Em busca da carcaça perfeita: Qual o segredo do undecacampeão em concurso?

Mas, afinal, qual o segredo para manter-se por mais de dez anos produzindo carcaças que gabaritam todos os itens do padrão Angus de qualidade?

Quem ganha um campeonato onze vezes é o quê? A gente lembra, claro, quem ganha duas vezes é bicampeão, quem ganha três vezes é tricampeão — isso não se escreve com hífen, tudo junto. E quem ganha onze vezes pode escolher. Pode adotar o elemento latino undeca, que começa com “u”, ou o elemento grego hendeca, que começa com “h”. Mas seja undecacampeão ou hendecacampeão, o fato é que manter-se no topo por tanto tempo exige muito mais do que sorte: demanda investimento, disciplina, genética e padronização.

No Brasil da pecuária, especialmente diante da concorrência internacional e dos requisitos cada vez mais rígidos de qualidade, é fundamental que o pecuarista melhore não só o peso, mas a qualidade e a padronização das carcaças bovinas abatidas.

Um animal que atenda ao padrão exigido — em acabamento de gordura, rendimento de carcaça, idade de abate, uniformidade — tem potencial para remuneração superior. Isso porque frigoríficos e programas de carne premium, como o Angus, valorizam não apenas a quantidade, mas o cumprimento de requisitos estéticos e zootécnicos que impactam sabor, maciez, segurança alimentar e rastreabilidade.

E é justamente nesse cenário que se destaca a Agropecuária Maragogipe, de Itaquiraí (MS), que consagrou-se nesta quinta-feira (30/10) como vencedora pela 11ª vez do Concurso de Carcaça Angus de Bataguassu (MS).

Foto: Agropecuária Maragogipe

A Agropecuária colheu mais uma vitória no Concurso de Carcaça Angus ao apresentar 18 novilhas do lote 19 com médias impressionantes — 613,33 kg em peso vivo e 347,94 kg de carcaça (23,20@) — fato que reforça a capacidade de produção de carne Angus de altíssimo padrão.

Mas o que explica manter esse desempenho por tantos anos?

O grande diferencial, segundo o pecuarista Wilson Brochmann, está na combinação de genética de ponta e manejo rigoroso. Ele utilza matrizes Nelore superiores — selecionadas via Programa DeltaGen — inseminadas com touros Angus. Graças a essa estratégia genética, as fêmeas são a base do programa e permitem que o rebanho atinja precocidade e acabamento de gordura ideais.

Além disso, o manejo nutricional é cuidadosamente calculado: oferta constante de alimento balanceado no cocho, mix energético, volumosos + suplementação proteica de núcleo de excelência. Brochmann afirma que “produzir carne premium não é algo difícil. Mas exige método, disciplina e confiança em um projeto consistente de melhoramento genético.”

Outro ponto de destaque é a prococidade dos animais: em 2025, as cabeças avaliadas chegaram ao gancho aos 13 meses de idade, todas com escore 4 de acabamento — critério ideal para o Programa Carne Angus. Isso mostra não apenas eficiência genética, mas também domínio do manejo para promover crescimento rápido, acabamento adequado e padronização entre exemplares do lote.

No mesmo concurso, o lote 21 de fêmeas da Maragogipe também teve desempenho expressivo (574,44 kg vivo / 324,39 kg carcaça – 21,63@), o que teria sido suficiente para ocupar a segunda colocação, se não fosse o regulamento que exige alternância entre criadores.

Foto: Agropec. Maragogipe

Pecuária de corte em MS: pioneirismo e avanço na prococidade

O sucesso da Maragogipe se insere em um contexto mais amplo: Mato Grosso do Sul tem sido protagonista na intensificação da pecuária de corte — especialmente com a adoção de novilhos precoces, redução da idade de abate e melhor rendimento de carcaças.

Alguns números recentes reforçam essa tendência:

  • Pelo programa Precoce MS, os abates de novilhos precoces cresceram 112 % desde 2018.
  • Em 2024, entre os mais de 3,5 milhões de bovinos abatidos em MS, cerca de 40 % eram novilhos precoces — ou seja, animais jovens com melhor acabamento de carcaça.
  • A Associação Sul-Mato-Grossense de Novilho Precoce (Novilho Precoce MS) reportou aumento de abates de 55 % entre janeiro e junho de 2024, quando comparado ao mesmo período de 2023 — foram 100 mil cabeças abatidas.
  • Também consta que “metade do boi abatido por associação de MS tem média de 20 meses ou menos” (referência à Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce).

Esses dados indicam que o estado não apenas incentiva práticas de produção mais eficientes, como as consolida de forma estrutural — o que legitima vitórias recorrentes como a da Agropecuária Maragogipe.

A vitória número onze da Maragogipe no Concurso de Carcaça Angus de Bataguassu confirma que, em um mercado cada vez mais exigente, não basta produzir carne — é preciso padronizar qualidade, antecipar o ciclo produtivo, investir em genética e nutrição, e manter disciplina de manejo.

O sucesso de Wilson Brochmann serve como modelo para os pecuaristas brasileiros que desejam agregar valor à carne bovina.

Além disso, Mato Grosso do Sul consolida-se como modelo nacional no avanço da pecuária de corte intensificada — com foco na prococidade e eficiência. A tendência é que esse caminho continue, especialmente com programas públicos como o Precoce MS, que estimulam pecuaristas a reduzir idade de abate, melhorar rendimento, atender protocolos de qualidade e, por consequência, obter melhores retornos.

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