Carne bovina brasileira, em processo de “transição”, está no centro de um debate global

Setor pecuário do Brasil reconhece desafios ambientais, defende rastreabilidade e busca conciliar produção de alimentos com preservação das florestas tropicais; Cenário coloca a indústria de carne bovina brasileira, em processo de “transição”, no centro de um debate global sobre o desmatamento.

A relação entre a produção de carne bovina no Brasil e o desmatamento voltou ao centro das discussões internacionais. O tema foi amplamente debatido durante o Oslo Tropical Forest Forum, realizado entre os dias 25 e 27 de junho, na Noruega, evento que reuniu lideranças políticas, instituições financeiras globais, investidores internacionais e representantes de povos indígenas para discutir caminhos concretos para a proteção das florestas tropicais. As informações foram publicadas no portal da revista Beef, pelo jornalista Clint Peck, um experiente analista do setor.

O Brasil esteve representado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que levou ao fórum uma mensagem clara: a demanda global por carne bovina seguirá em crescimento, impulsionada pelo aumento populacional e pela elevação da renda em países emergentes. O grande desafio, segundo a entidade, é equilibrar o papel do Brasil na segurança alimentar mundial com a necessidade de mitigar os impactos ambientais, especialmente no que diz respeito ao clima e à biodiversidade.

Pecuária e desmatamento: dados e contexto

Dados apresentados durante o evento apontam que o setor pecuário brasileiro é o mais associado ao desmatamento tropical, seguido pela produção de óleo de palma na Indonésia. Essa correlação, no entanto, não ignora avanços recentes. De acordo com análises citadas no fórum, o ritmo de desmatamento na Amazônia, que abrange cerca de 2,72 milhões de milhas quadradas, vem desacelerando nos últimos três anos — embora especialistas alertem que a redução pode ainda ser insuficiente frente às perdas acumuladas nas últimas décadas .

Um dos exemplos mais emblemáticos citados foi o estado de Rondônia, onde, ao longo de aproximadamente 30 anos, uma área maior que o estado norte-americano da Virgínia Ocidental foi convertida, segundo dados do Observatório da Terra da NASA, que utiliza imagens de satélite para monitorar o avanço do desmatamento .

Código Florestal e a transição do setor

Para a Abiec, esse cenário exige uma mudança estrutural na cadeia da carne brasileira. O setor defende que a transição passa, obrigatoriamente, pelo cumprimento rigoroso do Código Florestal, legislação que determina que propriedades rurais localizadas na Amazônia Legal mantenham entre 35% e 80% de suas áreas com vegetação nativa preservada, a depender do bioma e da localização .

Segundo Fernando Sampaio, diretor de sustentabilidade da Abiec, a transição não significa interromper a produção, mas sim produzir mais, com menor impacto ambiental.

“A transição na cadeia da carne brasileira significa continuar produzindo, ao mesmo tempo em que reduzimos os impactos. Para isso, é fundamental combater o desmatamento ilegal e promover a plena implementação do Código Florestal”, afirmou o executivo durante o evento .

Rastreabilidade como pilar ambiental e sanitário

Outro ponto central defendido pela entidade foi o avanço da rastreabilidade na pecuária. De acordo com a Abiec, o rastreamento dos animais não apenas amplia as garantias ambientais, como também fortalece os requisitos sanitários e fitossanitários exigidos pelos mercados internacionais, condição essencial para a manutenção e ampliação das exportações brasileiras .

Além disso, o setor reconhece que ganhos de eficiência produtiva são decisivos para reduzir emissões e pressão sobre novas áreas. “O mercado é um forte indutor de eficiência”, destacou Sampaio, ao defender que atrair investimentos é crucial para elevar a produtividade e reduzir emissões ao longo de toda a cadeia .

Dia Mundial do Meio Ambiente: O papel sustentável da agropecuária - Carne bovina brasileira
Foto: Silver Consultoria Pecuária / Roberto Silveira

Desafio da imagem e papel do financiamento internacional

Apesar dos avanços, a Abiec reconhece que a pecuária brasileira ainda enfrenta resistência no mercado financeiro internacional, que vê o setor como de alto risco ambiental. Para Sampaio, essa percepção precisa ser revista.

“Essa imagem precisa ser desconstruída”, afirmou, acrescentando que países e organizações capazes de mobilizar recursos públicos e privados para a proteção florestal também deveriam apoiar financeiramente a transição da produção pecuária, colocando o produtor rural no centro das soluções .

Debate global e responsabilidade compartilhada

O debate realizado em Oslo evidencia que a discussão sobre carne bovina e desmatamento não se limita ao Brasil, mas faz parte de um desafio global que envolve consumo, investimentos, políticas públicas e responsabilidade compartilhada entre produtores, governos e mercados internacionais.

O conteúdo integra a série Global Beef, produzida pela Beef Magazine, que analisa sistemas de produção de carne ao redor do mundo a partir de uma perspectiva comparativa, destacando desafios e oportunidades em um mercado global cada vez mais competitivo e pressionado por critérios ambientais.

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