Suínos podem consumir bolachas e outros produtos de panificação, desde que avaliados e processados. Alternativa sustentável que reduz custos e desperdícios
O uso intensivo de ingredientes também consumidos por humanos, como milho e soja, torna a alimentação animal um ponto crítico para a sustentabilidade dos sistemas produtivos. A demanda global por proteína de origem animal deve crescer entre 60% e 70% nas próximas décadas, especialmente em regiões com instabilidade no acesso a alimentos, como países em desenvolvimento (MAKKAR, 2018).
Nos sistemas industriais de criação de suínos, os cereais correspondem a cerca de 60% da formulação das rações (GOVONI et al., 2023), aumentando a competição entre a nutrição animal e humana. O reaproveitamento de alimentos industrializados descartados, como produtos de panificação, pode reduzir essa competição e favorecer modelos produtivos mais sustentáveis. Entretanto, essas alternativas exigem avaliação nutricional cuidadosa, considerando a composição lipídica e seus efeitos sobre a carne e a microbiota intestinal dos animais (HARTINGER et al., 2024).
Essa estratégia está alinhada à Agenda 2030 da ONU, que incentiva a redução de perdas ao longo da cadeia produtiva de alimentos, ampliando a disponibilidade de alimentos, diminuindo impactos ambientais da produção agropecuária e minimizando perdas econômicas (FAO, 2021).
Os suínos são particularmente eficientes na transformação de sobras e excedentes alimentares em proteína de alto valor nutricional, mantendo os nutrientes ativos na cadeia produtiva e evitando desperdícios (TRETOLA et al., 2024). Sua natureza onívora e digestão versátil permite o aproveitamento seguro de subprodutos da indústria alimentícia, incluindo produtos de panificação, massas, resíduos de cereais, laticínios e outros alimentos fora do padrão de comercialização. Quando avaliados quanto à segurança microbiológica e qualidade nutricional, esses materiais podem ser incorporados à dieta, reduzindo custos e diminuindo a competição direta por grãos comestíveis (ENVIRONMENTAL LITERACY COUNCIL, 2025).

Os Produtos Alimentícios Antigos (FFPs), ou ex-alimentos, destacam-se como alternativa eficiente na nutrição de suínos. Devido ao seu alto valor energético e à boa digestibilidade, podem ser utilizados em dietas de leitões pós-desmame, fase que demanda ingredientes de alta energia (PAPATSIROS et al., 2025). A substituição parcial de ingredientes convencionais por farinha de padaria pode reduzir custos de produção em até 20% por kg de ganho em suínos em crescimento.
Esses subprodutos passam por etapas de separação, moagem, mistura e remoção de umidade, tornando-se estáveis e seguros para formulação de ração. Regulamentados como insumos para alimentação animal, os FFPs são compostos por alimentos industrializados prontos que deixam de ser vendidos devido a falhas de produção, armazenamento ou rotulagem, apesar de ainda apresentarem qualidade nutricional; não são resíduos, mas sim matérias-primas legalmente comercializáveis, permitindo reduzir perdas e promover economia circular (MALAMAKIS et al., 2023).
Segundo o MAPA, diversos resíduos da indústria de cereais e farinhas, como bolachas, pães, massas, tortilhas e panetones, são autorizados para alimentação animal, desde que os rótulos indiquem garantias mínimas de umidade, fibra bruta, proteína bruta, extrato etéreo e matéria mineral.
A produção de biscoitos envolve riscos que devem ser controlados, como contaminações físicas, químicas e biológicas. O cozimento reduz a carga microbiana, mas pode gerar compostos indesejáveis, como acrilamida. Assim, mesmo produtos nutricionalmente interessantes devem ser avaliados quanto à segurança antes de serem utilizados (PASQUALONE et al., 2021).
Conclusão
Os suínos podem consumir bolachas, pães, massas e outros produtos de panificação, desde que esses materiais passem por avaliação, processamento e controle nutricional adequados. Não é mito que suínos os comem; o equívoco está em supor que isso possa ocorrer de forma indiscriminada e sem riscos.
O uso desses ingredientes requer padronização, rastreabilidade e fiscalização, conforme determina o MAPA. Quando respeitados os critérios técnicos e legais, os FFPs representam alternativa sustentável e economicamente viável, reduzindo desperdícios, promovendo economia circular e diminuindo a competição entre alimentação humana e animal.
Letícia Rodrigues Fernandes¹, Stéfane Alves Sampaio², Cibele Silva Minafra³, Ana Maria Vilas Boas Morais⁴, Marco Antônio Pereira da Silva⁵.
¹ Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde. E-mail: lrleticiarodrigues028@gmail.com
² Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Agroquímica, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde. E-mail: stefanesamp@gmail.com
³ Professora no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: cibele.minafra@ifgoiano.edu.br
⁴ Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde. E-mail: anamariavbm@outlook.com
⁵ Professor no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, Rio Verde, GO, Brasil. E-mail: marco.antonio@ifgoiano.edu.br
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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