
Vale a pena adotar a Terminação Intensiva a Pasto em uma pequena propriedade; veja os benefícios, riscos e o que é necessário para começar
Por Fernando Lopa* – Se você tem uma propriedade de até 200 ou 300 hectares e está buscando formas de engordar bovinos de maneira mais eficiente, provavelmente já ouviu falar da Terminação Intensiva a Pasto, ou simplesmente sistema TIP.
Mas afinal, vale a pena adotar o TIP em uma pequena propriedade? Quais são os benefícios, riscos e o que é necessário para começar?
Como mentor de carreira e negócios no agronegócio, compartilho neste artigo um olhar direto e prático sobre o assunto, sem promessas milagrosas, mas com orientação real para quem está no campo.
Se você é produtor e está pensando em adotar o sistema TIP em uma pequena propriedade ou um consultor e pretende recomendá-lo a um produtor, quero te convidar a fazer uma reflexão antes de adotá-lo, pois como todo sistema que promete eficiência, ela tem suas exigências e seus limites, já que, ao mesmo tempo em que oferece resultados expressivos em ganho de peso e eficiência por hectare, o sistema também exige um nível de planejamento e manejo que nem sempre é evidente à primeira vista.

O que é o sistema TIP na pecuária?
O sistema TIP (Terminação Intensiva a Pasto) é uma estratégia de engorda acelerada de bovinos de corte, que combina o uso da pastagem com suplementação concentrada diretamente no cocho, no próprio piquete. O objetivo é acelerar o ganho de peso dos animais, com menor custo estrutural e maior aproveitamento da área de pasto.
Na prática, o bovino continua consumindo pasto, mas recebe também ração balanceada, geralmente entre 1,5% e 2% do seu peso vivo, que acelera a terminação. Essa combinação permite ganhos de peso aproximados aos do confinamento, além de, manter o animal no seu ambiente natural menos estressante.
Parece simples, desde que, seja conduzido com conhecimento técnico. Implantar esse sistema na intuição ou por conta própria é um erro comum que custa caro.
Quando vale a pena usar o sistema TIP?
Vale a pena quando você tem um bom pasto, acesso à suplementação de qualidade e capacidade técnica para monitorar o processo. Em propriedades bem manejadas, é possível alcançar entre 1,5 kg a 1,8 kg de ganho de peso diário por animal. Esse resultado é expressivo, e não exige curral fechado, não exige estrutura de confinamento, nem manejo intensivo de silagem. Com cochos bem dimensionados e acesso fácil a água de qualidade, muitos produtores conseguem adaptar áreas já existentes e dar início ao processo de intensificação de forma mais acessível.
Para o produtor, isso significa menor custo fixo, menor risco financeiro e maior flexibilidade. Para o consultor, é uma ferramenta poderosa para orientar seus clientes a intensificarem a produção com eficiência e mais sustentabilidade econômica.
Quais os benefícios mais visíveis?
Entre os principais pontos positivos, vale destacar:
- Custo de implantação reduzido – Em muitos casos, a propriedade já tem os elementos essenciais: pasto, água e mão de obra.
- Alta produtividade por hectare – o produtor consegue intensificar sem desequilibrar a propriedade financeiramente.
- Menor estresse animal – o bovino permanece no ambiente que conhece aumentando a taxa de engorde.
- Flexibilidade operacional – permite escalonar a produção através do ajuste da suplementação conforme o clima ou a pastagem e até reduzir a lotação em períodos críticos.
Isso tudo é possível. Mas não acontece sozinho. Precisa de acompanhamento, de ajuste e, principalmente, de apoio técnico.
Quais são os cuidados para não perder dinheiro?
O TIP funciona, mas quando mal planejada ou implantada no improviso, tende a gerar frustração, perda de desempenho e até prejuízo.
Um dos maiores erros que vejo é tentar intensificar sobre pasto degradado. A base do sistema é o pasto. A forragem precisa ser de qualidade, com bom teor de proteína e energia, se estiver fraca, rala ou de baixa qualidade, o concentrado vai trabalhar sozinho e não vai compensar. Você vai gastar mais do que deveria por quilo produzido.
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No sistema a dieta não está 100% sob seu controle. Diferente do confinamento, onde cada ingrediente está milimetricamente calculado, no TIP o desempenho depende da interação entre o pasto e o concentrado. Por isso, exige acompanhamento constante do escore ou peso dos animais.
Outro erro frequente é subestimar a necessidade de manejo. Mesmo sem uma estrutura complexa, o sistema exige controle constante: escore de fezes, comportamento de cocho, consumo da ração, condição corporal, saúde ruminal, equilíbrio de lotação e qualidade da água.
E atenção: o proprietário e os colaboradores precisam estar preparados. O sucesso do TIP depende de saber observar os sinais e de seguir as rotinas com precisão. Muitas vezes, estão acostumados com manejo mais simples, mas o sistema exige disciplina na distribuição de ração, manejo de lotação, rotação de piquetes e até mesmo no trato com os animais.
Além disso, o risco de degradação do solo é real. Se o manejo não for rotacionado e o dimensionamento da carga estiver acima da capacidade real, o resultado será perda de vigor do pasto, compactação do solo e queda da produtividade nos ciclos seguintes.
O produtor que tenta implantar o TIP por conta própria, sem apoio de um técnico de confiança, corre o risco de montar um sistema que “parece” certo no papel, mas que falha na prática.
Como decidir se a TIP é o caminho certo?
Aqui vai minha orientação como mentor: antes de decidir, sente com calma, faça as contas avaliando junto a um consultor ou técnico de confiança os seguintes pontos:
- Qual é a real qualidade do seu pasto?
- Você tem acesso constante ao suplemento concentrado com bom custo-benefício?
- Você e seus colaboradores estão preparados para realizar as rotinas exigidas pelo sistema?
- Qual é o ganho de peso esperado e em quanto tempo?
- Você possui uma estratégia alternativa e de fácil aquisição de volumosos em casos de seca ou muita chuva?
- Como está a infraestrutura de cochos, bebedouros e cercas?
- Qual será o custo do quilo produzido dentro do TIP comparado com seu sistema atual?
- Você consegue adequar o investimento e o custeio da operação ao seu fluxo de caixa?

Vale a pena investir no sistema em pequenas propriedades?
A Terminação Intensiva a Pasto é uma evolução natural dentro do processo de intensificação da pecuária brasileira. É uma forma inteligente de aumentar a produção, respeitando os limites da propriedade, os animais e o meio ambiente.
Para o pequeno produtor que quer crescer com eficiência, o TIP é uma das ferramentas mais interessantes hoje na pecuária de corte. Não se trata de uma moda ou solução mágica, mas de um sistema que, com técnica e acompanhamento, pode elevar sua produção por hectare e melhorar sua margem de lucro.
“Não entre nesse sistema “na confiança”. Não tente reinventar a roda.”
Procure apoio técnico. Converse com quem já implantou o sistema, faça um bom diagnóstico da sua realidade e não tome essa decisão sozinho.
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Comece pequeno, com um módulo piloto de 10 a 20 ha, e vá ampliando conforme os resultados aparecerem. Tenha um bom planejamento e metas claras. O importante é entender que o TIP não é apenas “dar ração no pasto”, é um sistema integrado, que exige observação de campo e tomada de decisão baseada em dados.
Um planejamento bem feito transforma o TIP numa ferramenta extremamente poderosa dentro de uma pecuária moderna.
Fernando Lopa é Mentor de Carreiras e Negócios para o Agronegócio
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