Tecnologia chinesa perfura 680 poços e transforma deserto em área agrícola

Iniciativa impulsionada pela Nova Rota da Seda expande produção de trigo, batata e alfafa, reduz dependência alimentar e gera empregos no Egito, tudo isso, utilizando tecnologia chinesa

A transformação de regiões áridas do deserto egípcio em terras agrícolas produtivas deixou de ser apenas um sonho estratégico e começa a se concretizar com o avanço de tecnologias chinesas aplicadas no país. A gigante Zhongman Petroleum and Natural Gas Group (ZPEC), por meio de projetos vinculados à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), já perfurou mais de 680 poços profundos, viabilizando o cultivo de culturas como trigo, batata e alfafa em áreas antes completamente inóspitas.

O projeto integra o plano do governo egípcio, iniciado em 2015, de expandir a produção agrícola e reduzir a dependência de importações alimentares. Com o apoio tecnológico da China, a proposta ganhou tração e está beneficiando diversas regiões do país, especialmente no deserto ocidental.

Segundo Zhao Baojiang, gerente local da ZPEC, apenas na região de Owainat foram perfurados 63 poços com cerca de 450 metros de profundidade em menos de um ano. A operação superou obstáculos como tempestades de areia, temperaturas extremas e solos com alta complexidade geológica.

Produção estratégica de trigo

No Egito, o trigo é um alimento essencial: cada habitante consome, em média, 146 kg por ano, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). No novo polo agrícola de Owainat, um único feddan (0,42 hectare) pode produzir até 3 toneladas de trigo, o suficiente para alimentar 20 egípcios durante um ano, de acordo com Zhao Wutao, gerente geral da ZPEC no Egito.

Estamos tendo nossa primeira colheita de trigo este ano e estamos muito felizes por cooperar com a empresa chinesa”, afirmou Abou-elKhier Ibrahim, líder do setor Owainat no projeto Future of Egypt.

Inovação com tecnologia chinesa de perfuração

Para vencer os desafios impostos pela geologia local, a ZPEC aplicou em Minya — a 360 km ao sul do Cairo — a tecnologia de perfuração com espuma de ar, segundo Abumesalam Mohamed Gouda, gerente de operações. O método melhora a eficiência da escavação e previne colapsos, o que foi fundamental para o sucesso do projeto.

A fazenda da Canal Sugar Company, uma joint venture entre o Egito e os Emirados Árabes Unidos, também se beneficia da tecnologia. Com 193 poços escavados pela ZPEC, foi possível irrigar 30 mil feddans (cerca de 12.600 hectares). Em 2023, 22 mil feddans foram cultivados com beterraba para a produção de açúcar. “Isso não teria sido possível sem os poços da ZPEC”, relatou Hassan Gamal, gerente técnico da fazenda.

Impacto social e transferência de tecnologia

Além do aspecto produtivo, o projeto promove empregos e qualificação profissional. Mohamed Gaber, por exemplo, iniciou como operário e hoje é gerente de plataforma. “Tenho orgulho de crescer em um time como este”, disse.

Para Ahmed Galal, diretor do Instituto Superior de Cooperação Agrícola do Cairo, o impacto é direto: “Qualquer esforço na extração de água ou no aumento dos recursos hídricos leva a resultados positivos no desenvolvimento agrícola do Egito”.

Parceria estratégica entre Egito e China

Outros projetos entre os dois países, também sob a BRI, incluem a construção do Distrito Comercial Central da nova capital egípcia, uma cidade têxtil em Sadat City e a Zona Econômica de Cooperação TEDA Suez.

O economista Waleed Gaballah aponta que a China é cada vez mais percebida como um “parceiro de desenvolvimento”. Segundo ele, o acesso a tecnologias chinesas em energia renovável, veículos elétricos e manufatura pode representar uma “mudança significativa na vida das pessoas”.

Para Galal, os investimentos refletem uma relação equilibrada: “Esperamos mais aportes da China no país, porque esta parceria é, acima de tudo, mutuamente benéfica”.

Dessa forma, com a perfuração de centenas de poços e uso de tecnologia de ponta, o Egito dá um passo relevante rumo à autossuficiência alimentar e revitalização de áreas improdutivas, consolidando a cooperação sino-egípcia como exemplo global de inovação no deserto.

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