Veja como funciona a sustentabilidade na cadeia avícola

Sustentabilidade está ligada com a capacidade dos seres humanos de se manterem em um ambiente sem causar impactos nocivos a ele

Por vários autores* – No setor agropecuário brasileiro a avicultura se destaca com o progresso em genética, nutrição, manejo e sanidade, sendo a produção avícola uma das cadeias mais produtivas e importante no país. O Brasil é o líder mundial de exportações de carne de frango e o segundo maior produtor, ficando atrás somente dos Estados Unidos (ABPA, 2023).

O termo sustentabilidade iniciou sua propagação mundial a partir de 1972, durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na Suécia. O objetivo da Conferência foi discutir os assuntos relacionados a preservação do meio ambiente e da humanidade, o principal resultado foi um documento-síntese intitulado de “Only one World”, que unia os conceitos de crescimento econômico, preservação da natureza e desenvolvimento social, antes discutidos separadamente (ONU, 2022).

No dia a dia, a sustentabilidade está ligada com a capacidade dos seres humanos de se manterem em um ambiente sem causar impactos nocivos a ele, constituindo ações que objetivem o uso racional dos recursos.

A preocupação do consumidor com o bem-estar animal e a sustentabilidade do sistema de produção veem se intensificando e tem influenciado o mercado produtor a remodelar o seu sistema e buscar formas alternativas de produzir com maior qualidade, menor custo e sustentabilidade.

Os custos das matérias primas utilizadas na alimentação animal sofrem oscilações constantes, e com a expansão da cadeia avícola existe uma crescente demanda por produção de ração. Quando se avalia a grande necessidade de produção de rações para o setor juntamente com a alta nos preços dos principais ingredientes utilizados nas formulações (soja e milho), é possível verificar a dependência da atividade em relação a utilização de commodities (ANTUNES, 2019).

A utilização de fontes alimentares alternativas com melhor relação custo/benefício, como forma de reduzir as dependências de milho e soja, pode ser uma estratégia de grande impacto na viabilidade da produção animal (SANDSTRÖM et al., 2022).

Entre as matérias primas mais pesquisadas para se utilizar na alimentação animal estão os resíduos agroindustriais. Spiering et al. (2022), verificaram que é viável a inclusão de até 10% do bagaço de azeitona (um resíduo proveniente da extração do azeite) na alimentação de codornas.

A torta de amêndoa de dendê, a farinha do resíduo de tucumã, a torta de murumuru, a farinha de castanha-do-pará e a torta da semente de cupuaçu são fontes alternativas que podem substituir de forma parcial os ingredientes tradicionais na dieta animal (ALENCAR, 2023).

O resíduo de polpa de goiaba na alimentação de codornas de corte ao nível de 3%, é possível e viável sem que haja comprometimento no desempenho produtivo, obtendo maior viabilidade econômica (ANGELO, 2022).

Trabalhos atuais comprovam a possibilidade e viabilidade da utilização de resíduos agroindustriais na alimentação de aves, tornando a produção sustentável, além disso todos os resíduos produzidos na cadeia avícola tem potencial para ser reaproveitado em outros seguimentos.

Os resíduos gerados na produção avícola incluem as penas, cama de frango, resíduos de incubatório, mortalidade, abatedouro e águas residuais. Estes materiais são ricos em nutrientes e minerais, como nitrogênio, fosforo, cálcio, proteína, sódio entre outros (AKPORUBE et al., 2023). A maior parte desses resíduos gerados tem custos elevados para descarte, que normalmente é feito em aterros, composteira ou incinerados.

Alternativas sustentáveis para esses resíduos são o reaproveitamento após tratamento na fabricação de farinhas e fertilizantes, que vão retornar para a cadeia produtiva. De acordo com Mudulie et al. (2019), adicionando cama de frango às raçoes para gado de corte em um nível de 20% às necessidades do animal em proteína bruta, cálcio e fósforo são atendidas. Os efeitos benéficos da alimentação com silagem de milho à qual foi adicionada cama de frango também foram relatados.

Okta et al (2023) recomendam o uso de farinha de resíduos de incubação como substituto da farinha de peixe na ração artificial de lagosta na concentração de 20% a 40%. A utilização das farinhas de origem animal pode representar uma economia para os setores de produção animal, sendo fonte de fósforo, proteína e aminoácidos essenciais, e o processamento dos coprodutos dão destino aos resíduos, reduzindo o impacto ambiental da atividade. Na figura 1 é demostrado um fluxograma simplificado de uma produção sustentável.

Figura 1: Fluxograma simplificado de produção sustentável. Fonte: Autoria própria.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade (ONU, 2022). Para o desenvolvimento sustentável existe uma agenda 2030 com 17 objetivos propostos pela ONU (figura 2), e a cadeia de frango é capaz de contribuir com todos os objetivos (figura 3).

Figura 2: Agenda 2030. Fonte: Organização das nações unidas, 2022.
Figura 3: Contribuições da cadeia de frangos brasileira na agenda 2030. Fonte: Adaptado de Villa Alves et al. (2020).

É importante ressaltar o uso consciente e sustentável da água, que consiste em não desperdiçar, reutilizar e captar água da chuva. A RESOLUÇÃO Nº 503, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2021 define critérios e procedimentos para o reuso da água em sistemas de fertirrigação de efluentes provenientes de indústrias de alimentos, bebidas, laticínios, frigoríficos e graxarias (fábricas de farinha).

Em um estudo sobre tratamento avançado de efluentes de frigorífico de aves e o reuso da água, verificou que é possível realizar o reuso de 30% de toda a água consumida, considerando a água de reuso apenas nas etapas menos nobres, onde não há contato com a matéria prima (SCHATZMANN, 2009).

O planejamento para redução do consumo de água pode se dar através de soluções como implantação de novas tecnologias e equipamentos atrelados às estratégias de monitoria, certamente essas medidas representarão muitos ganhos e benefícios significativos nas áreas produtivas.

Para o uso consciente dos recursos naturais, uma alternativa é o uso de cisternas para coleta de água da chuva ou propriamente água de reuso, que representa um pilar fundamental da sustentabilidade na avicultura (SENS, 2022). Na figura 4, é possível acompanhar o ciclo da água no sistema de produção.

Figura 4: Ciclo da água no sistema de produção. Fonte: aviNews Brasil, 2022.

Uma questão pouco abordada na avicultura são as embalagens em que os produtos são armazenados. As embalagens possuem um papel fundamental na indústria de alimentos, além de conter, conservar e proteger o alimento, mantém a qualidade e segurança, atuando como barreira a contaminações químicas, físicas e microbiológicas que possam colocar em risco a saúde do consumidor (JORGE, 2013).

O estudo realizado pela Tetra Pak® (2021), aponta que dentre as questões que devem ser priorizadas pelas marcas, os brasileiros mencionam a produção de embalagens sustentáveis (58%) e a produção de alimentos de forma sustentável (46%).

Minato et al. (2022), concluíram que a utilização de embalagens cujo material é biodegradável ou de fonte renovável podem ser aplicados em produtos congelados a base de frango que possuam vida de prateleira de 12 meses, visto que os parâmetros intrínsecos do produto não sofreram alterações, quanto à viabilidade financeira destaca-se que, a embalagem primária representa 5,7% do custo final. No caso de se implementar o uso de embalagens biodegradáveis, esse material custa em média 25% a mais em relação a embalagem padrão, gerando um aumento de 1,5% no custo final do produto, já as embalagens de fonte renovável têm um custo 19% acima do material de embalagem padrão, aumentando em 1,1% o custo do produto final.

Assim sendo, as empresas do ramo avícola devem procurar meios de se adequar as novas exigências do mercado, a fim de atender a demanda e produzir de forma sustentável, implantando medidas que estejam dentro da sua realidade de forma a contribuir com o meio ambiente.

Autores: Cálita Cabral Martins Silva; Marco Antônio Pereira da Silva; Cibele Silva Minafra.

*Referências bibliográficas com os autores.

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