Quadrilha furta mais de R$ 20 milhões em grãos e polícia desafia esquema criminoso

Com operação de logística sofisticada, grupo criminoso se infiltrava em fazendas, carregava caminhões com soja e milho sem registro, esquentava com notas fiscais falsas e lavava o dinheiro em empresas de fachada. Operação Safra 3 escancara o maior esquema de roubo de grãos do país.

A terceira fase da Operação Safra, deflagrada pela Polícia Civil de Mato Grosso na terça-feira (24), revelou detalhes estarrecedores sobre um esquema criminoso que desviou mais de R$ 20 milhões em grãos de importantes polos agrícolas do estado. A quadrilha, altamente estruturada, usava tática de guerra: infiltrava funcionários em fazendas, manipulava balanças, falsificava documentos e lavava dinheiro com empresas de fachada.

As fazendas alvo do esquema — Guapirama, Sulina, Colorado, Kesoja e Fazenda Feliz — estão entre as maiores produtoras de soja e milho de Mato Grosso, e se tornaram o epicentro do rombo milionário que atinge diretamente produtores, transportadoras e seguradoras do setor agropecuário.

O golpe: roubo interno, falsificação e lavagem de dinheiro

Segundo a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), o grupo aliciava gerentes, operadores de carga e balanceiros de confiança das propriedades.

Esses funcionários liberavam caminhões clandestinamente, que carregavam toneladas de grãos diretamente dos silos, sem emissão de notas fiscais e sem qualquer controle oficial.

Em seguida, as cargas eram transportadas para uma empresa em Cuiabá, já investigada na fase anterior da operação, onde eram “esquentadas” com notas fiscais falsas. A movimentação financeira ocorria com apoio de núcleos especializados em lavagem de dinheiro, que usavam empresas de fachada para legalizar os lucros ilícitos.

“O prejuízo rastreado nesta fase é de aproximadamente R$ 4,5 milhões, mas o dano real pode ser incalculável. Muitas cargas nunca foram registradas oficialmente”, afirmou o delegado Gustavo Belão.

O rastro do crime: 152 cargas e mais de 6 mil toneladas desviadas

As três fases da Operação Safra já identificaram o furto de 152 cargas de grãos, totalizando mais de 6 milhões de quilos de soja e milho subtraídos, com prejuízo estimado acima de R$ 20 milhões. O esquema teve início em 2021, com uma quadrilha baseada em São Paulo e ramificações em diversos estados.

A primeira fase da Operação Safra foi realizada em julho de 2021, desmantelando um grupo baseado em São Paulo que atuava no furto de grãos em diversos estados. Em setembro de 2022, foi deflagrada a segunda fase, que aprofundou o rastreio de cargas desviadas e identificou novas ramificações da quadrilha.

Ao todo, as investigações das três fases já revelaram o furto de 152 cargas, totalizando mais de 6 milhões de quilos de grãos desviados, com prejuízo superior a R$ 20 milhões para produtores, transportadoras e seguradoras do setor do agronegócio mato-grossense.

Quadrilha furta mais de R$ 20 milhões em grãos e polícia desafia esquema criminoso
O prejuízo apurado até o momento seja de aproximadamente R$ 4,5 milhões, apenas com base nos registros já localizados. (Foto: PJC-MT)

A resposta das autoridades: Operação Safra, bloqueios, sequestros e apreensões

Nesta fase, foram cumpridas 63 ordens judiciais, incluindo:

  • 19 mandados de busca e apreensão
  • 22 bloqueios e sequestros de contas bancárias
  • 5 indisponibilidades de imóveis
  • 17 bloqueios de veículos

Os alvos estão sendo investigados por organização criminosa, furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. As ações ocorreram nas cidades de Cuiabá, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sapezal e Tangará da Serra.

A ferida aberta no coração do agronegócio

Além do dano financeiro, o caso escancara uma vulnerabilidade preocupante no sistema de controle das propriedades agrícolas e no transporte de grãos. A capacidade da quadrilha de infiltrar funcionários, fraudar sistemas logísticos e escapar por tanto tempo levanta um alerta urgente ao setor produtivo.

Produtores precisam reforçar a segurança interna, adotar auditorias independentes e sistemas de rastreabilidade mais rígidos — além de cobrar investigação profunda sobre o destino final desses grãos.

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