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Manejo garante ganho de até 1,2 kg por animal/dia, veja!

Pasto sobre Pasto garante estabilidade na produção de forragem e minimiza vazios forrageiros. Confira os ganhos obtidos!

Mesclar plantas forrageiras na mesma área, iniciando um novo ciclo de crescimento do pasto sobre outro ciclo, sem remover as diferentes forrageiras em produção. Essa é a lógica do Pasto sobre Pasto, um conceito de produção para alimentação animal que começa a ser difundido por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no sul do Brasil. A novidade possibilita maior estabilidade na oferta de forragem ao longo do ano, principalmente nos críticos períodos de transição entre as estações frias e quentes do ano, quando ocorrem os conhecidos vazios forrageiros. 

Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Danilo Sant’Anna, as condições ambientais de cada lugar podem proporcionar produção de forragem em excesso em alguns momentos, e escassez em outros. “O clima, a escolha das cultivares, a forma e o momento do plantio são alguns dos fatores que influenciam na maior ou menor estabilidade da oferta de pasto ao longo do ano. Isto é, na existência ou não e na duração dos conhecidos vazios forrageiros”, comenta. 

Com as estações do ano bem definidas, a Região Sul do Brasil é privilegiada por possibilitar grande diversidade forrageira nas estações frias e também nas estações quentes do ano. “Se por um lado é positivo termos grande diversidade e alternativas de pastagens, tanto de espécies cultivadas quanto nativas do bioma Pampa, por exemplo, por outro lado, isso impõe certa complexidade ao sistema diante de um grande desafio que é produzir pasto o ano todo”, complementa a pesquisadora Márcia Silveira, da Embrapa Pecuária Sul. 

Essa complexidade se dá justamente pelas inúmeras possibilidades de tipos de forrageiras possíveis de se usar na região, associadas à dificuldade por parte do produtor em manejar adequadamente as plantas, desde seu plantio até o uso da área pelos animais. Soma-se a isso, ainda, a ação de eventos climáticos como el Niño e la Niña, que frequentemente acometem a Região Sul, impactando a produção ao longo dos ciclos de produção de inverno e verão, bem como os períodos de transição entre as estações quentes e frias do ano, quando ocorrem os vazios forrageiros. 

Pasto 365 dias do ano

Justamente buscando reduzir ou eliminar esses períodos de vazio forrageiro, que são agravados pelos efeitos dos fenômenos el Niño e la Niña, pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul vêm trabalhando com o conceito de Pasto 365 dias do ano, que direciona o planejamento forrageiro para obter o maior número de dias com pastejo, em cada metro quadrado da propriedade e na maior área útil possível que não esteja sendo usada com uma lavoura. “Para isso, é preciso maximizar e alongar a produção das diferentes forrageiras, trabalhando também nos períodos de transição, com um conjunto de técnicas que expressam o conceito de produção chamado de Pasto sobre Pasto”, destaca Sant’Anna. 

O Pasto sobre Pasto, como o próprio nome diz, baseia-se, portanto, no aumento da diversidade forrageira e na sobreposição de plantas forrageiras com características que se complementam. “A ideia é ter, ao mesmo tempo, mais de uma forrageira na mesma área, sobrepondo, no caso do sul do Brasil, forrageiras da estação fria com forrageiras da estação quente e vice-versa”, explica Márcia. 

Períodos do vazio

Basicamente são três os principais períodos de vazio: quando a curva de produção das forragens de verão está caindo e as forragens de inverno ainda não se estabeleceram completamente; quando a curva de produção das forragens de inverno está caindo e as de verão ainda não se estabeleceram; e o terceiro momento ocorre quando a propriedade trabalha na integração com as lavouras de verão, como a soja, e utiliza uma parte significativa de sua área com essas lavouras, causando um desbalanço na oferta total de forragem do sistema, principalmente no período de verão.

Diversas opções de forrageiras

Diversas são as mesclas forrageiras possíveis dentro desse conceito. Nos trabalhos conduzidos na Embrapa Pecuária Sul, um dos consórcios mais usados foi com três cultivares lançadas pela Embrapa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Associação Sul-brasileira para o Fomento de Pesquisa em Forrageiras (Sulpasto): azevém BRS Ponteio, trevo-branco BRS URS Entrevero e capim-sudão BRS Estribo. Esses materiais vinham sendo utilizados de forma isolada ou dentro dos consórcios convencionais (azevém + trevo). “O ponto inicial para o uso dessas cultivares no Pasto sobre Pasto foi, a partir do conhecimento das características de cada material, vislumbrar oportunidade de complementariedade entre eles e então iniciar a condução de trabalhos com as mesclas nos ciclos de inverno e verão da região, em sucessão e sem o uso de dessecação”, conta Márcia. 

Resultados 

Ao longo de dois anos, entre 2016 e 2017, os pesquisadores da Embrapa compararam uma área onde foram aplicados os pilares do Pasto sobre Pasto (mescla de azevém, trevo-branco e capim-sudão) com uma área-testemunha, onde foram realizadas práticas convencionais de dessecação da área antes da implantação da forrageira da estação e uso de pastagens monoespecíficas (azevém no inverno e capim-sudão no verão).  

No caso da pastagem de inverno (azevém) implantada de forma convencional, o ganho individual médio dos animais até setembro era de 970 g por dia, em outubro o ganho individual médio foi para 470 g por dia, o que baixou a média geral para 870 g/animal/dia. Na pastagem com a mescla forrageira de inverno (azevém + trevo-branco + capim-sudão em fim de ciclo), os ganhos foram mais estáveis até o fim da condução da fase inverno do trabalho, o que garantiu uma maior média de ganho de peso, chegando a mais de 1 kg/animal/dia. 

“A capacidade de suporte, portanto, da pastagem consorciada no sistema Pasto sobre Pasto foi maior em relação ao sistema convencional. Isso tanto para a fase hibernal como para a fase estival, o que proporcionou um melhor resultado produtivo para o sistema proposto. A contribuição do trevo-branco no fim do ciclo do azevém foi o que provavelmente proporcionou ganhos em torno de 1 kg por animal/dia até o fim do ciclo”, explica Sant’Anna. 

Enquanto no sistema convencional o ganho individual médio foi de 970 g por dia, no Pasto sobre Pasto esse número ultrapassou os 1,2 kg por animal/dia

Os ganhos na fase de verão também chamam a atenção, principalmente nas mesclas forrageiras. Enquanto no sistema convencional o ganho individual médio foi de 970 g por dia, no Pasto sobre Pasto esse número ultrapassou os 1,2 kg por animal/dia. “É possível observar a influência que o trabalho com pastagens mistas pode ter no produto que nos remunera o sistema, ou seja, no ganho de peso individual e por área dos animais”, conclui Márcia.

Conceito aberto

O Pasto sobre Pasto não é um modelo pronto, e deve ser pensado e trabalhado como um conceito, respeitando as especificidades de cada propriedade e região. Cabe ao produtor, assessorado por um técnico, decidir quais as melhores opções para suprir as necessidades de forragem do rebanho no seu sistema de produção.  “Principalmente nas áreas de integração lavoura-pecuária em terras baixas, nos experimentos realizados na Embrapa, usamos essas três plantas (azevém, trevo-branco e capim-sudão), mas o produtor deve buscar entender quais mesclas são possíveis para a sua propriedade”, reforça Danilo Sant’Anna. Dentro dessa lógica, esse é um conceito que pode ser adaptado e aplicado em propriedades de todo o Brasil.

Principais Pilares

Os pilares do Pasto sobre Pasto baseiam-se em algumas premissas, que servem como guia geral para o produtor: 

– conhecimento das condições de clima e solo da região e de cada potreiro do sistema de produção, pois elas influenciam diretamente na produção de forragem e nas possibilidades de sucesso de cada mescla forrageira proposta;

– conhecimento das características das diferentes forrageiras buscando sinergia e complementaridade entre as espécies e/ou cultivares usadas;

– manejo estratégico do uso do pasto com as mesclas forrageiras ao longo do ciclo e nos períodos de transição (fim do ciclo de uma cultura e início da cultura em sucessão); 

– implantação de espécies sem uso de dessecação e sem revolvimento do solo, a fim de não ser interrompido nenhum ciclo de produção;

– adoção da técnica chamada de dessecação pré-plantio quando se trabalha com lavouras de grãos e há necessidade de usar herbicidas dessecantes para implantar a lavoura. A operação é realizada um dia antes ou muito próximo do plantio da lavoura, a fim de se ter o máximo de tempo possível de pastejo na área antes de plantar a lavoura;

– nutrição adequada e direcionada, a fim de suprir as necessidades de nutrientes para o desenvolvimento de todas as espécies forrageiras envolvidas nas mesclas. 

É fundamental para o sucesso do Pasto sobre Pasto que nenhuma planta sofra qualquer tipo de restrição, como por exemplo de disponibilidade de água, principalmente no momento do estabelecimento da mescla forrageira. É crucial, ainda, a realização de manejos específicos antes da introdução das forrageiras da estação, como o rebaixamento prévio das plantas com o aumento da carga animal, por exemplo. 

Todos esses manejos necessários para trabalhar o conceito estão descritos na Circular Técnica 52, lançada em 2019 pela Embrapa. 

Fertilidade do solo também é melhorada

Outro importante benefício do Pasto sobre Pasto é que ao mesmo tempo em que se estabiliza e intensifica a oferta de forragem aos animais, também se proporciona o mesmo com relação à oferta de biomassa vegetal para a microbiota do solo. Nos períodos de falta de forragem, além de haver redução da oferta de alimentos aos animais, reduz-se concomitantemente os processos de melhoria das condições de fertilidade do solo, relacionados com a maior ou menor atividade da microbiota do solo. 

“Em outras palavras, ao ocorrer períodos de vazios forrageiros e/ou reduzido crescimento de pastos e raízes, perdemos tempo e oportunidades de melhorar também os solos. Com a estabilidade proporcionada pelo Pasto sobre Pasto, temos mais tempo de planta verde e raiz crescendo, e isso proporciona mais alimento tanto para os animais como para a microbiota do solo, que, a partir dessa biomassa, forma agregados de solo, matéria orgânica e, por fim, melhora acentuadamente suas condições de fertilidade e vida”, explica Sant’Anna. 

Além da melhor distribuição de forragem ao longo do tempo e da melhoria da qualidade do solo, outro benefício que se observa no uso de forrageiras em sucessão no sistema Pasto sobre Pasto é o auxílio e contribuição da mescla forrageira para o controle de diferentes plantas invasoras.

“A área com forrageiras consorciadas apresentou apenas 16% de cobertura do solo por plantas indesejáveis (predominantemente milhã) quando comparado a 51% da área só com a forrageira de verão. Tal fato pode ser explicado pela maior cobertura do solo – 94% em comparação a 61% de cobertura na área dessecada para plantio da forrageira na forma de pasto monoespecífico. Logo, a presença de plantas desejáveis (como o trevo-branco) no momento do plantio do capim-sudão reduziu a possibilidade de surgimento de plantas indesejáveis na área”, explica a pesquisadora.

Inspiração no Pampa

O Pasto sobre Pasto busca mimetizar, mesmo que de forma reducionista, o que ocorre naturalmente nos campos nativos do bioma Pampa e de toda a região sul da América do Sul, onde espécies campestres de gramíneas e leguminosas, de inverno e de verão, forrageiras ou não, coexistem na mesma área, no mesmo metro quadrado e ao mesmo tempo, enriquecendo e diversificando a oferta de alimentos aos animais, e dessa forma, proporcionando mais segurança, estabilidade e resiliência ao sistema de produção. 

“A sobressemeadura de azevém e outras espécies de inverno sobre o campo nativo, em uma técnica chamada de melhoramento de campo nativo, já praticada por produtores da região, é um exemplo clássico de Pasto sobre Pasto e serviu como uma das inspirações para adaptar o conceito a outras espécies e cadeias forrageiras”, destaca Sant’Anna. 

Assim, a partir da observação da coexistência natural entre diferentes espécies na vegetação campestre do sul do Brasil, passou-se a utilizar espécies cultivadas e diferentes materiais forrageiros disponíveis para compor mesclas forrageiras não convencionais com características complementares e adequadas a diferentes sistemas de produção agropecuários.

“Isso com o objetivo de sobrepor ciclos de crescimento de verão e inverno de diferentes plantas, sem remover uma para plantar outra. Desse modo, se explora a sinergia e complementariedade de ciclos e características entre as plantas na comunidade vegetal da pastagem, de forma a se ter uma melhor distribuição de forragem ao longo do ano”, finaliza o pesquisador. 

Fonte: Embrapa

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