Troca de bezerros por boi gordo fica próxima da mínima e abre janela de oportunidade

Analistas destacam melhora no poder de compra em São Paulo, mas alertam que reposição segue cara no cenário nacional; confira como está a relação de troca de bezerros por boi gordo

O mês de agosto de 2025 trouxe alívio parcial para os pecuaristas. Em São Paulo, o recuo do ágio do bezerro frente ao boi gordo abriu espaço para negócios mais favoráveis, especialmente aos invernistas que buscam repor seus rebanhos. Porém, no cenário nacional, a relação de troca ainda segue pressionada e próxima de suas mínimas históricas, o que exige cautela.

Segundo a Scot Consultoria, o prêmio entre o bezerro e o boi gordo em São Paulo caiu 10 pontos percentuais na parcial de agosto, em comparação a julho. Para os recriadores paulistas, a conjuntura representa uma oportunidade.

A analista Mariana Guimarães resume o momento: “Tal conjuntura representa uma excelente oportunidade para o recriador, já que a relação de troca se mostra mais favorável”. Ela explica que fatores climáticos, como a frente fria que atingiu parte do estado, ajudaram a conter a valorização dos animais de reposição:

“A frente fria que atingiu diversas regiões paulistas acabou limitando o poder de negociação dos recriadores, enfraquecendo o ímpeto de valorização das categorias de animais não-terminados”.

Mesmo com o recuo dos preços, o mercado manteve firmeza.

“Apesar do recuo de preços nesta semana, o mercado de reposição seguiu ativo, com os leilões mantendo boa liquidez”, acrescenta Mariana.

Com a venda de um boi gordo de 19 arrobas, o produtor paulista hoje pode comprar 2,40 bezerros de desmama, ou ainda 1,47 boi magro, mostrando ganhos de até 8,9% no poder de compra frente ao mês anterior.

Relação nacional segue próxima da mínima

No cenário nacional, os dados do Cepea levantados pelo Farmnews mostram que a relação de troca chegou a 2,14 bezerros por boi gordo de 20 arrobas na parcial de agosto. O número é levemente superior ao de julho, mas ainda muito próximo da mínima histórica de 2,13 registrada em 2023.

O analista Ivan Formigoni explica o contexto: “Apesar de próximo da mínima para um mês de agosto, a relação de troca mostrou recuperação frente ao mês anterior, refletindo o momento de recuperação no preço do boi gordo”.

Ele alerta, porém, que a pressão sobre o invernista ainda é grande:

“É preciso atenção com relação ao poder de compra do pecuarista no curto prazo, ou seja, da relação de troca com o boi gordo”.

Entre 2010 e 2025, a média histórica da troca em agosto foi de 2,39 bezerros por boi gordo, com máxima de 2,75 em 2011, o que evidencia a defasagem do patamar atual.

Preços das commodities reforçam pressão

A valorização das commodities explica a dificuldade. O preço do boi gordo (Cepea) em agosto foi de R$ 304,70/@, alta de 29,6% em relação a 2024. Já o bezerro subiu 37,3%, aumentando a pressão sobre o custo de reposição.

Enquanto isso, o milho registrou queda no comparativo anual, favorecendo custos de confinamento, mas a soja se manteve em alta, impondo desafios adicionais.

Tabela 1 – Preços médios em agosto de 2024 e 2025

ProdutoAgosto 2024Agosto 2025Variação (%)
Boi gordo (@)R$ 235,10R$ 304,70+29,6%
Bezerro (cabeça)Base 100137,3+37,3%
Fonte: Cepea/Farmnews

Tabela 2 – Histórico da relação de troca em agosto

AnoBezerros por boi gordo (20@)
2011 (máxima histórica)2,75
2023 (mínima histórica)2,13
2025 (parcial até agosto)2,14
Média histórica (2010–2025)2,39
Fonte: Cepea/Farmnews

Expectativas para preço do bezerro, segundo analistas

No curto prazo, a Scot Consultoria prevê estabilidade para São Paulo. “A expectativa é de que o mercado paulista de reposição se mantenha firme, com possibilidade de ajustes pontuais a depender da demanda”, projeta Mariana.

Já Ivan Formigoni chama atenção para o mercado futuro do boi gordo, que segue pressionado: “O mercado futuro do boi gordo não tem acompanhado o movimento de recuperação no mercado físico, o que pode ser um movimento pontual de ajuste”.

Dessa forma, o cenário atual mostra uma contradição: em São Paulo, há oportunidades reais para invernistas aproveitarem a queda do ágio, mas no panorama nacional a relação de troca ainda é desfavorável e próxima da mínima histórica. Para quem depende da reposição, a estratégia deve ser cuidadosa, avaliando o momento de compra frente às perspectivas de valorização do bezerro nos próximos anos.

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