J&F, o Império dos Batista: como um açougue em Goiás virou o maior conglomerado privado do Brasil

Com receita de R$ 434 bilhões, nove empresas e presença em 23 países, o grupo J&F aposta em energia nuclear, celulose, mineração e fintechs, mantendo o foco em decisões rápidas, custos baixos e expansão estratégica.

Um conglomerado construído sobre carne, disciplina e instinto. Tudo começou em 1953, quando José Batista Sobrinho, o “Zé Mineiro”, abriu um açougue em Anápolis (GO). Décadas depois, os filhos Joesley, Wesley e Júnior transformariam esse pequeno negócio no maior conglomerado privado do Brasil: a J&F, holding que comanda gigantes como JBS, Eldorado, Banco Original, PicPay, Âmbar Energia, Canal Rural, Flora, Lhg Mining e Fluxus. As informações foram divulgadas recentemente pelo portal InvestNews.

Com mais de R$ 434 bilhões em faturamento e 300 mil funcionários, a J&F se consolidou como símbolo de um modelo de gestão fundamentado em três pilares: decisões rápidas, baixo custo e escalada eficiente — lógica que permeia desde a compra de frigoríficos em crise até sua recente incursão no setor de energia nuclear.

A fórmula dos Batista: aprender fazendo, crescer escalando

Na J&F, o tradicional processo de “due diligence” é substituído por uma abordagem direta. Os irmãos Batista priorizam três elementos: custo fixo, margem operacional e estrutura de capital. Negócios são adquiridos com base nesses fundamentos e ganham corpo com uma gestão disciplinada que já provou seu valor em diversas frentes.

O grupo raramente entra com força total em um novo setor. Primeiro, entende as engrenagens. Depois, investe pesado. Foi assim com a Âmbar Energia, que começou com uma termelétrica problemática em Cuiabá (MT) e hoje controla quase 50 usinas, incluindo a recente entrada na Eletronuclear, tornando-se sócio do governo nas usinas de Angra.

Diversificação além da proteína

Se a JBS consolidou o império no mercado global de carne, as demais investidas da J&F revelam sua obsessão por diversificação. A Flora, por exemplo, nasceu do reaproveitamento de sebo bovino. A Eldorado Brasil foi fundada para abastecer caldeiras de eucalipto e acabou transformando o grupo em um player da celulose. O Banco Original e o PicPay surgiram para atender à escassez de crédito no agronegócio e ao boom das fintechs.

Essa diversificação é uma forma de blindar o grupo da volatilidade de setores como o de proteína animal, que tem margens apertadas e sofre com instabilidades globais. Energia, celulose, finanças e mineração oferecem margens mais robustas e estabilidade ao portfólio, dizem fontes ouvidas pelo InvestNews.

Crises, reestruturações e retomada com foco em infraestrutura

Após o escândalo da Lava Jato e a delação premiada de Joesley e Wesley Batista em 2017, a J&F enfrentou seu maior baque. Vendeu ativos como Alpargatas, Vigor e parte da Eldorado. Mas a crise serviu como recomeço. A partir de 2020, o grupo focou no setor de infraestrutura — energia, mineração e petróleo — com aquisições ousadas como a Fluxus (petróleo e gás) e a Lhg Mining (minas da Vale em Corumbá-MS).

O passo mais simbólico foi a recompra dos 49% da Eldorado que estavam nas mãos da Paper Excellence, encerrando uma disputa bilionária e retomando o controle da operação.

Governança familiar e sucessão estratégica

Joesley e Wesley dividem o comando com perfis complementares: o primeiro é o articulador político e negociador; o segundo, o executor com profundo conhecimento de chão de fábrica. A próxima geração já se movimenta nos bastidores: Wesley Filho (JBS nos EUA), José Antônio Batista Costa (Banco Original/PicPay), Aguinaldo Ramos Filho (J&F/Globe/VL Holding) e Murilo Moita Batista (já atuou na Flora, JBS e Original).

A governança é marcada por um pacto silencioso: as decisões são internas e inquestionáveis após tomadas. Executivos de fora compõem as diretorias, mas a presidência das empresas geralmente permanece próxima da família.

Energia nuclear: o salto mais ousado

O investimento de R$ 535 milhões na participação da Eletronuclear, que opera as usinas de Angra, marca a entrada da J&F em um setor de altíssimo capital político e técnico. É também a maior prova de maturidade da Âmbar como player energético. Hoje, a empresa não escolhe fontes: se o ativo for estratégico, com boa margem e preço baixo, entra no radar.

Do açougue ao mundo

Com presença em 23 países, a J&F se transformou em um símbolo do capitalismo brasileiro. O grupo que nasceu da carne hoje fala de ESG, energia limpa, digitalização e geopolítica energética — mas sem perder a essência forjada no varejo de Anápolis. Um império que não para de crescer, mesmo sob as turbulências da política e dos mercados.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM