
Artigo traz informações importantes sobre o uso de antimicrobianos na suinocultura e a importância dos períodos de carência para a segurança alimentar
Por Vários autores* – A intensificação dos sistemas de produção na suinocultura moderna trouxe avanços significativos em produtividade, mas também aumentou os desafios sanitários. O uso de antimicrobianos tornou-se uma ferramenta essencial na prevenção e tratamento de doenças, além de, historicamente, ter sido empregado como promotor de crescimento. No entanto, a administração inadequada ou próxima ao momento do abate levanta preocupações quanto à presença de resíduos nos alimentos de origem animal.
Este artigo aborda as formas de utilização de antimicrobianos, a importância do respeito aos períodos de carência e o papel do médico veterinário na gestão sanitária e no cumprimento das legislações vigentes para garantir a inocuidade dos alimentos.
A suinocultura brasileira tem apresentado crescimento expressivo nas últimas décadas, impulsionado pela demanda interna e pelas exportações. A intensificação dos sistemas produtivos resultou em ambientes mais densamente povoados, com maiores desafios sanitários e aumento na pressão de infecção. Com isso, o uso de antimicrobianos tornou-se parte integrante dos programas de manejo sanitário, sendo empregados de forma terapêutica, preventiva ou como aditivos zootécnicos.
Contudo, a utilização indiscriminada ou sem controle adequado desses fármacos pode levar à presença de resíduos nos alimentos e à seleção de microrganismos resistentes. Esses fatores comprometem a segurança alimentar e colocam em risco a saúde pública. Assim, o cumprimento rigoroso dos períodos de carência e o uso racional dos antimicrobianos são fundamentais para garantir alimentos seguros e preservar a eficácia dos princípios ativos disponíveis.
Modalidades de uso de antimicrobianos na produção suína
- Uso terapêutico – É o tratamento de animais que já apresentam sinais clínicos de infecção. A administração pode ser individual, por via injetável, ou coletiva, por meio da água ou da ração;
- Uso metafilático – Utilizado quando há alguns animais doentes em um lote, com o objetivo de tratar os doentes e prevenir a disseminação da infecção entre os demais;
- Uso profilático – Indicado para prevenir o surgimento de doenças em momentos de maior vulnerabilidade dos animais, como no pós-desmame. Utiliza-se de forma coletiva, principalmente via ração;
- Uso como aditivo zootécnico – Consiste na administração de antimicrobianos em baixas doses para promover ganho de peso e melhorar a conversão alimentar. Este uso tem sido progressivamente restrito em diversos países e também no Brasil, em função da resistência antimicrobiana.
Riscos e controle de resíduos em alimentos de origem animal
A presença de resíduos de antimicrobianos nos alimentos representa um risco à saúde do consumidor. Entre os principais efeitos indesejáveis estão reações alérgicas, desequilíbrios na microbiota intestinal e, principalmente, a exposição a bactérias resistentes. Por isso, o período de carência (intervalo entre a última aplicação do fármaco e o abate ou coleta de produtos) deve ser rigorosamente respeitado.
O cumprimento desse período assegura que os níveis de resíduos estejam abaixo do Limite Máximo de Resíduos (LMR) estabelecido pela legislação. O não cumprimento pode levar a autuações legais, bloqueios de mercado e danos à imagem da cadeia produtiva.
Legislação e fiscalização no Brasil
No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) é o órgão responsável por regulamentar o uso de medicamentos veterinários, incluindo a definição de LMRs e períodos de carência. O Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC/Animal), instituído pela Instrução Normativa SDA n. 42, de 1999, é o principal instrumento de monitoramento de resíduos químicos nos alimentos de origem animal.
O MAPA também é responsável por fiscalizar os estabelecimentos produtores e por garantir que os alimentos disponibilizados no mercado interno e para exportação estejam em conformidade com os parâmetros de segurança alimentar.
Aplicação prática nas granjas e rastreabilidade
Nas granjas comerciais de suínos, uma das estratégias para garantir o cumprimento dos períodos de carência é o uso de fichas de acompanhamento dos lotes, onde são registradas todas as medicações aplicadas, suas datas, o princípio ativo e o responsável técnico.
Esse controle permite rastrear as medicações e calcular precisamente o momento ideal para o abate, evitando que animais sejam enviados antes da eliminação completa dos resíduos. A padronização desses procedimentos, aliada ao treinamento contínuo da equipe, contribui para a conformidade legal, reduz riscos sanitários e fortalece a credibilidade da cadeia produtiva junto ao consumidor e aos mercados internacionais.
A utilização responsável de antimicrobianos na suinocultura deve ser pautada por critérios técnicos, respaldo legal e foco na segurança alimentar. O médico-veterinário desempenha papel fundamental na elaboração dos programas sanitários, na escolha racional dos fármacos e no cumprimento rigoroso dos períodos de carência.
O fortalecimento das boas práticas agropecuárias, aliado à vigilância sanitária eficaz e ao uso de ferramentas de rastreabilidade, é essencial para garantir alimentos seguros, prevenir a resistência antimicrobiana e manter a competitividade da suinocultura brasileira.
Autores: Bárbara Virgínia Ferraz Dutra Torres, Marcos Túlio Preciozo, Ana Paula Cardoso Gomide e Marco Antônio Pereira da Silva
Referências Bibliográficas com os autores
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