Arroba do boi vai subir em 2024? Confira a previsão para este ano

Especialistas indicam que os exportadores brasileiros precisarão criar estratégias para lidar com o cenário de preços da arroba do boi, considerando a abertura de mercados “premium”; entenda

Em meio a mudanças significativas no cenário econômico global, o comércio da carne bovina brasileira, especialmente com a China, está passando por uma transformação notável. O ágio que um dia chegou a R$ 30 por arroba em São Paulo, referente ao boi gordo que atendia às exigências dos importadores chineses, agora se vê reduzido a aproximadamente R$ 5 por arroba, conforme revelado por um recente levantamento da Safras & Mercado.

A desvalorização da carne brasileira reflete diretamente o apetite reduzido da China por importações, uma consequência do ritmo lento de recuperação de sua economia. Em um mercado onde o boi gordo destinado ao gigante asiático já não se destaca tanto em valor em comparação ao mercado doméstico brasileiro, a competitividade passa a ser um fator crucial.

Segundo a consultoria, a arroba do boi abatido com até 30 meses é atualmente negociada por cerca de R$ 245, enquanto os preços para o mercado interno oscilam entre R$ 240 e R$ 245 por arroba. Uma mudança significativa em relação aos tempos em que o mercado chinês era disposto a pagar mais pelo produto brasileiro.

O analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias, destaca que a reconstrução do plantel chinês de suínos, após a disseminação da peste suína africana, superou as expectativas, resultando em uma sobreoferta de carne suína local. Esta sobreoferta, por sua vez, impactou negativamente os produtores, afundando-os em uma crise de margens negativas.

Diante desse cenário, o governo chinês tomou medidas para estimular o abate de matrizes menos eficientes, buscando adequar o setor à realidade da demanda. Contudo, as consequências dessa estratégia também são sentidas pelos exportadores brasileiros, que agora se veem diante de um mercado chinês menos atrativo.

Apesar da redução nos preços e da diminuição do ágio, o presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga, ressalta que a China continua sendo o principal mercado para as exportações brasileiras, especialmente quando se leva em consideração o volume importado. Em 2023, as exportações para a China representaram 47,7% do total, totalizando 1,21 milhão de toneladas, embora tenham registrado uma queda de 3% em relação a 2022. No entanto, a receita com as exportações caiu mais expressivamente, 28%, para US$ 5,754 bilhões.

A redução do apelo da China como destino exclusivo das exportações levanta a necessidade de os frigoríficos brasileiros criarem estratégias diferenciadas. Nesse contexto, a abertura de mercados “premium”, como Japão e Coreia do Sul, surge como uma oportunidade promissora. As tratativas com a Coreia do Sul estão mais avançadas, e um bom desempenho nesse mercado pode ser crucial para conquistar a confiança dos japoneses.

No médio prazo, os analistas acreditam que o preço do boi gordo brasileiro dificilmente retornará aos patamares acima de R$ 300 por arroba. Prevê-se que os preços possam cair um pouco mais no segundo trimestre, antes de uma possível recuperação nos últimos seis meses do ano, alcançando valores em torno de R$ 270 e R$ 280 por arroba.

Além disso, fatores como os preços do milho exercem uma influência significativa sobre a oferta de boi gordo. A relação de troca entre boi e milho pode limitar a oferta de gado no segundo semestre, especialmente considerando uma possível redução da área da safrinha. A oferta de bezerros também surge como um ponto de atenção, com abates significativos de vacas nos últimos anos e uma redução nos investimentos em Inseminação Artificial de Tempo Fixo (IATF).

Yago Travagini, líder de proteína animal da consultoria Agrifatto, destaca que a produção interna tende a permanecer estável este ano, com um crescimento estimado em apenas 0,2%, embora sobre uma base comparativa bastante alta devido ao recorde alcançado em 2023.

Um possível ponto de equilíbrio pode residir na melhora da economia nacional, com taxas de juros em queda, o PIB crescendo acima das expectativas há três anos e o governo aumentando os gastos. Esses fatores, teoricamente, poderiam impulsionar a demanda interna, proporcionando um alívio para o setor de carne bovina brasileiro.

Em resumo, enquanto a China deixa de ser uma opção óbvia para os exportadores brasileiros, novas oportunidades surgem em mercados premium. A capacidade de adaptação e a criação de estratégias diferenciadas serão cruciais para que o setor de carne bovina do Brasil se mantenha resiliente em meio a um cenário global dinâmico e desafiador.

Escrito por Compre Rural.

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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