Alta na entrada de produtos lácteos com a crescente importação de leite pressiona preços internos e expõe fragilidades da cadeia leiteira nacional
O mercado brasileiro de leite vive um momento de atenção redobrada. A combinação entre produção doméstica em expansão, demanda interna enfraquecida e avanço das importações tem colocado forte pressão sobre os preços pagos aos pecuaristas, gerando preocupação em toda a cadeia da pecuária leiteira.
Segundo análise da Scot Consultoria, publicada na Carta Leite – Importação de leite cresce e acende alerta, o cenário atual reúne fatores internos e externos que ajudam a explicar o desequilíbrio entre oferta e consumo, com impacto direto no bolso do produtor e na competitividade da atividade.
Oferta crescente e demanda enfraquecida ampliam o desequilíbrio
De acordo com dados do IBGE, a produção inspecionada registrou alta de 6,9% no primeiro semestre de 2025, enquanto a captação formal aumentou 10,3% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2024, considerando dados parciais. Essa evolução da oferta ocorre em um momento em que o consumo interno não cresce no mesmo ritmo, especialmente em razão do enfraquecimento do poder de compra das famílias.
O resultado direto é a queda consecutiva no preço do leite pago ao produtor, tema que tem dominado análises e noticiários do agro.
Importações de leite crescem e ampliam a pressão sobre o mercado
Em meio à maior oferta doméstica, as importações voltaram a ganhar força nos últimos meses, tornando-se um dos elementos centrais da crise de preços. Entre setembro e outubro, o volume importado de lácteos cresceu 21,1% e 8%, respectivamente, na comparação mês a mês. Os principais fornecedores continuam sendo Argentina e Uruguai, países que tradicionalmente ocupam posição relevante no abastecimento externo brasileiro.
O leite em pó correspondeu, em média, a 72,5% de todos os lácteos importados pelo Brasil no período — reforçando sua centralidade na formação de preços do setor. Na imagem da página 2, observa-se que a importação voltou a níveis registrados no início do ano, impulsionada sobretudo pelo custo competitivo do produto externo.
Por que o leite importado está tão competitivo?
Preços internacionais mais baixos
O preço médio do leite em pó importado em setembro e outubro foi de US$ 3,79/kg. Para comparação, o mesmo produto no atacado brasileiro custava R$ 30,84/kg, equivalente a US$ 5,74, considerando câmbio médio de R$ 5,38. Assim, o leite importado chegou a custar 29,6% menos que o nacional.
Desvalorização do real
Com o câmbio mais elevado, produtores vizinhos se tornam ainda mais competitivos, fortalecendo o fluxo de entrada de lácteos no país.
Perspectivas: importação tende a perder força, mas cenário ainda é desafiador
Apesar do aumento recente, o volume total importado de leite em pó de janeiro a outubro ficou 0,8% abaixo do registrado no mesmo período de 2024. Entretanto, o cenário futuro ainda inspira cautela.
Mercado internacional em queda
A plataforma Global Dairy Trade, principal balizadora global de preços, mostra recuo nas projeções futuras para o leite em pó, reflexo de uma maior oferta mundial. Embora a demanda global esteja maior que a do ano passado, ela ainda não é suficiente para equilibrar oferta e consumo.
Fatores internos podem conter novas compras externas
Três elementos devem limitar a importação nos próximos meses:
- Retomada das chuvas, que tende a melhorar a oferta de pastagens.
- Crescimento contínuo da produção nacional, reduzindo a necessidade de complementação externa.
- Medidas indiretas adotadas por alguns estados, que influenciam o fluxo de lácteos importados e desestimulam novas compras.
O aumento das importações de lácteos, especialmente de leite em pó, acende um alerta importante para o setor leiteiro brasileiro. A competitividade dos produtos estrangeiros, aliada à demanda interna desaquecida e à maior oferta doméstica, coloca o produtor em uma situação delicada.
Embora a tendência seja de redução na necessidade de importações ao longo dos próximos meses, o mercado permanece sensível, e o comportamento dos preços continuará dependendo do equilíbrio entre produção, consumo e fluxo externo.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.