o papel das comunidades em áreas fortemente afetadas pelas mudanças climáticas, destacando a necessidade de intervenções intersetoriais. A organização atua na Colômbia, apoiando cerca de 500 famílias com projetos de conectividade ecológica, recuperação de paisagens produtivas e capacitação de jovens. Angélica ressaltou que a restauração exige abordar também conflitos fundiários, processos de governança e a permanência das famílias no campo. “Não se trata apenas de plantar árvores. É preciso reconstruir capacidades, restabelecer vínculos e apoiar comunidades que viveram guerra, deslocamento e vulnerabilidade”, afirmou.
Também participou do debate, José Lara, representante de uma cooperativa de produtores da região oriental do Peru, que compartilhou a experiência de agricultores que migraram de sistemas tradicionais para modelos agroflorestais mais resilientes às mudanças climáticas. A cooperativa tem buscado fortalecer a sucessão geracional no campo, garantindo que jovens permaneçam no território e cuidem das áreas restauradas. “Nosso trabalho tem sido transferir conhecimento e promover práticas que aumentam a resiliência climática, melhorem a produtividade e preservem os recursos naturais”, explicou.
Políticas públicas e investimento estatal – O representante do governo do Pará, Anderson Serra, da Secretaria Estadual de Agricultura Familiar, concluiu o painel reforçando o papel das comunidades tradicionais e da agricultura familiar na política estadual de restauração. Serra defendeu o fortalecimento das organizações sociais rurais e ressaltou a importância das políticas públicas e do investimento estatal. “Apoiar a agricultura familiar é promover segurança alimentar, restaurar ecossistemas e responder às demandas climáticas”, concluiu.
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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