Pesquisas apontam que a forma “silenciosa” da doença atinge mais de 50% do rebanho e pode gerar prejuízos superiores a R$ 600,00 por animal; veja como o manejo nutricional blinda sua produção
No ciclo da pecuária leiteira, o período de transição é o “calcanhar de Aquiles” do produtor. Entre as 48 e 72 horas após o parto, o risco de a vaca não levantar acende um alerta vermelho na fazenda. O diagnóstico provável é a Hipocalcemia, popularmente conhecida como “febre do leite” ou “síndrome da vaca caída”.
Embora a imagem da vaca caída seja dramática, dados recentes mostram que o prejuízo maior está onde os olhos não veem. Segundo levantamentos compilados pelo portal especializado MilkPoint e estudos da Embrapa, a forma subclínica (sem sintomas visíveis) da doença pode acometer mais de 50% das vacas multiparas nos rebanhos brasileiros. O impacto no bolso é imediato: estima-se que cada caso subclínico custe, em média, mais de R$ 600,00, devido à queda na produção e custos veterinários, enquanto casos clínicos podem ultrapassar R$ 1.500,00 de prejuízo por animal.
Fisiologia da Hipocalcemia: O “Dreno de Cálcio”
A Hipocalcemia não é uma doença infecciosa, mas uma falha metabólica aguda. Estudos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) explicam que a produção de colostro exige uma quantidade massiva de cálcio. Para produzir apenas 10 litros de colostro, uma vaca drena cerca de nove vezes a quantidade de cálcio presente em sua corrente sanguínea.
Em condições normais, o organismo combate a Hipocalcemia liberando o hormônio paratormônio (PTH). A função do PTH é “sequestrar” cálcio dos ossos para equilibrar o sangue. Porém, em vacas de alta genética, essa demanda é tão violenta que o mecanismo trava, gerando o quadro de Hipocalcemia aguda.
Dado de Pesquisa: Animais afetados pela doença têm 3,7 vezes mais chances de desenvolver deslocamento de abomaso e reduzem em até 14% a produção total de leite na lactação (Fonte: Journal of Dairy Science).
Sintomas da Hipocalcemia: Do tremor ao risco de morte
Identificar a Hipocalcemia exige olhar clínico treinado, pois ela evolui rapidamente. O produtor deve estar atento a três estágios principais:
- Estágio 1 (Excitação): O animal ainda está em pé, mas apresenta tremores musculares e ataxia, sinais iniciais de Hipocalcemia.
- Estágio 2 (Decúbito Esternal): A vaca deita e não levanta. Surge o sinal clássico de auto auscultação (cabeça apoiada no flanco), indicando agravamento da Hipocalcemia.
- Estágio 3 (Coma): O animal entra em decúbito lateral, perde a consciência e corre risco iminente de morte por parada cardiorrespiratória.
Como prevenir a Hipocalcemia: Protocolo Nutricional

Especialistas são unânimes: o tratamento é emergencial, mas o lucro está na prevenção da Hipocalcemia. O protocolo moderno se baseia em dois pilares:
1. Dieta Aniônica contra a Hipocalcemia
Oferecida nos 30 dias pré-parto, essa dieta foca na redução do Potássio (K) e uso de sais aniônicos. Isso cria uma leve acidose metabólica que “treina” o organismo da vaca para mobilizar o cálcio, evitando a Hipocalcemia no momento crítico.
2. Reposição Oral Imediata (Drench)
A estratégia mais eficaz pós-parto é o fornecimento de cálcio de absorção rápida. Tecnologias como o Power Drench são essenciais para combater a Hipocalcemia imediatamente após o nascimento do bezerro.
A recomendação técnica é diluir 1 kg do produto em 20 litros de água morna. Essa prática ataca a Hipocalcemia em três frentes:
- Correção Mineral: Repõe o cálcio rapidamente.
- Balanço Energético: Combate a cetose secundária.
- Fator Mecânico: O volume de líquido ajuda a prevenir o deslocamento de abomaso.
Investir no manejo preventivo da Hipocalcemia blinda o patrimônio do produtor e garante a longevidade do rebanho.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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