
Esse é o terceiro artigo da série: sustentabilidade e os pilares da pecuária brasileira; 15 milhões de pessoas estão ocupadas com atividades agropecuárias no Brasil
Por Ana Carolina Monteiro* – Por meio dos Censos Agropecuários, realizados há um século pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível perceber que a realidade do espaço rural brasileiro é diversificada. Abarca desde extrativistas e outros produtores sem área, sistemas agrícolas tradicionais indígenas e de outros povos, agricultura familiar e não familiar, com produção destinada ao consumo próprio ou à venda, até estabelecimentos voltados exclusivamente à comercialização e à exportação, pautados pela lógica do agronegócio e das grandes propriedades (IBGE, 2017).
Pelo último censo, realizado em 2017, 15 milhões de pessoas estão ocupadas com atividades agropecuárias, em 351 milhões de hectares de áreas de estabelecimentos no Brasil. Oitenta e um por cento das propriedades são conduzidas por homens e 19% por mulheres, ambos, em sua maioria, na faixa etária entre 45 e 64 anos, e declarados de cor branca (47%) (IBGE, 2017).
Sobre percentual de presença no país, a organização MapBiomas (2023) informou que, em 1985, 48% dos municípios do país tinham o predomínio da agropecuária; enquanto, em 2023, esse predomínio chegou a 60% dos municípios.
Do pessoal que desenvolve atividades nas propriedades, 73% ainda têm algum parentesco com o produtor, em um dos 5.073.324 estabelecimentos agropecuários do país. Sobre a escolaridade do produtor brasileiro, 23,77% possuem apenas o antigo primário, 19,3% possuem o ensino fundamental, 12,68% cursaram o ensino médio, 5,58% concluíram um curso superior e 0,29% se atentaram para a importância de uma pós-graduação (mestrado e doutorado) (IBGE, 2017).
- Da série sustentabilidade:
- O pilar ambiental e a pecuária brasileira
- O pilar econômico e a pecuária brasileira
- O pilar social e a pecuária brasileira
Todos os participantes do sistema pecuário enfrentam um desafio significativo ao buscar equilibrar a viabilidade econômica, a responsabilidade ambiental e a justiça social. Na cadeia da carne bovina, o impacto pela redução de mão de obra qualificada no campo, mesmo que no setor urbano tenha havido registro de crescimentos ocupacionais, é um dos fatores sociais de maior destaque.
Segundo o Boletim “Mercado de Trabalho do Agronegócio Brasileiro”, do Cepea/CNA, do total de ocupações do Brasil, no 4º trimestre de 2023, 26,8% foram do agronegócio. O volume alcançado representa 28,34 milhões de pessoas trabalhando no agronegócio brasileiro, com crescimento de 1,2% entre 2022 e 2023, acréscimo de 341 mil pessoas.
De acordo com o estudo, a alta foi alavancada, principalmente, pelos crescimentos dos contingentes empregados nos agrosserviços, com aumento de 8,4%, ou 772,27 mil pessoas, e em insumos, com 5,1%, ou 14,54 mil pessoas. De acordo com os pesquisadores do Cepea/CNA, o avanço em ambos os segmentos “reflete o desempenho da produção dentro da porteira, o qual estimula os segmentos a montante e a jusante no agronegócio” (2024, p. 1).
Contudo, segundo informações do Boletim nº 65 do Centro de Inteligência da Carne Bovina da Embrapa Gado de Corte (CiCarne), de abril de 2024, no caso da agropecuária, o número de pessoas ocupadas no nível primário do setor caiu 5%, ou seja, cerca de 432,99 mil pessoas. No caso específico do agronegócio da carne bovina foi observada redução, em 2023, no valor de -2,7%, o que corresponde a 55.090 trabalhadores a menos.
Conforme o Boletim, essa diminuição tem ocorrido gradualmente. Em 2012, eram 10,23 milhões de pessoas no setor primário do agronegócio brasileiro. Dez anos depois, esse número caiu para 8,25 milhões. Uma diminuição de 19,35%, que equivale a 1,98 milhão de trabalhadores a menos no campo.
Dentre as principais causas, está a busca por melhor qualidade de vida, que inclui acesso a melhores empregos, à tecnologia, lazer, saúde, educação. Esse processo está sendo rápido em todo o mundo e é visível quando se observa que a parcela urbana da população mundial aumentou de 30%, em 1950, para 57%, em 2021. Estima-se que chegue a 68% até 2050 (CiCarne, 2024).
Nota-se na pecuária bovina brasileira, de imediato, uma população mais envelhecida, em sua maioria, mais resistente à adoção de técnicas agrícolas modernas e eficientes, com seu estilo de trabalho adaptado a uma jornada longa, de condições climáticas adversas e remuneração mediana.
Essa combinação de fatores reflete significativamente o “apagão de mão de obra no setor pecuário, um problema que ameaça tanto a sustentabilidade quanto a eficiência desse setor” (IBGE, 2017; CiCarne, 2024, p. 2).
De modo geral, os impactos residem na gestão inadequada dos rebanhos, seja por falta de pessoal ou de habilidades específicas, o que pode levar a um manejo deficiente da fazenda. Isso inclui alimentação irregular, falhas no controle sanitário e ineficiências na reprodução, o que potencialmente aumenta a vulnerabilidade dos animais às doenças e afeta a qualidade do produto final (CiCarne, 2024, p. 2).
Como solução, surgem propostas de trabalho como a da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS), de promover o setor por meio da capacitação e do engajamento com a sustentabilidade. Mostrando que é possível produzir com precisão tecnológica e, ao mesmo, tempo se envolvendo na educação rumo ao que a ex-diretora executiva, Luiza Bruscato, chamou, no podcast Podcarne sobre o “Sumário de Dados da Pecuária Sustentável”[1], de “jornada da sustentabilidade”, uma vez que ela não é o fim, mas o reflexo da melhoria contínua do setor.
Além disso, o CiCarne (2024) sugeriu a adoção de ferramentas de tecnologias e de gestão na substituição de algumas tarefas extenuantes, bem como a formalização de parcerias entre universidades e instituições do setor do agronegócio, como Embrapa e Senar, para fins de capacitar e melhorar a qualidade da mão de obra no campo, juntamente com o desenvolvimento de programas de qualidade trabalho que podem fazer toda a diferença.
Bibliografia com o autora
Ana Carolina Monteiro é jornalista e Doutora em Administração. Orientada pela Dra. Denise Barros de Azevedo, Professora ESAN/UFMS
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