Fraude bilionária abalou o agronegócio em Goiás e expôs falhas graves nas negociações do setor. Agricultores tiveram prejuízo de R$ 400 milhões
O agronegócio brasileiro foi marcado, nos últimos anos, por um caso que entrou para a história como o maior golpe já aplicado contra o setor. Produtores rurais de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, acumularam prejuízos estimados em R$ 400 milhões após serem vítimas de um sofisticado esquema de estelionato e lavagem de dinheiro, revelado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.
O grupo criminoso, segundo as investigações, era liderado por Vinícius Martini de Mello e Camila Rosa Melo, que se apresentavam como corretores de grãos. Eles compravam soja, milho e algodão oferecendo preços acima do mercado, recebiam a produção, mas não realizavam o pagamento ou quitavam valores inferiores aos negociados. Em outros casos, os grãos eram revendidos a terceiros, sem que o dinheiro chegasse aos produtores.
Para ocultar as fraudes, a organização utilizava empresas de fachada, conhecidas como “noteiras”, que emitiam notas fiscais frias e permitiam a lavagem de dinheiro e a sonegação de impostos. O esquema operou desde 2021 e movimentou cifras bilionárias, com impacto não apenas para os agricultores, mas também para a arrecadação do Estado de Goiás.
A dimensão do golpe veio à tona com a Operação Deméter, deflagrada no fim de novembro, quando a Polícia Civil prendeu parte do grupo e denunciou 16 pessoas, incluindo familiares dos líderes. Ao todo, 468 veículos, duas aeronaves e imóveis de luxo foram apreendidos, somando cerca de R$ 200 milhões em bens, além do bloqueio judicial de até R$ 19 bilhões movimentados pelo esquema em que agricultores tiveram prejuízo de R$ 400 milhões.
Os principais articuladores, Vinícius e Camila, fugiram para os Estados Unidos e passaram a integrar a lista vermelha da Interpol, sendo procurados internacionalmente. Segundo a polícia, pelo menos 13 produtores rurais foram diretamente lesados.
Classificado pelas autoridades como um dos casos mais emblemáticos de fraude no agronegócio brasileiro, o episódio expôs fragilidades nas negociações informais do setor e deixou um alerta claro ao campo: mesmo em um ambiente historicamente baseado na confiança, a adoção de garantias e controles se tornou indispensável.
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