Este artigo ressalta a importância da Raça Curraleiro Pé Duro, sendo esta, presente no Cerrado e nos sertões nordestinos, apresentando características corporais bem adaptadas ao clima quente e seco dessas regiões.
Autores: Lutyelle Nobrega Boeira¹, Francisco Araújo Ribeiro Neto².
Este artigo ressalta a importância da Raça Curraleiro Pé Duro, sendo esta, presente no Cerrado e nos sertões nordestinos, apresentando características corporais bem adaptadas ao clima quente e seco dessas regiões. Os animais conseguem se alimentar de pastagens nativas pobres em nutrientes, o que representa uma grande vantagem econômica para os criadores. As condições ambientais adversas, como chuvas escassas e irregulares, altas temperaturas e pastos rústicos e limitados, evidenciam a notável rusticidade e resistência dessa raça, perfeitamente ajustada ao ambiente em que vive.
Porém nem sempre aqueles que atuam na produção animal, na agropecuária ou no comércio do setor percebem plenamente a amplitude e a variedade dos diferentes grupos e interesses envolvidos, o que vem levando a perda deste grande recurso genético.
Introdução
O bovino Curraleiro/Pé-Duro originou-se do cruzamento de raças trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses, criadas em sistema extensivo e submetidas a um longo processo de seleção natural, o que resultou em animais bem adaptados e produtivos em diversas condições ambientais (FIORAVANTI et al., 2011). São animais extremamente rústicos, capazes de sobreviver em ambientes onde poucas outras raças conseguiriam se desenvolver. Possuem temperamento dócil e grande vigor físico, sendo amplamente utilizados para trabalhos de tração.
Além de sua rusticidade e capacidade de gerar mestiços de excelente qualidade (NEVES, 1918), o Curraleiro Pé-Duro representa um valioso recurso genético que, contudo, encontra-se ameaçado de extinção devido à substituição por raças mais produtivas e aos cruzamentos absorventes. Essa perda é agravada por fatores econômicos e produtivos, já que a raça apresenta menor porte, crescimento mais lento e baixo rendimento de carne. No entanto, deve-se reconhecer que esses animais sobrevivem em condições ambientais adversas, com pastagens pobres, clima quente e chuvas irregulares, demonstrando uma notável adaptação ao meio (CARVALHO, 1985).
Diante desse cenário, torna-se evidente que a preservação dessa raça e de seu material genético exige não apenas medidas técnicas, mas também ações integradas entre instituições e produtores rurais. A conservação on farm surge, assim, como uma estratégia fundamental para evitar a perda da agrobiodiversidade, dependendo do intercâmbio de conhecimentos e da cooperação entre os diferentes agentes do setor (BELLON, 2004; CHAMBERS, 1989).
Conclusão
Embora o Curraleiro Pé-Duro esteja em risco de extinção devido à substituição por raças de maior produtividade, ele possui características únicas de adaptação ao Cerrado, que o tornam economicamente viável em condições onde outras raças dificilmente sobreviveriam. Sua resistência ao calor, à escassez de água e à baixa qualidade das pastagens garante baixo custo de criação e boa eficiência produtiva dentro das limitações ambientais da região. Portanto, sua valorização e conservação são essenciais não apenas para preservar a biodiversidade genética nacional, mas também para manter sistemas de produção sustentáveis e adequados às realidades do semiárido e do Cerrado brasileiro.
Referências
- (BELLON, M. R. Conceptualizing interventions to support on-farm genetic resource conservation. World Development, v. 32, n. 1, p. 159–172, 2004.
- CHAMBERS, R. Rural Development: Putting the Last First. London: Longman, 1989
- CARVALHO, J. H. O gado Curraleiro: resistência e adaptação às condições do Nordeste brasileiro. Fortaleza: EMBRAPA-CNPC, 1985.
- FIORAVANTI, M. C. S. et al. Raça Curraleiro Pé-Duro: origem, características e conservação. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2011.
- NEVES, A. J. O gado Curraleiro no Brasil Central. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1918.
Autores
¹Médica Veterinária. Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano Campus Rio Verde.
E-mail: lutyboeira@gmail.com
²Zootecnista. Professor no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde, Rio Verde, GO, Brasil;
E-mail: Francisco.neto@ifgoiano.edu.br
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.