Preço do leite ao produtor recua pelo oitavo mês seguido, pressionado por oferta elevada, importações em patamar alto e margens cada vez mais apertadas na cadeia láctea
O mercado de leite encerra mais um mês marcado por forte desvalorização ao produtor, confirmando uma tendência que já se arrasta ao longo de 2025. Pelo oitavo mês consecutivo, o preço do leite pago ao produtor caiu na chamada “Média Brasil”, reflexo direto de um cenário de abastecimento elevado, estoques crescentes e dificuldades de escoamento dos derivados no mercado interno. Os dados são do Cepea, da Esalq/USP, referência nacional no acompanhamento da cadeia leiteira.
Segundo o levantamento, o leite captado em novembro de 2025 foi comercializado, em média, a R$ 2,1122 por litro, considerando a Média Brasil líquida, que engloba os estados da BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS. O valor representa uma queda de 8,31% em relação a outubro de 2025 e um recuo ainda mais expressivo de 23,3% na comparação com novembro de 2024, em termos reais — os preços foram deflacionados pelo IPCA de novembro/25.
Com esse resultado, o setor acumula uma queda real de 21,2% nos preços ao produtor na parcial de 2025, evidenciando um ano desafiador para quem está no campo.
Oferta elevada sustenta pressão sobre o preço do leite pago ao produtor
A principal explicação para as consecutivas baixas está no aumento expressivo da oferta de leite ao longo do ano. De acordo com projeções do Cepea, 2025 deve ser encerrado com crescimento médio de 7% na captação industrial, alcançando um recorde histórico de 27,14 bilhões de litros.
Esse avanço foi impulsionado, principalmente, por investimentos realizados em 2024, que ampliaram a capacidade produtiva, e por condições climáticas mais favoráveis em 2025, sobretudo no Sudeste e Centro-Oeste. Nessas regiões, o clima estimulou a produção, enquanto, no Sul, a tradicional queda sazonal nesta época do ano foi menos intensa do que o esperado.
Os números confirmam esse movimento. Entre outubro e novembro, o ICAP-L (Índice de Captação de Leite) avançou 1,61% na Média Brasil, acumulando alta de 15,9% no ano, sinalizando um fluxo contínuo de leite para a indústria.
Importações seguem elevadas e exportações perdem força
Além da produção doméstica robusta, a disponibilidade de lácteos no mercado brasileiro segue reforçada pelas importações, que, embora tenham registrado queda de 14,8% em novembro, continuam em patamares elevados. Na parcial de 2025, o Brasil internalizou quase 2,05 bilhões de litros em equivalente leite (Eql), volume apenas 4,8% menor que o registrado no mesmo período de 2024 — ano que ficou marcado por recorde histórico de importações.
No sentido oposto, as exportações brasileiras de lácteos perderam força. Na comparação anual, os embarques recuaram 33%, somando apenas 62,4 milhões de litros Eql na parcial do ano, o que reduz ainda mais as alternativas de escoamento da produção excedente.
Estoques cheios pressionam derivados e margens da indústria
Agentes do mercado relatam um aumento considerável dos estoques de lácteos, tanto na indústria quanto nos canais de distribuição. Com o mercado amplamente abastecido, as negociações de derivados passaram a ocorrer sob forte pressão, comprometendo as margens dos laticínios.
Levantamento do Cepea, realizado com apoio da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), mostra que, em novembro, os principais derivados negociados no atacado paulista registraram novas desvalorizações, todas em termos reais:
- Queijo muçarela: queda de 3,7%, com preço médio de R$ 28,99/kg
- Leite UHT: recuo de 11,1%, passando para R$ 3,59/litro
- Leite em pó: baixa de 2,9%, com média de R$ 28,57/kg
Esses movimentos reduzem a capacidade da indústria de pagar mais pelo leite cru, reforçando o ciclo de pressão sobre o produtor.
Rentabilidade do produtor de leite segue comprometida
Com o repasse das quedas dos derivados ao preço do leite cru, a receita do produtor continua encolhendo, ao mesmo tempo em que os custos de produção seguem elevados. Embora o preço da ração tenha recuado 0,63% em novembro, o Custo Operacional Efetivo (COE) avançou 0,22%, puxado pela valorização de outros insumos da atividade.
O cenário ficou ainda mais desafiador com a alta do milho, insumo essencial na alimentação do rebanho. Em outubro, foram necessários 28,4 litros de leite para a compra de uma saca de 60 kg de milho, o que representa alta de 7,1% frente a setembro e de 2,3% em relação à média dos últimos 12 meses (27,8 litros).
Perspectivas exigem cautela
Os resultados reforçam um ambiente de perda de rentabilidade no campo e de cautela crescente nos investimentos. Segundo analistas, a tendência é que esse quadro provoque uma desaceleração gradual da produção nos próximos meses, à medida que produtores ajustem o ritmo da atividade para tentar equilibrar custos e receitas.
Enquanto isso, o setor leiteiro segue atento à evolução do consumo interno, ao comportamento das importações e à capacidade de a indústria reduzir estoques — fatores que serão decisivos para definir quando, e em que intensidade, o mercado poderá ensaiar uma reversão desse ciclo de desvalorização.
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