Veja como é possível manter a engorda a pasto o ano todo

Saiba como a suplementação estratégica, o ajuste de lotação e o planejamento forrageiro são as chaves para vencer a sazonalidade, evitar o efeito sanfona e garantir a máxima eficiência na engorda a pasto durante os 12 meses do ano

Todo pecuarista sabe que o capim é o insumo mais barato da porteira para dentro, mas depender exclusivamente dele sem estratégia pode custar muito caro ao final do ciclo. No Brasil, o grande desafio de manter a rentabilidade da engorda a pasto durante os 12 meses do ano é o que separa as fazendas tecnificadas das que apenas sobrevivem. Enquanto nas águas o ganho de peso é facilitado pela natureza, a seca impõe uma dura realidade que ameaça o fluxo de caixa.

O cenário é conhecido: o gado ganha carcaça na chuva e perde na estiagem. Esse modelo, no entanto, não cabe mais na pecuária moderna de ciclo curto. A viabilidade econômica do sistema exige que o produtor vença a sazonalidade climática, transformando o pasto seco de um problema em uma variável controlável.

Para garantir que a engorda a pasto continue eficiente mesmo quando a chuva para, é necessário abandonar o improviso. A chave está em antecipar o período crítico com manejo inteligente, ajuste de carga e nutrição precisa. Afinal, boi que perde peso na seca está, na verdade, consumindo o lucro obtido nas águas.

O impacto da sazonalidade na engorda a pasto

Entender o ciclo climático é o primeiro passo para o planejamento. A sazonalidade afeta diretamente a base alimentar do rebanho. Durante a primavera e o verão, o crescimento das forrageiras é vigoroso, oferecendo proteína e energia. Contudo, no outono e inverno, a planta entra em senescência.

Na prática, isso resulta em três problemas críticos para a engorda a pasto:

  • Redução da massa verde: Menos comida disponível no cocho natural.
  • Queda nutricional: Diminuição drástica da proteína bruta e da digestibilidade.
  • Competição: Sem ajuste de lotação, o gado compete por recursos escassos.

Segundo pesquisas do setor, o estresse térmico somado à falta de água e alimento de qualidade pode travar o ciclo produtivo, transformando o lucro esperado em prejuízo operacional.

Desempenho animal: o custo da falta de planejamento

A diferença de desempenho entre as estações é brutal sem intervenção técnica. Números da Embrapa Gado de Corte revelam que, no período das águas, o Ganho Médio Diário (GMD) pode superar 800g/dia. Em contrapartida, na seca, sem suplementação, esse número pode despencar para menos de 300g/dia (ou até levar à perda de peso).

Essa oscilação gera um efeito dominó na fazenda:

  1. Atraso no abate: Animais permanecem mais tempo na propriedade, girando o capital de forma lenta.
  2. Aumento de custos indiretos: Mão de obra e sanidade continuam custando, mesmo que o boi não ganhe peso.
  3. Sobrepastejo: A tentativa de manter muitos animais em pastos degradados compromete a rebrota futura e a saúde do solo.

Gestão de forragem e ajuste de lotação

Não basta apenas colocar cocho; é preciso gerenciar o capim. A viabilidade da engorda a pasto passa obrigatoriamente pelo planejamento forrageiro iniciado ainda nas águas.

Ajuste da Taxa de Lotação: Um erro comum é manter a mesma quantidade de gado das águas (1,5 a 2,5 UA/ha) durante a seca. O recomendado é reduzir a carga para 0,5 a 1 UA/ha, seja através da venda antecipada de animais menos produtivos ou da concentração de esforços nos lotes de terminação.

Reserva de Alimento: Técnicas como o diferimento de pastagens (vedação), produção de silagem ou fenação são “seguros” contra a seca. Enquanto um pasto bem manejado pode produzir 8 toneladas de matéria seca/ano, áreas degradadas entregam menos de 2 toneladas, tornando a conta insustentável.

A sazonalidade não é uma surpresa, mas um evento cíclico e previsível. Transformar a engorda a pasto em um sistema de “boi sanfona” é uma escolha de gestão, não uma imposição do clima.

Para o produtor moderno, integrar a gestão financeira com o planejamento nutricional — comprando insumos na baixa e ajustando a lotação antes da crise — é o que define a permanência na atividade. Com tecnologia e estratégia, é plenamente possível manter o gado ganhando peso o ano todo.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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