
Com foco em cortes de gastos, redução de impostos e liberdade econômica, Javier Milei tenta recolocar a Argentina no mapa da competitividade global. Setor agropecuário é um dos maiores beneficiados — e o Brasil observa atento
Desde que assumiu a presidência, Javier Milei tem colocado em prática um plano ambicioso de liberalização econômica. O governo cortou subsídios, reduziu o tamanho da máquina pública e adotou medidas para conter a inflação, que chegou a ultrapassar 200% ao ano antes de sua posse. No centro dessa estratégia está o agronegócio, motor histórico da economia argentina e um dos setores mais impactados por décadas de intervenções estatais.
Entre as medidas mais simbólicas estão a redução das alíquotas de exportação sobre soja, milho, trigo e carne, além da promessa de eliminar retenções e simplificar as normas de exportação agrícola. Com isso, Milei pretende devolver competitividade a um setor que responde por mais de 60% das exportações do país.
Segundo o presidente, “o campo argentino voltará a ser o motor do crescimento econômico nacional”. E esse movimento, se bem-sucedido, pode mudar a dinâmica do comércio agrícola na América do Sul.
O impacto no agro argentino
Durante anos, produtores rurais argentinos conviveram com impostos pesados, controles cambiais e cotas de exportação que desestimulavam investimentos. A nova política busca justamente o oposto: abrir mercados, reduzir a interferência estatal e criar um ambiente mais previsível para o setor privado.
Associações rurais do país, como a Sociedade Rural Argentina, comemoraram as medidas. “A retirada das retenções é um passo histórico. Isso nos devolve oxigênio para investir, empregar e produzir mais”, afirmou o presidente da entidade em entrevista recente.
Com câmbio mais livre e impostos menores, o agro argentino pode aumentar sua competitividade global, reacendendo disputas diretas com o Brasil nos mercados de soja, milho, carne bovina e trigo.
As lições para o Brasil
Especialistas apontam que o caso argentino pode servir de espelho — e alerta — ao Brasil. Embora o país mantenha um ambiente de negócios mais estável, custos tributários e gargalos logísticos ainda pesam sobre a produção nacional.
Para o economista rural José Roberto Mendonça, da FGV Agro, “se a Argentina conseguir tornar seu agronegócio mais ágil e competitivo, o Brasil pode ser obrigado a revisar seus próprios entraves. Isso inclui desde o sistema tributário até a burocracia para exportação e licenciamento ambiental”.
Além disso, a simplificação regulatória e a abertura comercial defendidas por Milei apontam para uma agenda que também interessa ao agro brasileiro, que enfrenta complexidade fiscal e custos logísticos elevados, especialmente em regiões distantes dos portos.
Competição e oportunidades regionais
Há quem veja, porém, um lado positivo para o Brasil. A reativação da economia argentina pode ampliar o mercado regional para maquinários, insumos, defensivos e genética animal brasileiros, fortalecendo a integração comercial do Mercosul.
Ao mesmo tempo, o sucesso das reformas pode pressionar o governo brasileiro a avançar em pautas como a Reforma Tributária, a modernização de regras ambientais e a melhoria da infraestrutura logística, pontos considerados decisivos para manter a liderança mundial em exportações agrícolas.
Desafios e riscos
Apesar do otimismo inicial, Milei enfrenta forte resistência política e social. A retirada de subsídios e cortes drásticos no setor público têm gerado protestos em Buenos Aires e outras cidades. Além disso, o impacto social das reformas ainda é incerto, com aumento temporário do desemprego e da pobreza.
Economistas alertam que, sem estabilidade institucional e segurança jurídica, o entusiasmo dos investidores pode ser passageiro. No entanto, se as reformas conseguirem estabilizar a inflação e destravar o potencial produtivo do país, a Argentina poderá voltar ao protagonismo internacional — e obrigar o Brasil a se adaptar rapidamente ao novo cenário.
Enquanto o governo Milei tenta reerguer a economia argentina com uma guinada liberal, o agronegócio desponta como o principal laboratório dessas mudanças. Para o Brasil, observar o vizinho pode ser mais do que curiosidade: pode significar entender como políticas econômicas mais abertas podem acelerar — ou ameaçar — a competitividade de um dos maiores setores da economia nacional.
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