
Para combater o problema com eficácia, o primeiro passo é entender o ciclo de vida desses insetos
Em junho de 2025, o alerta voltou a soar nas regiões agrícolas do Sul do Brasil. Após um período de calmaria, uma nova movimentação de gafanhotos foi registrada nas áreas de fronteira com a Argentina, despertando preocupação entre produtores e autoridades. Estima-se que a nuvem detectada neste ano tenha ocupado cerca de 12 km², superando, em extensão, o episódio de 2020, quando uma formação de 10 km² ficou estacionada na região de fronteira com o Rio Grande do Sul.
De acordo com a Embrapa, a espécie que mais preocupa é o gafanhoto migratório sul-americano (Schistocerca cancellata), conhecido pela capacidade de formar enxames com milhares de indivíduos. Diferentemente de outros tipos de gafanhotos, que vivem de forma isolada, esses insetos se agrupam e, juntos, avançam em grandes distâncias, impulsionados por correntes de vento. A cada dia, uma nuvem pode percorrer até 150 quilômetros, devorando uma ampla variedade de vegetações – já foram registradas perdas em mais de 400 tipos de plantas.
Conhecendo o inimigo: Biologia e comportamento
Para combater o problema com eficácia, o primeiro passo é entender o ciclo de vida desses insetos. Os gafanhotos passam por três fases distintas: ovos, ninfas (também chamadas de saltões) e adultos. O período entre a postura dos ovos e o surgimento dos adultos varia conforme as condições ambientais. Altas temperaturas e longos períodos de estiagem criam o ambiente ideal para a explosão populacional desses insetos.
Nas fases iniciais, as ninfas permanecem próximas ao solo e são menos móveis, o que representa uma janela de oportunidade para o controle antes que se tornem adultos com capacidade de voo.
Monitoramento: A linha de frente da prevenção
O sucesso no combate começa com a vigilância. Em 2025, o Ministério da Agricultura reforçou as orientações para que produtores e técnicos intensifiquem o monitoramento visual, especialmente em épocas de maior risco, como os meses de outono e inverno no Sul do país.
Entre os sinais de alerta estão o aparecimento de ovos no solo, danos característicos nas folhas e a presença de ninfas em deslocamento. O uso de armadilhas de solo e a troca de informações entre produtores de diferentes regiões têm sido estratégias recomendadas para antecipar surtos.

Controle físico e cultural: Soluções práticas e de baixo impacto
Antes de qualquer aplicação de defensivos químicos, as medidas culturais e mecânicas são as primeiras linhas de defesa. A prática da aração e da gradagem expõe ovos e ninfas a predadores naturais e a condições desfavoráveis, como a desidratação pelo sol.
Outras estratégias incluem a rotação de culturas, que dificulta a disponibilidade constante de alimento para os insetos, e o uso de culturas-armadilha, que atraem os gafanhotos para áreas previamente planejadas para o controle. Pequenos agricultores, por sua vez, têm optado por barreiras físicas e até por coletas manuais para impedir que o problema avance.
Controle biológico: O poder da natureza contra os invasores
Nos últimos anos, o uso de controle biológico ganhou força como alternativa sustentável e eficiente. Em 2025, pesquisas da Embrapa apontaram aumento da eficácia no uso de fungos entomopatogênicos como o Metarhizium anisopliae, capaz de infectar e matar os gafanhotos de forma natural.
A presença de predadores como aves (patos e galinhas), aranhas, besouros e parasitoides, como algumas espécies de vespas e moscas, também tem se mostrado essencial na redução das populações desses insetos. Muitos agricultores estão investindo na preservação de habitats naturais ao redor das plantações para estimular a presença desses aliados.
Controle químico: Medida extrema e com regras rígidas
Quando a infestação alcança níveis críticos, o uso de defensivos químicos passa a ser uma alternativa, mas sempre com cautela. Em 2025, os produtos mais utilizados continuam sendo os à base de piretroides e organofosforados, porém, com formulações mais modernas e de menor impacto ambiental.
As aplicações devem ser feitas no momento correto, preferencialmente nas fases iniciais de desenvolvimento dos gafanhotos, seguindo as recomendações técnicas e respeitando as exigências legais, como o uso obrigatório de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e o descarte seguro das embalagens.
Especialistas alertam que o uso indiscriminado de inseticidas pode causar efeitos colaterais graves, como a morte de inimigos naturais e o desenvolvimento de resistência nas populações de gafanhotos.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): A abordagem mais eficiente
O controle isolado de uma praga tão destrutiva já não é suficiente. Em 2025, o conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP) se consolida como a principal estratégia recomendada por instituições como a Embrapa e o Ministério da Agricultura.
O MIP combina ações preventivas, monitoramento constante, práticas culturais, incentivo ao controle biológico e, apenas em casos extremos, o uso de químicos. Essa abordagem não só protege as lavouras, mas também contribui para a preservação da biodiversidade e da saúde ambiental.
Ao investir em conhecimento, planejamento e ação coordenada, os produtores brasileiros estão mais preparados para enfrentar os desafios que os gafanhotos impõem ao campo. A proteção das lavouras é hoje uma tarefa que depende da união entre tecnologia, tradição e cuidado com o meio ambiente.
Escrito por Compre Rural com informações da Embrapa e Ministério da Agricultura
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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