
De acordo com a Embrapa, o cultivo protegido pode aumentar a produtividade entre 30% e 100%, dependendo da cultura e da tecnologia aplicada
Imagine uma produção agrícola capaz de resistir a temporais, ondas de calor, geadas e surtos de pragas, tudo isso enquanto entrega alimentos de alta qualidade, fora de época e com uso racional de recursos naturais. Essa é a proposta do cultivo protegido, uma técnica que vem transformando a forma de produzir no campo brasileiro e colocando o país no mapa da agricultura de precisão e sustentabilidade.
O que é cultivo protegido e por que ele é tão eficaz?
O cultivo protegido consiste no uso de estruturas físicas como estufas, túneis, telados e casas de vegetação para criar um ambiente artificialmente controlado para o crescimento das plantas. Nele, o produtor passa a controlar fatores decisivos como temperatura, umidade, luminosidade, irrigação e até entrada de pragas, garantindo maior estabilidade na produção.
De acordo com a Embrapa, o cultivo protegido pode aumentar a produtividade entre 30% e 100%, dependendo da cultura e da tecnologia aplicada. Por exemplo, a produção de tomate em estufas pode alcançar até 300 toneladas por hectare, enquanto no cultivo convencional dificilmente ultrapassa 150 toneladas.
Vantagens práticas do cultivo protegido:
Produção fora de época: Culturas como morango, alface, tomate e pimentão podem ser colhidas em períodos normalmente improdutivos, o que valoriza o produto no mercado.
Redução de perdas por intempéries: Com a lavoura protegida de granizo, ventos fortes e chuvas intensas, há queda de até 70% nas perdas que seriam comuns em campo aberto.
Menor uso de defensivos químicos: A barreira física criada pela estrutura reduz a entrada de pragas, o que permite reduzir em até 60% a aplicação de agroquímicos, segundo dados do setor de hortifruti.
Alta produtividade com menos espaço: Em áreas menores, como 0,5 hectare de estufa, é possível produzir o equivalente ao que se colhe em 2 a 3 hectares de cultivo aberto, o que favorece pequenos e médios produtores.
Irrigação de precisão: uso racional da água no campo
No cultivo protegido, cada gota conta. Sistemas de irrigação por gotejamento ou microaspersão são integrados a cronômetros e sensores que liberam a água na quantidade exata e no momento certo. Isso evita o desperdício e melhora o aproveitamento nutricional das plantas.
Eficiência hídrica: Enquanto no sistema convencional são necessários até 1000 litros de água para produzir 1 kg de tomate, o cultivo protegido com fertirrigação pode fazer o mesmo com apenas 200 litros — uma economia de 80%.
Menor lixiviação de nutrientes: Sem o excesso de chuvas, há menos lavagem do solo e maior fixação de fertilizantes, o que reduz os custos e o impacto ambiental.
Controle climático: proteção térmica e solar estratégica
As estruturas utilizadas atuam como verdadeiros escudos contra as adversidades climáticas. Materiais como plásticos agrícolas com aditivos anti-UV e telas de sombreamento com 30% a 50% de retenção de luz solar são usados para regular a entrada de luz e calor.
- Em regiões como o Sul do Brasil, estufas permitem o cultivo de hortaliças mesmo durante geadas.
Já em locais de clima quente, como o Nordeste, as coberturas evitam o superaquecimento e queimaduras nas folhas, mantendo a temperatura interna até 5°C mais baixa que a externa. - A ventilação — natural ou mecanizada — também é ajustada conforme o ciclo da cultura, garantindo o equilíbrio entre calor e umidade.
Controle sanitário e segurança alimentar
Outro grande diferencial é o controle fitossanitário. Ao limitar a entrada de insetos, aves e agentes externos, o cultivo protegido oferece um ambiente mais limpo e seguro, reduzindo os riscos de contaminação e doenças que afetariam tanto as plantas quanto o consumidor final.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), 80% das doenças em hortaliças vêm de fatores ambientais mal controlados, como umidade excessiva e pragas voadoras. O cultivo protegido corrige essas falhas com eficiência.
Um setor em crescimento no Brasil
O cultivo protegido ocupa atualmente cerca de 46 mil hectares no Brasil, sendo mais comum nas regiões Sul e Sudeste, principalmente para o cultivo de tomate, pimentão, morango, pepino e folhosas.
A expectativa é que esse número cresça mais de 20% até 2030, impulsionado pela demanda por alimentos frescos, produção orgânica e exportações.
Na 30ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas, realizada pela Embrapa Clima Temperado (RS), foram apresentadas tecnologias específicas para morango, batata, batata-doce e cebola, que demonstram como o sistema pode ser adaptado a diferentes tipos de cultura e solo.
Sustentabilidade e mercado
O cultivo protegido se alinha com as diretrizes da produção sustentável, promovendo:
- Redução do uso de insumos químicos
- Baixo impacto ambiental
- Segurança alimentar
- Valorização da mão de obra qualificada
Em um cenário onde as mudanças climáticas impactam diretamente a segurança alimentar global, soluções como essa se tornam estratégicas para garantir o abastecimento com responsabilidade.
O futuro da produção está protegido
O cultivo protegido não é apenas uma alternativa — é uma necessidade estratégica para a agricultura moderna. Ele oferece ao produtor controle sobre o imprevisível, maior produtividade com menor impacto ambiental e alimentos de qualidade superior, prontos para atender tanto o mercado interno quanto o internacional.
Ao transformar incerteza em planejamento, o cultivo protegido representa um avanço decisivo rumo a uma agricultura mais inteligente, eficiente e sustentável.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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