
Ministério da Agricultura planeja nova regulamentação para acompanhar avanços tecnológicos do setor agropecuário; número de drones agrícolas supera 35 mil equipamentos desde 2021
Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro tem passado por uma revolução silenciosa, mas poderosa. Uma das faces mais visíveis dessa transformação é o uso de drones agrícolas no campo, que saiu de um nicho restrito para se tornar uma ferramenta estratégica presente em milhares de propriedades rurais.
Dados recentes revelados durante a DroneShow 2025, maior evento do setor na América Latina, mostram que o número de drones agrícolas em operação no Brasil saltou de pouco mais de 3 mil unidades em 2021 para aproximadamente 35 mil em 2025. Trata-se de um crescimento impressionante, mais de 11 vezes maior em apenas quatro anos.
Esse avanço tem relação direta com a publicação da Portaria nº 298 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), editada em 2021. O dispositivo legal foi um marco regulatório ao autorizar, de forma oficial, o uso de aeronaves remotamente pilotadas para aplicações agrícolas, como a pulverização de defensivos e a distribuição de insumos nas lavouras. Desde então, o setor passou a atrair investimentos, gerar novas oportunidades de trabalho e impulsionar a adoção de tecnologias de precisão no campo.
Durante o evento em São Paulo, o consultor técnico Eugênio Schroder destacou o caráter democrático da ferramenta. “O drone é uma tecnologia acessível, que pode ser utilizada em pequenas, médias e grandes propriedades. Ele se adapta às diferentes realidades do produtor rural, oferecendo agilidade, economia de recursos e maior precisão nas aplicações”, comentou.
No entanto, o crescimento acelerado do uso desses equipamentos também expôs um problema: a disparidade entre o número de drones em operação e aqueles efetivamente regularizados. De acordo com dados divulgados durante a DroneShow, apenas 2.618 drones estão devidamente cadastrados junto ao Mapa para atividades agrícolas, o que representa menos de 8% do total estimado. A portaria atual exige que os operadores tenham formação técnica específica e que os equipamentos sejam registrados no sistema oficial, mas esses requisitos nem sempre são cumpridos na prática.
A chefe da Divisão de Aviação Agrícola do Mapa, auditora fiscal Uéllen Colatto, reconheceu essa defasagem e alertou para a necessidade urgente de adequação. “A legislação precisa sair do papel. A profissionalização dos operadores é essencial para garantir a segurança das aplicações, a eficácia do processo e a proteção do meio ambiente”, afirmou.

Colatto também revelou que uma nova regulamentação está em fase final de elaboração. A proposta passou por duas audiências públicas e deve ser enviada em breve à Casa Civil. O objetivo é modernizar o arcabouço legal e criar um ambiente mais dinâmico e seguro para o uso dos drones no setor agropecuário. Entre as mudanças previstas, está a substituição do sistema atual (Sipeagro) pelo SDA Digital, uma plataforma mais moderna que promete agilizar processos como o credenciamento de instituições de ensino e a certificação de operadores.
Outro ponto central da nova proposta é o reforço das ferramentas de fiscalização. Atualmente, a clandestinidade no uso de drones representa um dos maiores desafios do setor, dificultando o controle das operações e colocando em risco tanto os aplicadores quanto as lavouras. A nova legislação trará diretrizes mais objetivas para permitir ações de fiscalização mais efetivas e combater a informalidade.
Durante o evento, o prestador de serviços André Veiga também chamou a atenção para a necessidade de estrutura mínima para quem deseja atuar profissionalmente com drones agrícolas. Segundo ele, o equipamento representa apenas uma parte do investimento. “Quem trabalha com drone precisa ter um aparelho reserva, baterias extras e planejamento logístico. Só o drone em si corresponde a cerca de 30% do custo total de operação”, explicou. Veiga estima que, para atender à demanda atual de todas as culturas agrícolas brasileiras, seriam necessários ao menos 50 mil drones operando de forma profissional e legalizada.
A DroneShow também contou com a participação de autoridades como o superintendente do Mapa em São Paulo, Estanislau Steck, e o engenheiro agrícola Lucas Fernandes de Souza, servidor do ministério. Em sua apresentação, Souza abordou os avanços regulatórios, as possibilidades de uso dos drones em diferentes tipos de lavoura e os impactos positivos da tecnologia na produtividade e na sustentabilidade do setor agropecuário.
O crescimento do uso de drones agrícolas no Brasil não é apenas um reflexo da inovação tecnológica, mas também da capacidade do setor em se adaptar a novas demandas e realidades. No entanto, o desafio agora é garantir que esse crescimento venha acompanhado de segurança jurídica, capacitação técnica e fiscalização eficiente, assegurando que os benefícios cheguem a todos os elos da cadeia produtiva.
Se bem regulado e profissionalizado, o mercado de drones agrícolas tem potencial para transformar radicalmente a forma como o Brasil produz alimentos, fibras e energia — e para consolidar o país como referência global em agricultura de precisão.
Escrito por Compre Rural
VEJA MAIS:
- A atuação do médico-veterinário na segurança dos alimentos
- Cavalo Crioulo conquista o Rei do Gado e Roque Quagliato compra exemplar da raça
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.