Você sabe como começou a história do Mangalarga Marchador no Brasil?

Da chegada dos primeiros equinos em 1549 ao surgimento da marcha mineira, conheça a trajetória que formou o Mangalarga Marchador.

A história do cavalo no Brasil é, ao mesmo tempo, a história da ocupação, da pecuária e da formação cultural do país. Desde o primeiro desembarque desses animais em 1549, com Tomé de Souza, até o surgimento da raça Mangalarga Marchador, são mais de 470 anos de evolução, miscigenação e melhoramento conduzido pelos criadores que moldaram o cavalo de sela tipicamente brasileiro.

Trazidos da Península Ibérica, os primeiros equinos chegaram ao Brasil como animais de trabalho e transporte. Nas capitanias hereditárias, eram criados de maneira rudimentar, sem seleção definida, o que ao longo dos anos provocou degeneração dos tipos e perda de características desejáveis.

Apesar disso, esses cavalos se tornaram a base da pecuária colonial, expandiram-se por trilhas e sertões e chegaram a ser exportados para outras colônias portuguesas. A partir do ciclo do ouro, o interesse pelo melhoramento voltou a crescer: a necessidade de deslocamento entre as regiões mineradoras impulsionou a criação de animais mais fortes, resistentes e aptos às longas distâncias.

Durante os séculos XVII e XVIII, duas grandes propriedades foram decisivas para consolidar a produção de cavalos na colônia:

Fundada por Garcia D’Ávila, foi uma das maiores sesmarias do período colonial. Seus cavalos abasteciam o sertão nordestino e participavam ativamente da expansão pecuária em direção ao interior.

De propriedade de Antônio Guedes de Brito, dominava margens do Rio São Francisco e fornecia equinos para viajantes, tropeiros e colonizadores que avançavam para Goiás e Mato Grosso.

Cavalos de Donald Wilfred Strang, o primeiro criador a registrar a raça Mangalarga Marchador no estado de São Paulo. Foto: Strang Pecuaria

Essas duas vertentes, a baiana e a nordestina, formaram o primeiro grande tronco genético do cavalo brasileiro. Mais tarde, seriam decisivas para o surgimento de linhagens que confluiriam no Sul de Minas.

Enquanto o Nordeste expandia seus criatórios, o Sul também consolidava sua influência. Cavalos chegaram:

  • com Martim Afonso de Souza, em São Vicente;
  • com Pedro de Mendoza, em Buenos Aires;
  • e com Cabeza de Vaca, que entrou pelo Sul e seguiu rumo ao Paraguai.

Essas populações equinas, de forte herança espanhola e platina, avançaram pelo interior paulista até Sorocaba, o grande entroncamento tropeiro do período. Ali, o sangue sulino se misturou ao sangue nordestino, de origem portuguesa e baiana.

Dessa fusão nasceu a base genética dos cavalos das Minas Gerais, fundação do tipo que mais tarde daria origem ao Cavalo do Junqueira, matriz do Mangalarga Marchador.

Com a chegada de D. João VI ao Brasil, em 1808, inicia-se uma nova fase. A abertura dos portos facilitou a entrada de raças refinadas:

  • Alter Real, orgulho da nobreza portuguesa;
  • Cavalos do Cabo, trazidos por ingleses da Cidade do Cabo;
  • tipos árabes e ingleses, usados em corridas e montaria.
FAVACHO FUMAÇA matriz nascida em 1970, grande influência e colaboração no Marchador atual. Foto: Linhagem Favacho

Essa nova genética revolucionou os plantéis brasileiros. Em 1819, D. João VI criou a Coudelaria Real de Cachoeira do Campo, em Minas Gerais, transformando o estado em polo de aprimoramento equino.

A partir de 1812, os Junqueira levaram seus cavalos das montanhas mineiras para a região da Mogiana, no interior paulista. Nas planícies, o animal precisou se adaptar: ganhou mais resistência, firmeza e um novo tipo de andamento.

Foi nesse contexto que surgiu Colorado, garanhão liderado pelo lendário Capitão Chico. Colorado se tornou símbolo do Mangalarga Paulista, considerado por muitos especialistas como o verdadeiro cavalo de sela do Brasil.

Embora compartilhem parte da história, Mangalarga Paulista e Mangalarga Marchador seguiram caminhos diferentes. A origem do Marchador está diretamente ligada às fazendas mineiras da família Junqueira, em especial a Fazenda Campo Alegre, no Sul de Minas.

Os cavalos Alter Real, que chegaram com a Família Real em 1808, descendem:

  • da raça Andaluza,
  • de cavalos berberes,
  • e dos antigos tipos ibéricos.

Esse conjunto formou animais com:

  • porte elegante,
  • beleza marcante,
  • temperamento dócil,
  • e grande aptidão para montaria — características até hoje presentes no Mangalarga Marchador.
Cavalo Colorado, montado pelo Cel. João Francisco de Diniz Junqueira. Fazenda Boa Vista. Município de Orlândia-SP, 1934. Foto: Acervo Família Junqueira. 

A Comarca do Rio das Mortes reunia condições perfeitas para a criação: água abundante, vegetação rica e um clima favorável à produção de forragem. Isso fortaleceu os criatórios mineiros e permitiu o aprimoramento contínuo do plantel.

A ele é atribuída a formação definitiva da raça. Seu sobrinho, José Frausino Junqueira, também teve papel decisivo, valorizando a marcha como atributo essencial pela agilidade e resistência demonstradas em suas longas caçadas.

Entre as diversas versões para o nome, a mais aceita envolve a Fazenda Mangalarga, em Paty do Alferes (RJ). O proprietário, impressionado pelos cavalos dos Junqueira, levou alguns animais para o Rio de Janeiro.

Ao verem aqueles cavalos elegantes, as pessoas perguntavam:

“São os cavalos da Mangalarga?”

A referência virou nome. Mais tarde, o termo Marchador foi acrescentado para identificar os animais que, em vez de trotar, apresentavam marcha, característica que se tornaria marca registrada da raça.

Quando a ABCCMM abriu seu primeiro Livro de Registro, em 1949, a raça já estava consolidada. Hoje, com mais de 600 mil exemplares registrados, o Mangalarga Marchador é a maior raça de equinos de sela do Brasil e uma das mais admiradas do mundo.

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