Com o pasto coberto pelo gelo por até seis meses, produtores dependem de confinamento, estoque de ração e estruturas para enfrentar o frio extremo.
O inverno no Hemisfério Norte costuma se estender de dezembro a março, mas, para a pecuária dos Estados Unidos, seus efeitos práticos duram muito mais tempo. Em várias regiões produtoras, especialmente no Meio-Oeste e no Norte do país, o frio intenso e a neve mantêm o solo congelado por até seis meses, período em que o gado permanece estabulado ou em sistemas de confinamento.
Com o capim coberto pelo gelo, não há pastejo, e toda a alimentação e o conforto dos animais passam a depender do planejamento feito antes da chegada das temperaturas negativas. Para este inverno, as previsões indicam episódios de frio intenso, com neve frequente, rajadas de vento e eventos de tempestades severas, cenário que exige atenção redobrada dos pecuaristas.
Embora o gado de corte seja considerado resistente ao frio, especialistas alertam que o impacto do inverno vai além do que é visível. Segundo Chris Cassady, Ph.D. e diretor técnico de vendas para bovinos de corte da BioZyme, os animais até conseguem sobreviver a temperaturas extremamente baixas, que podem chegar a cerca de –29 °C. No entanto, o frio provoca alterações metabólicas e aumenta o estresse, afetando desempenho produtivo e imunidade. A chamada temperatura crítica inferior — influenciada por vento, umidade, pelagem e condição corporal — gira em torno de –8 °C para animais com pelagem de inverno, o que reforça a necessidade de manejo adequado.
Diante desse cenário, a preparação para o inverno passa por uma série de medidas práticas, que começam muito antes da primeira nevasca.
1) Barreiras contra o vento são prioridade
O vento é um dos principais agravantes do estresse térmico no inverno norte-americano. Por isso, o primeiro passo é reduzir o efeito do “wind chill”. Barreiras naturais, como fileiras de árvores ou arbustos, são amplamente utilizadas, assim como áreas de relevo mais elevado que funcionam como proteção natural. Onde isso não é possível, entram as estruturas artificiais, feitas de madeira, metal ou lonas específicas, sempre posicionadas de forma estratégica para bloquear os ventos predominantes. Reduzir a exposição direta ao vento pode significar menor perda de energia corporal e melhor aproveitamento da dieta.
2) Abrigos devem proteger sem comprometer a ventilação
Os abrigos de inverno, geralmente galpões abertos ou estruturas com três paredes, precisam equilibrar proteção e ventilação. A abertura costuma ser voltada para o sul, oposta aos ventos mais frios. Cada vaca necessita, em média, de 40 a 50 pés quadrados (aproximadamente 3,7 a 4,6 m²) para se acomodar com conforto. Além disso, a circulação de ar é fundamental para evitar problemas respiratórios e a formação de umidade e mofo. Sistemas de ventilação natural, como aberturas superiores nas paredes, ajudam a manter o ambiente seco e saudável.
3) Controle da lama é questão de saúde animal
Neve derretida, chuva congelante e acúmulo de água transformam áreas de descanso em lama, um grande inimigo da pecuária de inverno. Para evitar esse problema, os produtores utilizam camas profundas de palha, restos de milho ou maravalha, que isolam o gado do solo gelado. A reposição frequente do material mantém o ambiente seco. Sistemas de drenagem, uso de cascalho e piquetes de piso seco também são fundamentais para prevenir problemas de casco, estresse e perdas de desempenho.
4) Água e alimentação não podem falhar
No inverno, a exigência nutricional do gado aumenta, já que os animais gastam mais energia para manter a temperatura corporal. Ao mesmo tempo, o acesso à água se torna um desafio, devido ao congelamento. Bebedouros aquecidos ou isolados termicamente são indispensáveis para garantir oferta constante de água limpa. A alimentação precisa ser reforçada, com ajuste de dietas e estoque suficiente de volumoso e concentrado. Outro ponto crucial é a logística: o alimento deve estar próximo aos abrigos, evitando que os animais percorram longas distâncias sob frio extremo.
5) Preparação para eventos climáticos severos faz a diferença
Tempestades de neve, nevascas intensas e chuvas congelantes fazem parte da rotina do inverno nos Estados Unidos. Por isso, os pecuaristas precisam de planos de emergência bem definidos. Isso inclui áreas alternativas para abrigar o rebanho, reserva extra de ração, acesso facilitado a equipamentos e manejo cuidadoso para evitar superlotação. Manter os animais calmos e reduzir o estresse durante esses eventos é essencial para preservar a saúde do rebanho.
Ao final, a realidade da pecuária norte-americana no inverno deixa uma reflexão inevitável. Em regiões onde o gado passa metade do ano sem acesso ao pasto, totalmente dependente de estruturas, estoque de alimentos e manejo intensivo, o custo e a complexidade da produção aumentam significativamente.
Fica a pergunta ao leitor: diante dessas condições climáticas extremas, produzir carne é mais fácil nos Estados Unidos ou no Brasil, onde o clima permite, em grande parte do território, sistemas a pasto durante quase todo o ano?
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