Virada de chave no ciclo pecuário e baixa oferta: como será o mercado do boi gordo em 2026?

O próximo ano tende a marcar a transição do ciclo pecuário, com menor oferta de gado, desaceleração no abate de fêmeas e exportações sustentando a valorização gradual da arroba no mercado do boi gordo em 2026, aponta análise da Agrifatto

Depois de um longo período de liquidação intensa, o mercado do boi gordo caminha para uma mudança estrutural importante. Segundo a Agrifatto Consultoria, 2026 deve consolidar o início da virada do ciclo pecuário no Brasil, ainda que de forma gradual, marcada por redução da oferta de animais, ajuste no rebanho e maior protagonismo das exportações na sustentação dos preços.

De acordo com a consultoria, “a pecuária de corte não responde de maneira abrupta às mudanças do ciclo”. As decisões produtivas são de longo prazo, o que faz com que os efeitos do descarte elevado de fêmeas observado desde 2023 continuem influenciando o mercado, mesmo com sinais claros de transição .

Um ciclo que não vira de uma hora para outra

Na avaliação da Agrifatto, “a fase de baixa ainda não pode ser considerada completamente encerrada sob a ótica do abate de fêmeas”, mas o prolongamento desse movimento indica que o setor se aproxima de um ponto de inflexão. Há um limite estrutural para sustentar níveis tão elevados de descarte sem comprometer a base produtiva da pecuária.

Entre 2020 e 2022, a retenção acima do padrão histórico adicionou cerca de 1,63 milhão de ventres ao rebanho nacional. Esse aumento, combinado aos avanços em genética, nutrição, manejo e sanidade, elevou a eficiência produtiva e permitiu uma liquidação mais intensa nos anos seguintes. “Estima-se que aproximadamente 2,05 milhões de matrizes tenham sido abatidas nesse processo”, aponta a consultoria .

Rebanho encolhe e oferta começa a ceder

As estimativas da Agrifatto indicam que o rebanho bovino brasileiro encerra 2025 em retração, com cerca de 188 milhões de cabeças, uma redução próxima de 3% em relação a 2024. Para 2026, o número tende a cair ainda mais, se aproximando de 180 milhões de animais.

Segundo a análise, “essa diminuição é consequência direta do descarte elevado de fêmeas registrado nos últimos anos e reflete um ajuste estrutural do rebanho”. O movimento não ocorre de forma brusca, mas começa a impactar a disponibilidade de animais para abate, especialmente a partir da segunda metade de 2026 .

No volume de abates, o cenário segue a mesma lógica. Após 2025 registrar aproximadamente 42 milhões de cabeças abatidas, a projeção para 2026 é de cerca de 40,3 milhões, uma queda de 4,1%. Para a Agrifatto, “esse recuo sinaliza de forma mais clara o início da transição do ciclo pecuário”.

Menor descarte de fêmeas sinaliza virada

Outro ponto central da análise está no comportamento do abate de fêmeas. Para 2026, a expectativa é de desaceleração do descarte, ainda que os volumes permaneçam acima da média histórica. “O ano tende a marcar o início de uma transição gradual, com menor participação de matrizes nos abates em relação a 2025”, destaca a consultoria.

Esse movimento, segundo a Agrifatto, abre espaço para que a fase de retenção volte a ganhar força ao longo do ciclo, sem mudanças abruptas, mas com impacto direto na oferta futura de gado e na formação dos preços da arroba .

Indústria enfrenta margens apertadas

A análise também chama atenção para o cenário da indústria frigorífica. Em 2025, apesar da forte oferta de animais e do bom desempenho das exportações, as margens permaneceram pressionadas. O spread entre a carcaça casada e o boi gordo recuou para cerca de 1,3%, evidenciando um ambiente mais restritivo.

Segundo a Agrifatto, “a recuperação do preço do boi gordo reduziu o espaço para recomposição de margens”, enquanto o consumo interno seguiu fragilizado pelo endividamento do consumidor. Para 2026, o desafio tende a aumentar, já que a menor oferta de gado deve elevar o custo da matéria-prima, exigindo maior eficiência da indústria .

Exportações seguem como principal sustentação para preços ddo boi gordo em 2026

No campo da demanda, a consultoria é direta: “as exportações continuarão exercendo papel central na sustentação dos preços da arroba em 2026”. O Brasil mantém elevada competitividade no mercado internacional, com preços do gado entre 14% e 23% abaixo da média global dos principais exportadores.

Além disso, concorrentes relevantes, como Estados Unidos e Argentina, avançam para fases de retenção do ciclo, reduzindo sua oferta exportável. Para a Agrifatto, “a combinação entre menor oferta internacional e queda gradual da oferta brasileira reforça a expectativa de firmeza das cotações no próximo ano” .

Mercado interno pode reagir em 2026

No mercado doméstico, a expectativa é de melhora gradual. A Agrifatto avalia que fatores como ano eleitoral, maior circulação de renda e inflação mais controlada podem favorecer o consumo, ainda que de forma desigual.

Em 2025, apesar do crescimento da produção, a disponibilidade interna caiu cerca de 3%, absorvida pelo avanço de 15% nas exportações. Para 2026, com oferta mais ajustada, o mercado interno tende a deixar de ser um fator de pressão e pode contribuir para a sustentação dos preços.

O que esperar do boi gordo em 2026

A leitura final da Agrifatto é clara: “boi gordo em 2026 não será marcado por movimentos explosivos, mas por uma valorização gradual da arroba”. A virada do ciclo está em curso, sustentada por menor oferta de animais, redução do descarte de fêmeas e demanda externa firme.

Para o produtor, o novo cenário exige planejamento, disciplina comercial e uso de ferramentas de proteção. A pecuária entra em uma fase menos volumosa, mais competitiva e estrategicamente mais exigente — onde entender o ciclo e agir com antecedência fará toda a diferença.

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