Regras sanitárias para envio da carne à China precisam de revisão urgente

Associação Nacional da Pecuária de Corte (Assocon) e ACRIMAT defendem revisão urgente do protocolo sanitário para exportação de carne bovina à China

A Associação Nacional da Pecuária de Corte (Assocon) pleiteará ao Ministério da Agricultura e Pecuária a revisão do protocolo sanitário de comercialização de carne bovina brasileira para a China. A partir da confirmação de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no Pará, o acordo em vigência prevê a imediata suspensão dos embarques de carne bovina para o país asiático.

“A suspensão faz parte do protocolo firmado por Brasil e China. Entretanto, é preciso que o governo reveja os termos, visando reduzir os danos à pecuária e, por consequência, à economia nacional. Um caso atípico como esse, que não representa nenhuma ameaça de contaminação à carne e às pessoas, ocorrido em uma propriedade rural de pequeno porte no Pará, não pode ser motivo de suspensão das exportações de todo o país”, destaca José Roberto Ribas, vice-presidente da Assocon.

O novo caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) foi identificado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária em uma propriedade próxima a Marabá (PA), em um bovino com 9 anos de idade. Com a confirmação da ocorrência, os embarques para a China, responsável pela compra de mais de 50% da carne bovina exportada, são suspensos.

“Não é a primeira vez que isso ocorre. Em 2021, foram quase quatro meses de suspensão das exportações para o nosso principal cliente. Isso resultou em mais de US$ 1 bilhão em prejuízos para a cadeia da carne bovina. O pecuarista já sofre com baixa remuneração, alto custo de produção, além de conviver com um mercado instável. Não Podemos sofrer tanto devido a um acordo que, claramente, precisa ser revisto”, ressalta Ribas.

Firmado em 2015, o protocolo entre Brasil e China prevê que, havendo qualquer caso de relevância sanitária, se faz necessário o processo de suspensão automática das exportações ao país asiático. Agora, somente as autoridades chinesas podem suspender o embargo e aceitar que os envios voltem ao ritmo normal.

“A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) classifica o Brasil como território de risco insignificante para a ocorrência da doença. Além disso, nossa pecuária é profissional e responsável. Não faz sentido uma decisão como essa, diante de uma cadeia produtiva que tem práticas absolutamente seguras. Mudanças são extremamente necessárias nesse acordo”, finaliza o vice-presidente da Assocon.

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Foto: Nelore Grupo Costa

Outra entidade importante que engrossa o coro para revisar o protocolo sanitário é a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). O diretor-presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, explica que essa suspensão é reflexo de um “acordo mal redigido”, que não fez a diferenciação entre a doença, que tem o tipo clássico e o atípico.

“Um acordo mal redigido em 2015, entre Brasil e China, não separou as duas formas da doença. E quando se identifica um caso ocorre automaticamente o embargo. Isso significa que o Brasil para imediatamente de exportar para a China, provocando um caos econômico em toda a cadeia.”, afirmou.

Por isso, segundo Oswaldo, a entidade está preocupada com o cenário atual da pecuária – com custos crescentes de produção e preços muito baixos na arroba –, que sofrerá ainda mais com a suspensão das exportações. Hoje o país asiático é um dos principais destinos da carne bovina brasileira – e Mato Grosso é o estado com o maior rebanho bovino do Brasil.

“A Acrimat está muito preocupada com o atual momento pelo qual a pecuária está passando. Agora temos que enfrentar um novo problema, que é o da famosa vaca louca que de louca não tem nada.”, declarou o diretor presidente da Acrimat.

Na tarde desta sexta-feira (24), a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) emitiu uma nota em apoio a Acrimat. Sabemos que essa confirmação impacta diretamente o mercado de carne. Lamentamos o incidente que ameaça a credibilidade e segurança do trabalho realizado pela pecuária nacional e reflete no escoamento da indústria, tanto no cenário interno, quanto internacional, e, por essa razão, nos posicionamos a favor de uma revisão do acordo, já que a sua atual forma ocasiona prejuízos incalculáveis para o setor.

A Diretoria da ABCZ avalia que o Brasil, país continental, precisa de protocolos eficientes e mais inteligentes para nos proteger comercialmente. “Um caso pontual de qualquer doença tem que ser investigado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, mas não pode travar a exportação de plantas de outras regiões de um território tão grande quanto o Brasil” diz Gabriel Garcia Cid.

A ABCZ respeita a indicação dos protocolos orientados pelas autoridades sanitárias brasileiras e se coloca à disposição para informar os pecuaristas de todo o país sobre manejos seguros, mas reforça a necessidade de revisão dos acordos bilaterais para evitar a suspensão de exportações.

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