Proteína do futuro: farinha de grilo como alternativa para a alimentação humana

A Nutrinsect conquista a posição de pioneira na produção e comercialização de alimentos à base de insetos na Itália.

No desfecho de janeiro, a Nutrinsect, uma inovadora empresa idealizada por Jose Cianni e seu irmão Robert Cianni, localizada na região central de Marche, na Itália, conquistou o pioneirismo ao obter a autorização para fabricar e comercializar alimentos à base de insetos destinados ao consumo humano.

A apresentação de 100 gramas desse produto, contendo generosas 56 gramas de proteína, encontra-se disponível por € 6, o equivalente a R$ 32, conforme a cotação atual. A marca sugere que o alimento possui um irresistível sabor de avelã, destacando sua harmonização perfeita com uma ampla gama de produtos assados, doces e salgados. Recomenda-se especialmente para a preparação de pães, biscoitos e bolos.

No portal oficial, a Nutrinsect também oferece sugestões criativas para a utilização dessa rica fonte de proteína, como a incorporação em shakes, smoothies, iogurtes, ou a mistura em massas, pães, pizzas e wraps.

Apesar da postura do governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, que preconiza a proteção da tradição culinária italiana contra a influência dos insetos, a União Europeia deu seu aval à comercialização de grilos, gafanhotos e larvas de besouros escuros para o consumo humano no início de 2023.

Foto: Divulgação

Esta decisão provocou um aumento significativo na solicitação de licenças por parte de empresas italianas, todas ávidas por conquistar uma parcela do mercado emergente de insetos comestíveis, previsto para atingir a marca de 2,7 bilhões de euros (aproximadamente R$ 14,52 bilhões) na Europa até 2030, conforme relato do The Guardian.

A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) afirma que os insetos são uma fonte alimentar não apenas saudável, mas também altamente nutritiva. Globalmente, mais de 2.100 espécies de insetos são consideradas comestíveis.

Esse amplo espectro inclui besouros em maior número, seguidos por formigas, gafanhotos e grilos, lagartas de borboletas e mariposas, além de cupins, cigarrinhas e moscas.

No Brasil, onde aproximadamente 135 variedades de insetos comestíveis, incluindo larvas de besouros, lagartas de borboletas, formigas e gafanhotos, podem ser encontradas, ainda não há regulamentação específica para a criação de insetos destinados à alimentação humana. Até o momento, as normativas se aplicam apenas à produção de alimentos destinados a animais como peixes, frangos e animais de estimação.

Recentemente, o governo italiano reconheceu o potencial desse setor e anunciou diretrizes para a rotulagem clara de produtos alimentares à base de insetos no final do ano passado.

farinha de grilo
Foto: Divulgação

O projeto sustentável da Nutrinsect teve início em 2019 com a importação de 10 mil grilos da Alemanha para a fábrica localizada em Monte Cassiano. Os grilos são criados em recipientes plásticos forrados com caixas de papelão de embalagens de ovos, que servem como ambiente propício para alimentação e reprodução.

Em uma entrevista ao The Guardian, José Cianni compartilhou que a missão da empresa é produzir proteínas alternativas de maneira sustentável. Os insetos são mantidos em um ambiente aquecido e, ao atingirem 30 dias de vida, são congelados antes de serem enviados para uma empresa externa, onde passam pelo processo de liofilização e moagem até se transformarem em farinha.

O empreendedor destaca os benefícios ambientais do produto, salientando que, embora os insetos demandem acesso a uma quantidade considerável de água potável, a produção de um quilo de farinha de grilo requer apenas cinco litros de água, em comparação com os 15 mil litros necessários para produzir um quilo de carne.

Quanto ao espaço utilizado, a fábrica da Nutrinsect abrange uma área de 1.000 metros quadrados. Em comparação, para produzir 200 kg de carne, seriam necessários 100 mil metros quadrados, conforme destacado por José Cianni.

Anteriormente a janeiro, a empresa estava autorizada a comercializar sua farinha exclusivamente para o uso em rações destinadas a animais de estimação. No entanto, desde a obtenção da licença, a farinha de grilo da Nutrinsect despertou interesse de empresas de fornecimento de alimentos, as quais estão experimentando a incorporação desse ingrediente em diversas receitas.

A disponibilidade da farinha de grilo, vendida a 60 euros o quilo, nas prateleiras dos supermercados italianos, no entanto, demandará um período de tempo. Cianni estima que isso acontecerá em um prazo de um a dois anos. À medida que as empresas alimentícias exploram as possibilidades do produto, inicialmente, lançarão itens de nicho. A grande empreitada da Nutrinsect será superar o desafio de mudar a percepção em torno dos alimentos à base de insetos até alcançar uma produção em larga escala.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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