Com 628 pedidos de recuperação judicial no agro apenas no terceiro trimestre, levantamento da Serasa Experian revela deterioração financeira no campo, avanço entre produtores pessoa física e forte concentração em estados líderes do agronegócio
O agronegócio brasileiro vive um dos momentos mais delicados dos últimos anos no que diz respeito à saúde financeira. Dados inéditos da Serasa Experian mostram que o terceiro trimestre de 2025 registrou o maior número de pedidos de recuperação judicial no agro desde 2021, escancarando um cenário de pressão sobre produtores rurais e empresas ligadas à cadeia agroindustrial. No período, foram contabilizados 628 pedidos, um salto expressivo frente às 254 solicitações registradas no mesmo trimestre de 2024, o que praticamente triplica o volume em apenas um ano .
O avanço dos pedidos é interpretado como reflexo direto da piora no ambiente de crédito do setor, marcada por custos financeiros elevados, margens mais apertadas e dificuldade de rolagem de dívidas. O índice da Serasa Experian considera produtores rurais pessoa física e pessoa jurídica, além de empresas do agronegócio, oferecendo uma fotografia ampla da crise que se espalha por diferentes elos da cadeia.
Crédito pressionado e ajustes adiados
Segundo a Serasa Experian, o crescimento das recuperações judiciais evidencia um período de forte estresse financeiro no campo. Produtores que vinham postergando ajustes estruturais — como redução de custos, revisão patrimonial e interrupção de expansões mal planejadas — passaram a enfrentar limites claros de caixa e pagamento, o que acelerou a busca pelo instrumento judicial.
Para Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, o movimento não surpreende diante do contexto recente do setor. Ele avalia que a recuperação judicial surge, em muitos casos, como consequência de anos de endividamento acumulado sem correções de rota.
Ao mesmo tempo, o executivo destaca que o cenário exige dos credores uma postura ainda mais técnica: “Quanto maior a precisão e profundidade na análise de riscos, maior a capacidade do mercado de antecipar dificuldades, ajustar limites e evitar que situações de estresse financeiro evoluam”, afirma .

Mato Grosso lidera pedidos de recuperação judicial no agro e concentra pressão financeira
Ainda de acordo com os dados inéditos desenvolvidos pela datatech, a análise por Unidades Federativas revela que Mato Grosso aparece como o estado com o maior número de pedidos de recuperação judicial no terceiro trimestre de 2025, reforçando a intensidade da crise justamente em uma das principais potências do agronegócio nacional.
Na sequência, Goiás e Paraná também se destacam entre os estados com maior volume de solicitações, indicando que o problema não está restrito a uma única região produtiva, mas se espalha por polos estratégicos do país. Veja os TOP5 Estados no gráfico a abaixo:

Pessoa física puxa alta e amplia protagonismo
Um dos pontos mais sensíveis do levantamento é o comportamento dos produtores rurais pessoa física. No terceiro trimestre de 2025, esse grupo somou 255 pedidos de recuperação judicial, mais que o dobro das 106 solicitações feitas no mesmo período de 2024.
Os dados mostram que arrendatários e integrantes de grupos econômicos ou familiares lideraram os pedidos (84 casos), seguidos por grandes produtores (69), pequenos (58) e médios produtores (44) .
O avanço entre pessoas físicas indica que a crise extrapolou grandes estruturas empresariais e passou a atingir com força produtores que dependem diretamente do crédito rural e da estabilidade de preços para manter suas operações.
Pessoa jurídica e empresas do agro também avançam nos pedidos de recuperação judicial no agro
Entre os produtores pessoa jurídica, o índice aponta 242 pedidos de recuperação judicial no terceiro trimestre de 2025, número superior ao observado no mesmo intervalo do ano anterior. A produção de soja lidera esse movimento, com 156 solicitações, seguida pela pecuária bovina, que respondeu por 45 pedidos, evidenciando que as duas principais atividades do agro brasileiro estão no centro da pressão financeira .
Já as empresas ligadas ao agronegócio — como agroindústrias, atacadistas e processadoras — registraram 131 pedidos no trimestre, contra 56 no mesmo período de 2024. O segmento de comércio atacadista de produtos agropecuários primários liderou as solicitações, seguido pela indústria de processamento de agroderivados, como óleo e farelo de soja, açúcar, etanol e laticínios, além da agroindústria de transformação primária.
Nesse recorte, o segmento que mais buscou por recuperação judicial foi o de “Comércio atacadista de produtos agropecuários primários” com 31 pedidos. Em seguida, entre aqueles com mais registros, ficou a “Indústria processamento de agroderivados (óleo e farelo de soja, açúcar, etanol, laticínios etc.), que somou 27 solicitações, e a “Agroindústria da transformação Primária”, com 25 requerimentos.

Inteligência de dados como ferramenta de prevenção
Diante do aumento expressivo das recuperações judiciais, a Serasa Experian reforça a importância do uso de modelos preditivos de risco, como o Agro Score, ferramenta desenvolvida para antecipar sinais de instabilidade financeira no agronegócio.
Estudos internos mostram que, até três anos antes do pedido de recuperação judicial, já era possível identificar queda relevante no score médio dos produtores que acabaram recorrendo ao mecanismo judicial — uma diferença clara em relação àqueles que mantiveram a saúde financeira em níveis mais sólidos.
Um sinal de alerta para 2026
O recorde de pedidos de recuperação judicial no terceiro trimestre de 2025 funciona como um alerta importante para toda a cadeia do agronegócio, desde produtores até instituições financeiras, cooperativas e fornecedores de insumos. O cenário indica que a combinação de endividamento elevado, margens pressionadas e crédito mais seletivo tende a continuar impactando o setor, exigindo maior rigor na gestão financeira e no uso de dados para tomada de decisão.
Mais do que um fenômeno pontual, os números revelam um ajuste em curso no agro brasileiro — um movimento que pode redefinir estratégias de produção, financiamento e expansão nos próximos anos.
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