Expectativa é de mercado aquecido, com alta na arroba do boi gordo entre R$ 360 e R$ 400 no primeiro semestre; cenário dependerá de fatores como oferta, câmbio e exportações, apontam especialistas
A pecuária brasileira vive um momento decisivo. Após um ciclo de baixa que pressionou os preços da arroba do boi gordo em 2023 e parte de 2024, o mercado começou a dar sinais de recuperação em 2025, com a arroba oscilando entre R$ 300 e R$ 310, uma valorização de 22% em relação ao ano anterior. Mas a pergunta que não quer calar no setor é: em 2026, o boi gordo vai alcançar os R$ 400 por arroba?
A virada do ciclo e o novo patamar de preços da arroba do boi gordo
Segundo dados da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil), o custo de produção subiu 30% em 2025, sendo 62% disso apenas com reposição. Esse movimento reflete o forte abate de matrizes ocorrido no ciclo anterior, o que reduziu drasticamente a oferta de bezerros e elevou o custo para quem entra no mercado. Essa escassez de animais tende a continuar em 2026, reforçando a valorização da arroba.
Para Thiago Pereira, zootecnista e Diretor de Conteúdo do Compre Rural, o cenário de 2026 reúne os ingredientes para uma valorização histórica da arroba, especialmente diante da combinação entre oferta restrita e demanda aquecida:
“Se a produção nacional recuar em relação às 12 milhões de toneladas de 2025 e as exportações seguirem acima das 3 milhões de toneladas, é plenamente possível que o mercado físico opere entre R$ 360 e R$ 400 por arroba.”
Pereira destaca ainda que o impacto da escassez de bezerros será um dos grandes motores do novo ciclo, pressionando os custos de reposição. “A expectativa é que o bezerro ultrapasse os R$ 4 mil já no primeiro semestre de 2026, o que exige planejamento. Algumas indústrias já estão oferecendo bônus sobre a referência para entregas entre fevereiro e março, então este é o momento de analisar com calma, segurar o gado e travar preço.”
Cautela com os R$ 400/@: China e câmbio são peças-chave
Apesar do otimismo de alguns, Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, traz um alerta importante. Ele acredita que a arroba pode sim alcançar R$ 350 ou até R$ 360, mas que os R$ 400 são improváveis em um cenário de normalidade.
“Só teremos arroba a R$ 400 se o câmbio explodir ou houver um problema muito grave na oferta e um salto nas exportações — o que já estão em nível muito elevado.”
Outro ponto de atenção citado por Iglesias é a decisão da China, prevista para 26 de janeiro de 2026, sobre possíveis salvaguardas à carne brasileira. Caso o país asiático imponha restrições, os embarques podem cair, pressionando os preços para baixo.
Scot Consultoria vê chance real de arroba entre R$ 370 e R$ 400
Já o analista Felipe Fabbri, da Scot Consultoria, considera viável que a arroba atinja entre R$ 370 e R$ 400 no primeiro semestre de 2026, dependendo do comportamento da oferta e da demanda.
“Se a indústria conseguir repassar o preço ao consumidor e o dólar subir — podendo chegar a R$ 6 em ano eleitoral —, a exportação ganha fôlego e sustenta preços altos”, explica.
No entanto, Fabbri destaca que o primeiro trimestre costuma ter demanda interna fraca, por conta do calendário de impostos e retorno às aulas, o que pode limitar essa escalada nos preços no curto prazo. Por outro lado, ele lembra que a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil já em janeiro deve aumentar a circulação de renda e estimular o consumo.
Exportações aos EUA e Europa dão novo impulso
A boa notícia para os pecuaristas é que as exportações seguem aquecidas. Em dezembro de 2025, o Brasil exportou, em apenas cinco dias úteis, 76,7 mil toneladas de carne bovina, com alta de 80,5% no valor médio diário em relação ao mesmo período de 2024.
Os Estados Unidos, em particular, se destacam como um destino importante, pagando mais e oferecendo tarifas menores no início do ano, o que pode garantir margens mais interessantes para os frigoríficos.
Além disso, o mercado interno segue com espaço para alta, impulsionado por fatores como o 13º salário, contratações temporárias e a recuperação econômica pós-inflação.
Vamos ou não chegar aos R$ 400?
A arroba a R$ 400 em 2026 é uma possibilidade real, mas não garantida. O mercado deve caminhar para valores entre R$ 350 e R$ 380 em boa parte do ano, com picos podendo se aproximar dos R$ 400 se:
- A oferta seguir restrita;
- A demanda interna permanecer aquecida;
- O dólar se valorizar fortemente (cenário eleitoral);
- E as exportações baterem novos recordes.
Fatores como a resposta da China, os custos de produção e o comportamento da indústria também serão determinantes. O que já parece certo é que o ciclo virou — e o pecuarista que se planejar poderá colher bons resultados em 2026.
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