
Entidade que reúne 45% do rebanho brasileiro reforça estratégia para proteger preços do mercado do boi gordo diante do tarifaço dos EUA e da menor oferta de animais terminados
Diante do anúncio das tarifas adicionais sobre as exportações de carne bovina para os Estados Unidos, que entram em vigor nesta quarta-feira (6), a União Nacional da Pecuária, que já atua na articulação política e técnica em defesa do setor, representa pecuaristas de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Rondônia e Pará, reunindo cerca de 107 milhões de cabeças de gado, o equivalente a 45% de todo o rebanho bovino brasileiro, disse que já orientou seus associados a vender apenas o necessário para honrar compromissos já assumidos, aguardando um cenário mais claro para as negociações.
O chamado tarifaço prevê taxa extra de 50% sobre a carne brasileira, o que, na prática, inviabiliza a competitividade no mercado norte-americano. Segundo o Governo Federal, os trabalhos para redirecionar essa produção e abrir novos mercados segue sendo efetuada. Anuncio recente mostrou o avanço do México, assumindo o segundo lugar com maior volume de carne bovina brasileira importada em julho, ultrapassando os EUA.
Estratégia para segurar preços
Segundo Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, a orientação de limitar as vendas pode ajudar a recuperar os preços no mercado do boi gordo aos patamares anteriores ao anúncio das tarifas. “Essa orientação é uma estratégia interessante para estimular a valorização. Hoje, inclusive, os preços já começaram a reagir. O escoamento da carne melhorou e a oferta está mais restrita”, avalia.
Torres ressalta que, apesar do impacto inicial, o Brasil exporta apenas 2% da sua carne bovina para os EUA, e que o volume pode ser redirecionado para outros mercados, reduzindo danos. Ainda assim, o clima de incerteza afeta o mercado interno, levando frigoríficos a pressionarem por preços mais baixos no gado.
Menor oferta impulsiona recuperação
O movimento de contenção de vendas coincide com a entressafra, período de menor oferta de animais prontos para abate. Isso contribuiu para que, já na abertura de agosto, o mercado apresentasse reação. De acordo com a Scot Consultoria, o boi gordo comum em São Paulo fechou nesta segunda-feira (4) a R$ 297/@, enquanto o boi-China atingiu R$ 302/@ (preços brutos no prazo).
O levantamento da Agrifatto aponta que, na média nacional, a arroba fechou a sexta-feira (1º) a R$ 287,72, com alta semanal de 2,09%. Minas Gerais se destacou, registrando valorização diária de 1,32%, com a arroba a R$ 290,86.
Cepea confirma avanço no preço do boi gordo
O Indicador do Boi Gordo Cepea/Esalq também registrou reação expressiva. Entre sexta-feira (1º) e segunda-feira (4), o preço saltou de R$ 294,35 para R$ 298,95/@, avanço de 1,56% em apenas um dia, equivalente a R$ 4,60 por arroba. Em dólar, a cotação passou de US$ 52,55 para US$ 54,29.
Perspectivas para 2025 e 2026
Para Alcides Torres, mesmo com o impacto do tarifaço, a tendência é de firmeza nas cotações nos próximos dois anos. O rebanho está reduzido após três anos de abate intenso de fêmeas, e o gado de reposição valorizou, sustentando os preços. “O tarifaço apenas atrasou um movimento de alta que já vinha acontecendo. Não dá para cravar até onde vai a arroba, mas a tendência é positiva”, diz.
O mercado futuro acompanha essa expectativa. Na B3, o contrato com vencimento em novembro/25 fechou a última sessão a R$ 334,85/@, alta de 1,33% na comparação diária.
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