Santa Lúcia: 90 anos de dedicação ao melhoramento e fortalecimento da raça Devon

Propriedade em André da Rocha, nos Campos de Cima da Serra, é referência em seleção genética e produção de reprodutores de ponta 

A excelência na produção pecuária, com foco no aprimoramento genético e expansão da raça Devon, sempre pautou a história da família Barreto da Costa. Um legado que teve início há nove décadas, na Estância Santa Lúcia, em Lagoa Vermelha (RS), e hoje é continuado pelos descendentes Barreto Hoffmann, na Cabanha Santa Lúcia, a 50 km de distância, em André da Rocha (RS). Consolidada como uma das referências na seleção genética da raça, a propriedade mantém um rebanho moderno, com manejo voltado para a eficiência e o bem-estar dos animais, e muita história para contar.

“Estamos muito felizes em chegar até aqui, conseguimos evoluir a partir da base que meu avô construiu, desde a ideia de criar Devon, raça que somos apaixonados. Agradecemos a Deus pela oportunidade, além de bons negócios a raça também nos trouxe muitas amizades, em todo o Brasil e outros países”, resume Gilson Barreto Hoffmann, da terceira geração da família de criadores e diretor técnico da propriedade. “

Em busca de um melhoramento contínuo do rebanho, os investimentos em genética são constantes e o uso de ferramentas tecnológicas está integrado ao manejo do gado. Os touros são avaliados por ultrassonografia de carcaça, participam do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) e, além disso, a genotipagem de todo o plantel está em finalização. Também são utilizadas as principais técnicas de reprodução, como fecundação in vitro (FIV), transferência de embriões (TE), e, mais fortemente, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

Touro DEVON Sombrinha 2937 de Santa Lucia
Foto: Cabanha Santa Lúcia

Segundo Hoffmann, “acompanhar as novas tecnologias nos ajuda a usar somente animais com eficiência genética, para atender cada vez mais e melhor os nossos clientes”. A comercialização de touros gira em torno de 45 animais/ano, e o plantel, hoje, soma cerca de 250 matrizes PO. Os principais compradores dos reprodutores, machos e fêmeas, são criadores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

A genética do plantel Santa Lúcia contou com o reforço, ao longo dos tempos, de animais importados da Inglaterra, berço da raça Devon. Atualmente, a propriedade mantém um banco de sêmen de 50 touros, sendo 20 deles provenientes da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Inglaterra, principais países produtores de Devon, e alguns são raridades. “Temos material genético de touros usados há 50 anos. De vez em quando retornamos com essas linhagens, os frutos dessa genética antiga com uma geração atual são animais muito bons e diferenciados”, revela Gilson Barreto Hoffmann, também médico veterinário.

foto 1 Gado na Estância Santa Lucia 1955
(gado a pasto, em 1955)/ Foto: Arquivo familiar

Um legado construído com pioneirismo

A história da Santa Lúcia iniciou em 1935, em uma área arrendada no município de Lagoa Vermelha (RS), quando Amantino Barreto da Costa e a esposa, Lúcia Joana Barreto da Costa, recém casados, adquiriram os primeiros exemplares da raça Devon. O plantel foi sendo aprimorado aos poucos e a aquisição de um chão próprio, uma questão de tempo. O nome da propriedade foi homenagem à esposa e a Estância Santa Lúcia passou a ser referência na venda de reprodutores.

Célia Barreto da Costa Domingues, terceira dos cinco filhos do casal, relata que a raça, na época ainda pouco conhecida nos Campos de Cima da Serra, contribuiu para o melhoramento do rebanho da região. “A pelagem dos animais chamava a atenção e as pessoas queriam conhecer aquele gado diferente, muito manso e de raça definida, porque o que dominava era o gado geral. Então o pai despertou outros criadores para a compra de reprodutores e melhoria do gado que tinham em casa”.

O caçula dos irmãos, Danilo Barreto da Costa, lembra que Amantino enumerava as qualidades do Devon. “Além da carne diferenciada e muito mais saborosa, as vacas sempre foram boas mães e forneciam o leite que alimentou todos nós. Nosso pai tinha muita satisfação com a raça e dizia que o gado Devon corresponde a todas as expectativas, além de ser uma atividade rentável. E pelo exemplo próprio, ensinou que trabalhar com dedicação e honestidade nos leva a colher bons resultados”.

Herança de valor

Assim como os irmãos, Soely Barreto Hoffmann ganhou de presente de casamento, dos pais, dez novilhas e um touro Devon, como incentivo para uma nova criação. A primeira filha de Amantino e Lúcia também levou os ensinamentos e a paixão pela raça para a cabanha iniciante. “O pai pediu para eu e meus irmãos mantermos o nome Santa Lúcia, para reforçar a marca”, conta Soely, que anos depois repetiu a tradição oferecendo gado Devon aos filhos, nas bodas. “Acredito que estamos no caminho certo, nos modernizando e acompanhando as variadas mudanças na pecuária. O campo passou a ser melhorado e agora até as exposições são transmitidas ao vivo”, exemplifica.

A Cabanha Santa Lúcia é administrada pela matriarca Soely, junto com a família. “Todos gostam muito do Devon. Os netos, quando chegam, logo vão ver os animais, alisar. Eu torço para que o nosso trabalho continue ainda por muito tempo”.

Genética premiada

A qualidade dos animais colocou a Santa Lúcia no pódio de importantes exposições agropecuárias no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A primeira participação em pista foi em 1955, na feira estadual que ocorria no Parque Menino Deus, em Porto Alegre, por sugestão do então técnico do Devon, Luiz Fernando Cirne Lima.

As premiações, que são inúmeras, receberam em 2025 um reforço importante, com a conquista de mais de 20 troféus em feiras como Fenagen, Expointer, Expolages e ExpoAgro André da Rocha. “O sucesso nas pistas foi um grande presente de 90 anos”, comemora Gilson Barreto Hoffmann. Uma história de orgulho para a raça Devon e a pecuária brasileira.

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