Proteína é capaz de aumentar taxa de prenhez

Parceria entre USP e empresa deve gerar patente que garante uso exclusivo da Tolerana® na reprodução em mamíferos

A Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e a empresa Inprenha Biotecnologia desenvolveram um processo biotecnológico inovador que reduz a perda embrionária no início da prenhez e aumenta a taxa de gestação em mamíferos. Os resultados indicaram que o produto e o processo biotecnológico foram capazes de aumentar em 7% a taxa de prenhez das receptoras de embriões produzidos in vitro e 10% na inseminação artificial.

O processo baseia-se no uso de uma molécula recombinante denominada Tolerana® e em procedimentos conhecidos de reprodução animal assistida. A Tolerana® pertence a um grupo de proteínas conhecidas como lectinas (do latim legere: selecionar ou escolher), que se ligam de modo específico a carboidratos.

Um dos responsáveis pelo desenvolvimento desta pesquisa foi o professor Marcelo Dias Baruffi, da FCFRP. Ele já estudava as funções biológicas e os aspectos estruturais das lectinas e, com base nestes conhecimentos e em sua experiência no estudo da lectinas, estabeleceu-se uma parceria entre a USP e a Inprenha, uma vez que os pesquisadores da empresa (Marcelo Roncoletta e Erika Morani) já realizavam pesquisas em reprodução animal desde 2008.

Em 2010, FCFRP e Inprenha iniciaram os testes no campo para verificar o efeito da Tolerana® no incremento da taxa de prenhez de fêmeas bovinas. E, em decorrência dos resultados obtidos com embriões produzidos in vivo, a inovação foi patenteada.

Posteriormente, maiores estudos foram desenvolvidos e a empresa captou recursos financeiros junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) e de outras fontes de recursos, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Pesquisa

A eficácia da Tolerana® foi testada em associação com biotécnicas de reprodução animal assistida, como inseminação artificial, transferência in vivo de embriões, e com embriões produzidos in vitro.

Os primeiros estudos foram realizados com a forma recombinante da Tolerana®, sendo produzida na FCFRP e testada em procedimentos de transferência de embriões produzidos in vivo — quando a fertilização do óvulo pelo espermatozóide acontece no útero da doadora e, posteriormente, o embrião é implantado no útero de outra fêmea (receptora). Esses estudos geraram um incremento de 14% na taxa de prenhez, quando comparada com animais que não utilizaram a Tolerana®.

Em um segundo momento, a empresa passou a produzir a Tolerana® em seu laboratório e testes utilizando a molécula recombinante foram executados em embriões produzidos in vitro – quando a fertilização do óvulo acontece em laboratório e o embrião é implantado no útero de outra fêmea (receptora) e em procedimentos de inseminação artificial. Para procedimentos envolvendo embriões (in vivo ou in vitro), a Tolerana® deve ser depositada no útero da fêmea no dia em que o embrião é implantado e, para o procedimento de inseminação artificial, a Tolerana® é depositada no dia da inseminação, junto ao sêmen.

Sobre o aumento em 7% a taxa de prenhez das receptoras de embriões produzidos in vitro e 10% na inseminação artificial, o professor Baruffi afirma que “as porcentagens apresentadas podem parecer não tão robustas, mas o impacto desses números significa muito do ponto de vista econômico”.

Ele acredita que a parceria entre USP e Inprenha foi uma “interessante combinação entre conhecimento científico/formação de recursos humanos e desenvolvimento tecnológico/avanço socieconômico, ligados ao agronegócio, estratégico para o nosso país”. Isso, segundo ele, possibilita “a geração de empregos e tecnologias que possam aumentar o impacto do Brasil na reprodução e manejo de animais de criação e na geração de proteínas em nível mundial”.

Próximos passos

No momento, existem etapas a serem cumpridas. “Uma delas, é entender o mecanismo do efeito pró-fertilidade da Tolerana®, suas implicações biológicas e sua abrangência de uso”, aponta Baruffi. Para Érika, “a partir do momento em que conhecermos totalmente os mecanismos de ação da Tolerana®, isso nos dará um leque de possibilidades, como aumentar a precisão da dose da substância, melhorando os resultados obtidos à cada categoria animal”. Além disso, há a possibilidade da Tolerana® ser utilizada em outras espécies de mamíferos. “Já fizemos testes com caprinos e estamos em fase de experimentação com equinos”, declara Erika.

Sobre a perspectiva do uso da Tolerana® para tratar problemas de fertilidade em humanos, Baruffi é cauteloso. Existe essa possibilidade, “mas um logo caminho envolvendo conhecimento científico e aspectos éticos deverá ser percorrido”, afirma o docente.

Via Jornal da USP

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