Segredo da lucratividade na pecuária: “Não preocupa quanto produz, mas quanto sobra”

Especialista defende que a vaidade por números pode levar fazendas à falência e aponta a gestão de margem como chave do sucesso

No cenário atual do agronegócio, existe uma corrida desenfreada por recordes de produção. No entanto, especialistas alertam que o volume bruto pode ser uma armadilha perigosa se não estiver atrelado a uma rigorosa gestão de custos. A verdadeira lucratividade na pecuária não está em quantos animais o produtor abate ou quantos litros de leite extrai, mas sim na margem líquida que permanece no caixa ao final do ciclo.

A reflexão vem de Paulo, gestor do Grupo Adir, uma referência nacional na seleção de gado Nelore. Segundo ele, diferentemente da agricultura, que se viu obrigada a uma profissionalização extrema para sobreviver, a pecuária ainda sofre com a falta de gestão focada no negócio. “O problema é a falta do dono estar junto, de viver da atividade. É aí que mora o grande negócio”, destaca.

O mito do volume vs. a real lucratividade na pecuária

Um dos erros mais comuns apontados pelo especialista é a “vaidade” dos números. É frequente encontrar produtores que se orgulham de abater milhares de cabeças de gado, mas que, ao colocarem os custos na ponta do lápis, fecham o ano no vermelho.

“O que preocupa nós, do Adir, é quanto sobra. Não preocupa quanto produz, isso é subjetivo”, afirma Paulo. Ele ilustra a situação com um exemplo prático de lucratividade na pecuária: “Eu vejo amigos dizendo: ‘Matei 6.000 bois esse ano’. Mas foi ruim, perdeu R$ 400 por boi. Eu prefiro matar 1.000 e ganhar R$ 400 em cada um. Eu não tenho a vaidade de matar 6.000”.

A lógica se aplica também à pecuária leiteira. Uma vaca de alta genética que produz 40 litros de leite pode parecer um ativo valioso. Porém, se o custo para manter essa produção (nutrição, manejo, sanidade) for equivalente a 38 litros, a sobra é de apenas 2 litros. Em contrapartida, uma vaca rústica que produz 9 litros a um custo baixíssimo de 2 litros, entrega uma sobra de 7. “Sete é mais que dois. E com menor investimento e risco”, sentencia o gestor.

Sustentabilidade financeira e gado adaptado

Para garantir a margem, o modelo de negócio defendido baseia-se em animais adaptados e sistemas sustentáveis, evitando a dependência excessiva de insumos externos, como grandes fábricas de ração. O conceito é claro: o produtor não pode trabalhar para sustentar o gado; o gado é que deve trabalhar para o produtor.

O Grupo Adir, que hoje detém cerca de 3% do mercado de sêmen Nelore no Brasil, opera com foco total na atividade pecuária, reinvestindo o próprio caixa na reforma de pastos e aquisição de terras, sem depender de aluguéis ou outras fontes de renda.

Adaptando a gestão para garantir a lucratividade na pecuária

Outro ponto crucial abordado é a escala. Não existe um número mágico de cabeças para se viver da atividade, mas sim um alinhamento entre a expectativa de vida do produtor e a capacidade do rebanho. “Não tem jeito de viver com 100 vacas querendo levar a vida de quem tem 1.000, e vice-versa”, explica Paulo.

Independentemente do tamanho — seja com 100, 1.000 ou 5.000 cabeças — a eficiência deve ser a regra. O produtor que busca recordes de produção a qualquer custo, inflando seus investimentos, corre o risco de ultrapassar o limite do negócio e quebrar, como já ocorreu com diversos recordistas do setor.

A conclusão é que a lucratividade na pecuária é um jogo de margem, não de volume. Um negócio limpo, familiar e sustentável é aquele que oferece retorno real para o parceiro e garante a longevidade da fazenda, longe das ilusões de ótica provocadas por números grandiosos sem base financeira.

Escrito por Compre Rural com informações do MF Cast.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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