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Falta carne nos EUA e Brasil pode “dominar” mais um país

Além do Brasil ser um dos únicos países com oferta disponível para suprir a demanda mundial por carnes, o mercado brasileiro deve ser beneficiado também com a competitividade.

Enquanto sobram animais no campo, devido ao fechamento ou desaceleração de frigoríficos, falta carne em supermercados e restaurantes de fast food nos Estados Unidos. Na loja do Walmart em Champaign, no Estado de Illinois, as prateleiras estavam quase vazias no feriadão do Memorial Day, comemorado na segunda-feira (25/5).

Com escassez de produtos vindos de frigoríficos, onde pelo menos 16,6 mil trabalhadores testaram positivo para a Covid-19 até terça-feira (26/5), alguns pontos de vendas já vêm limitando a quantidade de carne por consumidor há semanas.

Foi o caso da Kroger, a maior rede de supermercados dos Estados Unidos. A Costco colocou um limite de três produtos de cada tipo de proteína animal. A Wendy’s, famosa rede de fast food, chegou a ficar sem hambúrgueres em centenas de locais.

Apesar disso, entidades representativas do setor fazem questão de ressaltar que não há falta de produto no mercado, mas sim problemas de distribuição causados por uma cadeia de suprimentos que funciona just in time – ou seja, com produtos frescos toda semana.

Qualquer percalço no caminho, portanto, desorganiza todo o abastecimento de forma imediata. Segundo informações do Midwest Center for Investigative Reporting, 197 indústrias de processamento em 32 Estados tiveram funcionários contaminados desde o início da pandemia. Pelo menos 64 trabalhadores morreram.

O abre e fecha de frigoríficos deverá reduzir em 17% a produção de carne bovina no segundo trimestre, na comparação com mesmo período do ano passado, atingindo o nível mais baixo desde 1990, segundo projeção do USDA.

De acordo com o departamento, houve queda de 21% na produção de carne bovina em abril, comparado ao mesmo mês do ano passado. Também houve redução na suína (-11%), nos frangos de corte (-2%) e nos perus (-8,3%).

“Os volumes de processamento de carne começaram a melhorar na segunda quinzena de maio e os preços no atacado começaram a cair. No momento parece que estamos nos recuperando” Jayson Lusk, chefe do Departamento de Economia Agrícola da Purdue University

Na carne suína, a estimativa é de uma diminuição de quase 9% nos abates na comparação com o segundo trimestre de 2019. Processar menos animais significa menos carne aos consumidores e também maiores preços no varejo, que atingiram níveis históricos em abril, destaca o professor Jayson Lusk, chefe do Departamento de Economia Agrícola da Purdue University.

Um relatório do banco cooperativo CoBank, publicado em maio, adverte que o suprimento de carne nos supermercados dos EUA pode encolher até 35%, os preços podem subir 20% e o impacto pode se tornar ainda mais agudo neste ano.

Com mais pessoas consumindo em supermercados, e problemas no abastecimento, as categorias de carnes, aves, peixes e ovos tiveram o maior aumento mensal, de 4,3% em abril, segundo relatório do Índice de Preços ao Consumidor do Bureau of Labor Statistic dos EUA.

Oportunidade para o Brasil

Para tentar retornar à “normalidade” o quanto antes, empresas como Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS implementaram medidas para reduzir a exposição ao vírus, instalando lâminas de plástico entre os trabalhadores na linha de produção, fornecendo máscaras e protetores faciais e medindo a temperatura diariamente dos funcionários. Mas ainda há dúvidas se as medidas serão suficientes para evitar novos surtos.

Enquanto a indústria americana luta para atender à demanda doméstica, as vendas externas desaceleraram em abril – após os Estados Unidos terem batido recorde de embarques de carne bovina e suína no primeiro trimestre.

O cenário sem precedentes causado pela pandemia levou o USDA a reduzir as projeções anuais de exportação de carnes – considerando diminuição da oferta e crescimento econômico mundial lento. Os maiores reflexos deverão ser notados mais fortemente no segundo semestre.

De janeiro a março, as exportações de carne bovina e suína atingiram níveis históricos, segundo dados do USDA, puxadas pelo espaço aberto pela peste suína africana e pelo acordo comercial fechado com a China em janeiro.

“As exportações para a China, nosso principal comprador, agregam muito valor a cada porco comercializado nos Estados Unidos” Jim Monroe, vice-presidente de Comunicação do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína

Mas com as relações estremecidas novamente com os chineses, especialmente por declarações feitas por Donald Trump, é difícil imaginar que os compromissos de compra de bilhões de dólares em produtos agrícolas e bens industriais sejam honrados ao longo do ano.

“O acordo não está sendo cumprido. Primeiro porque a China naturalmente está comprando e vendendo menos e segundo porque a guerra comercial continua, e pelo jeito não irá terminar tão cedo”, afirma Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper.

E enquanto a briga entre as duas potências econômicas persistir, acrescenta o especialista, o país alternativo para suprir a demanda mundial por alimentos é o Brasil. Jank também pondera que ainda é difícil prever qual o tamanho da brecha que poderá ser abocanhada pelo país.

“Nos últimos anos, os produtos brasileiros ocuparam o espaço deixado pelos americanos. Isso aconteceu com as carnes de frango e de gado, seja por problemas sanitários ou por medidas antidumping”
Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper

Para Carlos Cogo, sócio diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, além de o Brasil ser um dos únicos países com oferta disponível para suprir a demanda mundial por carnes, o mercado brasileiro deve ser beneficiado também com a competitividade trazida pela desvalorização do real diante do dólar.

“No mercado de carnes é possível negociar preço, existe uma flexibilidade. E com o dólar valorizado, os brasileiros têm mais margem para isso”, indica Cogo.

Em abril, quando a moeda americana aproximou-se dos R$ 6, o Brasil bateu recorde de exportações em produtos agrícolas, incluindo carnes, com destaque para a China – destino de 61% das vendas. Além disso, com o enfraquecimento da demanda interna, os produtores brasileiros precisarão colocar mais produtos no Exterior. 

Com informações do Globo Rural.

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