Recuperação de floresta degradada gera lucro e preservação na Amazônia

Estudo em área do Pará pode ser replicado no próprio estado e em outros da região amazônica

Estudo inédito feito pela Embrapa Amazônia Oriental, em parceria com o grupo madeireiro Arboris, acompanhou um ciclo alternativo completo de plantio e corte de paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum), espécie de árvore nativa da Amazônia usada no enriquecimento de clareiras em florestas degradadas e de pouca ou baixa produtividade no Pará.

O experimento revelou que com baixo investimento é possível lucrar com a regeneração da floresta visando ciclos futuros de corte em manejo sustentável madeireiro. Resultados validados da pesquisa indicaram ganho econômico 36% superior em áreas onde foi promovida regeneração comparadas à área de recuperação natural após o corte em sistema de manejo.

A estimativa é que a metodologia possa ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares de florestas com diferentes níveis de degradação no estado, resultando em alternativas de desenvolvimento econômico e ambiental para a região. O estudo abre caminho para gerar ativos financeiros nessa área do Pará, avaliam autores da pesquisa. A área corresponde ao chamado arco do desflorestamento, no qual se incluem florestas com diversos graus de degradação e que atualmente não despertam interesse madeireiro e também não podem ser usadas para agricultura ou pecuária.

O pesquisador Gustavo Schwartz avalia que essa extensão territorial tem enorme passivo que pode ser revertido em desenvolvimento econômico e também ambiental. A pesquisa foi conduzida durante 13 anos, entre 1995 e 2008, na fazenda Shet, localizada no município de Dom Eliseu, nordeste paraense, distante cerca de 450 quilômetros de Belém.

Conservação é bom negócio

O estudo revelou que o enriquecimento de clareiras – áreas abertas em floresta -, por ação humana de desflorestamento, manejo, ou mesmo natural por meio de quedas e de incêndios, tem grande potencial para incremento da produtividade e lucratividade. Além disso, o enriquecimento de clareiras aumenta as chances de conservação de florestas degradadas, conforme analisou Schwartz, um dos responsáveis pelo trabalho.

Schwartz explicou que o aprendizado das técnicas pode ser aplicado em outros estados da Amazônia, assim como nas demais regiões com incidência de floresta tropical.

O objetivo do estudo foi avaliar a produtividade e a rentabilidade financeira do plantio para o enriquecimento dessas florestas degradadas. O paricá foi a espécie escolhida por ser nativa da região, apresentar rápido crescimento e ser de interesse da cadeia madeireira, em especial, na indústria de laminados.

Baixo investimento

As sementes de paricá foram plantadas diretamente no solo, em áea de lacunas de exploração (clareiras) de uma floresta degradada de 108 hectares, em fevereiro de 1995. A pesquisa usou como comparativo outra área de 50 ha, na mesma fazenda, na qual não houve qualquer tipo de intervenção, apenas regeneração natural.

Início da pesquisa

O empresário Marco Siviero procurou a Embrapa na década de 1990 por conhecer trabalhos publicados com espécies florestais nativas de rápido crescimento e de valor comercial. A parceria resultou na aquisição de cerca de 10 mil sementes. O investimento foi mínimo, com algumas ações de limpeza da área para facilitar o acesso e plantio. A motivação foi o entendimento de que a vocação do grupo é de madeireira e que somente a sustentabilidade da produção poderia garantir a atividade, visando lucro e preservação.

Por atuar na indústria de laminados, a empresa utiliza árvores de menor diâmetro de tronco, o que reduz o tempo de ciclo de corte para a média de 12 anos, tornando a atividade mais lucrativa e sustentável. Um exemplo de espécies com menor diâmetro é a embaúba (Cecropia spp.), que também se mostrou lucrativa em florestas degradadas.

O pesquisador Jorge Yared explicou que “a área de plantio registrou a manutenção dos principais serviços ecossistêmicos e ambientais, como estoque de carbono, por meio do crescimento acelerado da floresta, preservação e até regeneração de recursos hídricos, menor risco de erosão de solo e de vulnerabilidade a incêndios florestais, além da biodiversidade, envolvendo fauna e flora atreladas à floresta”.

Das 10 mil sementes plantadas cerca de três mil transformaram-se em árvores com diâmetro em torno de 25 centímetros em 13 anos, resultando em acúmulo médio de três metros cúbicos (m3) por hectare/ano.

Alguns resultados da pesquisa foram publicados na Revista Internacional Forest Ecology and Management. O artigo é assinado pelos pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, Ademir Ruschel, Gustavo Schwartz, da Embrapa Amapá, José Pereira e Jorge Yares. Assinam também Marco Siviero e Paulo Pereira, do Grupo Arboris.

Fonte: Embrapa

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM