Será o fim do seguro rural?

É terrível o que o governo federal está fazendo com essa política agrícola importantíssima para o agronegócio: o seguro rural

Em países como os Estados Unidos e diversos países da Europa, quase 100% da área plantada é assegurada, e quase 100% do valor do seguro rural é subsidiado e pago pelo governo. Mas por que tamanha prioridade?

Porque esses países entenderam uma coisa básica: sem seguro agrícola, não há segurança alimentar.

O governo sabe que, se o produtor rural não tiver como se proteger contra as intempéries climáticas, pragas, doenças ou variações de mercado, ele fica vulnerável. E se essa vulnerabilidade se concretiza em perda de produtividade, ele pode quebrar. E aí vem o efeito dominó: quebra o produtor, quebra a cadeia. Faltam alimentos, sobe o preço no supermercado, diminui o emprego no campo e nas cidades.

Se o produtor quebra, ele deixa de produzir alimentos, deixa de gerar empregos, renda, impostos… Ou seja, a economia como um todo sofre. Todos perdem.

O governo federal ainda não compreendeu isso com a seriedade necessária. O seguro rural, que deveria ser um instrumento de proteção da soberania agrícola, vem sendo progressivamente enfraquecido.

Em 2023, de um total de 100 milhões de hectares de área plantada, apenas 14 milhões estavam segurados — um tímido 14%. E mesmo essa pequena cobertura foi reduzida. A meta era ampliar para 20 milhões de hectares, mas o governo cortou quase R$ 500 milhões da subvenção ao seguro. O resultado? A área segurada caiu para apenas 7 milhões de hectares.

Ou seja, regredimos. E em 2025, esse número deve ser ainda menor. Estimativas indicam que apenas cerca de 5% da área plantada brasileira estará segurada. É praticamente como se o produtor rural estivesse jogado à própria sorte.

Essa situação tem consequências práticas, graves e imediatas. Vamos separar a análise por perfil de produtor.

Quem contrata operações com o Proagro é obrigado por lei a contratar o seguro. Mas o custo é absurdo.

Mesmo com linhas de crédito com juros subsidiados de 5% ao ano, o seguro obrigatório pode custar de 5% a 15% adicionais. Isso representa um aumento de 100% a até 400% no custo financeiro da operação.

Exemplo prático: um pequeno produtor que paga 5% ao ano de juros, e 10% de seguro, tem um custo total de 15% ao ano. Isso pode consumir totalmente a margem de lucro dele, que já é apertada por natureza. Ele trabalha no prejuízo. E se tiver um ano ruim? Quebra.

Além disso, a obrigatoriedade do seguro nessas condições acaba se tornando um peso injusto, porque quem mais precisa de proteção é quem menos consegue pagar por ela.

Nessa faixa, o seguro não é obrigatório, e o que ocorre é ainda mais preocupante. Se o banco ou a instituição financeira não exigir a contratação do seguro, muitos produtores simplesmente deixam de fazê-lo.

O motivo é o mesmo: não há margem suficiente para arcar com esse custo adicional. E como o governo não está subsidiando de forma adequada, o seguro se torna um produto inviável.

Ou seja, por falta de política pública eficaz, o risco está voltando para o colo do produtor, justamente num setor que, por natureza, já é extremamente volátil e imprevisível.

O agronegócio representa cerca de 25% do PIB brasileiro, e é o setor que mais sustenta o saldo da balança comercial. Sem exageros, o campo segura o Brasil.

Mas o produtor rural precisa ser tratado como um ativo estratégico, e não como um problema orçamentário.

Sem seguro rural, não há planejamento de médio e longo prazo. Não há estabilidade. Não há previsibilidade.

É urgente que o Governo Federal revise suas prioridades. Não basta retomar os níveis de 2023, 14 milhões de hectares segurados. É preciso ir além. É preciso ambição.

  • Restabelecer a subvenção de, no mínimo, R$ 1 bilhão ao ano;
  • Criar um plano plurianual de expansão do seguro rural, com metas claras e progressivas;
  • Incentivar linhas de crédito atreladas à contratação do seguro, com bônus para quem adere;
  • Garantir tratamento diferenciado para pequenos e médios produtores, com subsídios ainda maiores;
  • Promover campanhas de conscientização sobre o valor do seguro, especialmente em regiões com maior risco climático.

O objetivo deve ser claro: alcançar a cobertura de 100% das lavouras brasileiras com seguro rural subsidiado, como já fazem as potências agrícolas do mundo.

Sem seguro rural, o produtor fica desprotegido. Sem o produtor, não há comida, nem emprego, nem crescimento.

Proteger o agronegócio não é um favor, é uma estratégia nacional. Uma questão de soberania. Uma garantia de futuro.

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